Turismo irregular devasta Serra das Areias
Prefeitura de Aparecida de Goiânia irá editar decreto para regulamentar uso de áreas de preservação
Igor Caldas
A Serra das Areias, em Aparecida
de Goiânia, é uma Área de Preservação Ambiental Permanente (APA) composta em
sua maioria por propriedades privadas. Qualquer tipo de turismo no lugar é
proibido e causa sérios danos
ambientais. A região abriga nascentes de rios que abastecem mais de 130 mil
famílias na Região Metropolitana de Goiânia. De acordo com o Oficial da Defesa
Civil Juliano Cardoso, a população tem causado a degradação com turismo
clandestino, descarte de lixo e abertura de trilhas para prática de ciclismo e
MotoCross.
No início da década de 1990 a
região possuía 14 cachoeiras. Hoje, restam apenas quatro. Com o turismo
desenfreado na região, três dessas correm risco de desaparecer nos próximos
anos. De acordo com Secretário Municipal do Meio Ambiente de Aparecida de
Goiânia, Cláudio Everson, a principal dificuldade está em coibir e fiscalizar a
circulação de pessoas na APA. “O pessoal acha que o local é público e existe a
ideia equivocada de que o que não existem regras para o que é de todo mundo”.
Juliano explica que 80% da área
da APA é composta por 136 propriedades particulares devidamente escrituradas
regulamentada pelo INCRA. A área está com degradação ambiental intensa causadas
pelas ações do homem desde o início da década de 1990. “Esse é o único Parque
do Brasil que foi transformado em Área de Proteção Ambiental. A Prefeitura teve
dificuldade em indenizar os proprietários para instituir o Parque Nacional e
preferiu transformar as áreas em Áreas de Preservação Permanente”, explica o
oficial.
A equipe de reportagem esteve no
local junto com Juliano Cardoso e o Secretário Municipal do Meio Ambiente, Cláudio
Everson para mostrar os impactos ambientais causados pela falta de consciência
da população. De acordo com Juliano, o principal inimigo da Serra é o Turismo
Clandestino, que abre trilhas e comprometem a absorção de água do solo,
causando erosões e assoreamento das nascentes dos principais rios que abastecem
a população.
Desde o dia 19 de abril de 1991,
Juliano Camargo fundou a Organização Não Governamental Anjos Verdes. Além de
atuar na ONG de preservação ambiental, Juliano tem formação em geografia é gestor
ambiental e oficial da Defesa Civil do Município de Aparecida de Goiânia. Ele
lembra que a equipe do órgão já foi uma das maiores do Estado de Goiás, mas
atualmente são apenas quatro agentes que
atuam no município. Isso faz com
que as ações de fiscalizações fiquem defasadas.
“Temos relatos de proprietários
que dizem que há prática intensa de MotoCross em suas propriedades mas que não
conseguem acabar com isso. A população corta a serra toda com trilhas para
andar de moto e bicicleta. O que assusta é que essas pessoas querem passar para
sociedade que eles são ecológicos e amantes do meio ambiente, mas na verdade
são eles que mais prejudicam a natureza da região”.
Juliano afirma que a Anjos Verdes
é a ONG de proteção ambiental mais antiga do Centro-Oeste, ela existe a 28 anos
e acompanhou de perto o desaparecimento de córregos e cachoeiras da região. “Infelizmente
a Serra das Areias está fadada a extinção. Tendo em vista que nos últimos 29
anos, desapareceram 10 cachoeiras, se essa situação continuar, acredito que em
pouco mais de 20 anos tudo estará acabado. A tendência é erodir tudo e morrer
as nascentes. Quem vai sofrer é a população”.
O oficial da Defesa Civil acredita que a legislação ambiental tende a
se afrouxar cada vez mais o que vai propiciar o aumento da degradação ambiental
em todo país. “O pessoal não está preocupado com o coletivo, com o amanhã.
Ambientalistas são tratados como ecochatos, mas
todos problemas que eles alertavam desde os anos 1980 estão acontecendo agora.
Mas os estudos ainda estão sendo desacreditados”, afirma.
Na opinião de Juliano, para que o
bioma do cerrado seja recuperado na Serra das Areias, deve haver uma moratória
para impedir todo tipo de circulação de pessoas, acampamentos e prática de
turismo clandestino por pelo menos dez anos. Ele ainda afirma que o local
poderia ser usado para a prática do Turismo Ecológico, mas a atividade deve ser
rigorosamente controlada e aferida por técnicos do meio ambiente. Além disso,
deve haver uma linha de trabalho conjunta entre a Defesa Civil, SEMMA e os
donos das terras.
O Secretário Municipal do Meio
Ambiente, Cláudio Everton, afirma que algumas medidas estão sendo tomadas para
mudar o destino da Serra das Areias. “O
primeiro passo é tentar implantar uma política de educação ambiental dentro das
escolas municipais. É um trabalho a longo prazo, um trabalho de formiguinha. No
entanto, quando você instrui uma criança, ela vai forçar uma mudança de
comportamento nos pais. Estamos fazendo uma campanha visando a questão do
período de estiagem com a preservação de incêndios”, afirma.
Outra medida que está sendo feita
em prol da Serra das Areias é a criação de um Decreto municipal para
regulamentar o que pode e o que não pode ser feito dentro da APA de acordo com
o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC). “Vamos fazer o decreto
para regulamentar o uso permitido, tolerável e proibido da terra. Como é
particular, temos que regulamentar o que pode ser feito na área para que o
proprietário possa se adequar para que a SEMA e os técnicos ambientais analisem
os impactos das transformações que serão feitas nestas terras”, explica o
secretário.
Incêndios
Outro grande problema da Serra
das Areias são os incêndios que atingem as Áreas de Proteção Ambiental.Grande
parte desse problema é intensificado pelo lixo que é descartado de forma ilegal
na área. “Pedaços de plástico, sacolas e outros tipos de lixo podem servir como
combustível para as chamas. Principalmente no tempo seco, quando fica muito
fácil do mato pegar fogo”, alerta Juliano.
Dois incêndios destruíram 26 hectares da Serra
das Areias. De acordo com o Corpo de Bombeiros, a área é equivalente a 26
campos de futebol. O último foco foi registrado no último sábado (20), próximo
a casas da região.
A Serra das Areias possui 2.890
hectares. Segundo o Corpo de Bombeiros, o incêndio com maior proporção foi
registrado na sexta-feira (19) e atingiu 25 hectares. No sábado, o fogo surgiu
em outro ponto da unidade de conservação e destruiu um hectare de cerrado.
O oficial da Defesa Civil do Município explica
como o combate do incêndio é difícil em cima da Serra das Areias. “Muita gente
acha que o caminhão de bombeiros vem até aqui em cima, mas não vem. Muitas
vezes andamos mais de 10 quilômetros a pé para fazer o combate às chamas. O
combate dura muitas horas e temos que voltar com equipamentos que pesam muito”,
explica.