Mudança de norma no mercado livre de energia pode favorecer setor de biomassa
Lauro Veiga
A
despeito de todos os gargalos ainda por enfrentar na área da bioeletricidade, as
perspectivas para o mercado de contratação livre, destino de 76% da energia
comercializada pelo setor de biomassa, parecem mais promissoras, notadamente a
partir de julho próximo, aponta Guilherme Zimmer, superintendente comercial da
Electra Energy, comercializadora independente de energia. Naquele mês,
consumidores com carga de até 2,5 mil quilowatts estarão liberados para comprar
energia de qualquer fonte, o que tenderá liberar maior lastro (geração efetiva)
de energia de biomassa para o ambiente de contratação livre.
Segundo
estudo recente, a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) projeta
sobra real de 215 MW médios de energia incentivada (biomassa, pequenas centrais
hidrelétricas, fotovoltaica e eólica) neste ano em função da liberação de
lastros das operações do Mecanismo de Venda de Excedentes (MVE) e da
substituição de energia especial por convencional por consumidores que migraram
para o mercado livre. Conforme Zimmer, o segmento tem operado usualmente com
contratos de três a cinco anos de prazo, “mas têm surgido cada vez mais
contratos de cinco a 10 anos”.
Já
consolidada como parte da estratégia de negócios do grupo, a cogeração de
energia elétrica poderia ser ampliada em pelo menos 10% praticamente sem
qualquer investimento adicional, aponta Francis Vernon Queen, vice-presidente
de etanol, açúcar e bioenergia da Raízen, joint-venture entre Cosan e Shell.
Com capacidade instalada para 979 MW, suficientes para abastecer anualmente uma
cidade do tamanho do Rio de Janeiro, 24 entre as 26 plantas do grupo (duas
unidades foram hibernadas como resultado de uma reorganização na alocação da
moagem feita pela Raízen depois das aquisições mais recentes) produzem toda a
energia que consomem e, dessas, 15 usinas ainda exportam uma geração excedente
que flutua entre 2,0 a 2,6 GWh.
Diálogo
Mas
o parque industrial da Raízen está limitado em sua capacidade de cogeração pela
metodologia adotada pelo Ministério de Minas e Energia para fixar a energia
física que cada uma das unidades do grupo está autorizada a negociar no
mercado. “Vimos o mercado como um todo perder 8% de sua garantia física entre
2017 e 2018. Estamos conversando com os órgãos responsáveis pelo setor para
trazer mais energia para o sistema”, adianta Vernon.
Balanço
·
A
Raízen trabalha na conclusão do projeto de produção de energia a partir do
biogás na unidade de Bonfim, em Guariba (SP), iniciado em junho de 2018 e agora
em fase final de instalação, num investimento estimado pelo mercado em R$ 153,0
milhões. A planta, resultado de joint venture entre a empresa e a Geo
Energética, produzirá energia a partir da queima de biogás proveniente do
processamento de vinhaça e de torta de filtro, rejeitos da moagem de cana, e
terá capacidade nominal para 21 MW.
·
“A
intenção é começar a cogeração a partir do final deste ano e aproveitar o
próximo ano para amadurecer o projeto, que deverá abrir toda uma nova avenida
de oportunidade de negócios nesta área”, comenta Vernon.
·
A
vinhaça será utilizada no período de safra e a torta de filtro, numa inovação
introduzida pelo projeto, será aproveitada durante todo o ano, permitindo que a
planta alcance uma geração de 138 mil MWh por ano, dos quais 96 mil MWh deverão
atender ao compromisso assumido pela empresa ao vencer o leilão de energia nova
A-5 realizado em 2016, com entrega prevista a partir de 2021.
·
O
restante da energia deverá ser negociado no mercado livre ou em outras formas
de contrato. “O projeto constitui uma economia perfeitamente circular, com
aproveitamento integral dos insumos”, sustenta Vernon, acrescentando que o
resíduo da queima da vinhaça, um material rico em potássio, será usado como
fertilizante.
·
A
moagem de cana na região Centro-Sul e a produção de etanol acumulam quedas de
18,3% e de 17% entre abril e a primeira quinzena de maio deste ano, na
comparação com o mesmo intervalo de 2018, o que tem pressionado os preços.