Até grandes bancos reconhecem que juros básicos arrastam economia para o buraco
Lauro Veiga
Há
uma nova corrida em marcha dos departamentos econômicos dos grandes bancos para
revisar as projeções de curto prazo para a economia, com foco preferencial
neste ano, mas com reflexo também sobre o ritmo da atividade em 2020. No
momento atual, arriscar qualquer coisa para o próximo ano parece um risco
excessivo, neste caso, em função quase exclusivamente das surpresas que o
cenário político poderá trazer, dada a instabilidade predominante no Planalto
Central do País. Nada parece assegurar, até aqui, que a política e a economia,
numa sequência lógica, não venham a descarrilhar de vez.
Diante
das incertezas e da teimosia burra da equipe econômica e do Banco Central (BC)
ao persistir, no primeiro caso, numa política de ajuste fiscal a ferro e a fogo
e insistir, no segundo, numa política monetária suicida, as estimativas para o
desempenho da economia no primeiro trimestre e ao longo do restante do ano vêm
murchando drasticamente. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) divulga os resultados do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro
trimestre de 2019 no próximo dia 30, última quinta-feira de maio, e as
projeções sugerem novo recuo para a atividade, o que deverá complicar as
chances de uma retomada mais pronunciada e relevante ainda neste ano.
A
equipe econômica, incluindo desta vez também o pessoal do BC, acredita que o
PIB deverá esboçar reação mais acentuada no segundo semestre. Para que isso
venha a ocorrer, no entanto, a política econômica teria que sofrer uma guinada
nem sequer esboçada pelo Ministério da Economia a esta altura. Ao contrário. As
manifestações mais recentes de porta-vozes da equipe antecipam nova rodada de
arrocho nas despesas, conforme já anotado neste espaço, enquanto o BC não
demonstra qualquer intenção de reavaliar a política de juros. E, no entanto,
até grandes bancos passam a questionar a diretriz estabelecida pelo Comitê de
Política Monetária (Copom) para os juros básicos.
“Âncora
negativa”
De
fato, a equipe de macroeconomia do Itaú BBA e economistas independentes apontam
o nível atual dos juros como, senão o mais importante, pelo menos como um dos
fatores a amarrar o crescimento econômico, numa espécie de “âncora negativa”,
para fazer referência a uma termologia que já foi muito cara a analistas e
comentaristas mais ligados ao sistema financeiro. Entre outros motivos, aqueles
setores consideram que a taxa de juros “de equilíbrio” ou “neutra” (quer dizer,
que ajudariam a segurar os preços sem penalizar a atividade econômica, abrindo
espaço para algum crescimento) hoje está mais baixa do que no passado recente,
o que recomendaria novos cortes na taxa básica – argumento também já explorado
pela coluna em outras edições.
Balanço
·
Os
indicadores da atividade econômica em março convenceram a equipe de economistas
e analistas do Itaú BBA a revisar novamente para baixo a estimativa para o PIB
do primeiro trimestre deste ano, que passou de redução de 0,1% para baixa de
0,2% na comparação com o quarto trimestre de 2018, no dado já dessazonalizado
(quer dizer, já descontando os efeitos das festas de fim de ano, feriados e
outros eventos sobre a atividade econômica nos dois períodos).
·
O
banco levou em conta a queda de 1,3% na produção industrial entre fevereiro e
março deste ano, a queda no índice de confiança empresarial, a desaceleração na
abertura de vagas no mercado formal de trabalho e, numa espécie de “mantra” do
setor, “a incerteza associada à implementação de reformas” na economia, o que
também estaria ajudando a segurar a economia.
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Parece
como um circuito fechado perfeito: o governo, com ajuda dos mercados e da
imprensa, alardeia que, sem as reformas, a economia não vai deslanchar; os
empresários decidem segurar ou rever decisões de investimento porque a demanda
não deslancha como esperado, levando ao desaquecimento alardeado no princípio,
como se a não aprovação das reformas fosse a causa de tudo.
·
Depois
de considerações várias, o banco aponta a política de juros como “principal
motivo por trás dessa fraqueza”. Sozinha, acrescenta, a taxa real de juros de
2,8% em vigor não vai permitir taxas de crescimento acima de 1%.
Um corte dos juros básicos para 5,5% (diante de
6,5% hoje), levando a taxa real para 1,8% ao ano, poderia acelerar o PIB para
2,0% no próximo ano. Se o corte fosse feito agora, possibilidade descartada
pelos sábios do BC.