Uso da maconha para fins medicinais é discutido pela Anvisa
O extrato da planta pode servir de tratamento para diversas doenças, mas o uso da maconha para qualquer finalidade ainda é ilegal no Brasil
Ingryd Bastos
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) realizou na última semana uma audiência pública para discutir as duas propostas de regulamentação sobre o cultivo e uso da maconha para fins medicinais e científicos no Brasil. As propostas já tinham sido aceitas em junho desse ano, este é o segundo passo antes de entrar em vigor, o plantio doméstico continua proibido.
Na audiência foram apresentados os procedimentos detalhados para registro e monitoramento de remédios feitos através da Cannabis, a reunião faz parte do processo iniciado em junho e o resultado vai estar disponível no site oficial da Anvisa no dia 19 de agosto.
A discussão não inclui o plantio, uso ou venda da planta e seus derivados para pessoas físicas, essas práticas seguem proibidas por lei. A autorização, se aprovada, prevê que apenas empresas autorizadas plantem a erva em ambientes controlados por autoridades policiais e as vendas devem ser feitas diretamente para a indústria farmacêutica.
Cannabis Sativa – Maconha
Universidades como Unifesp e UFRJ já estão estudando o extrato da maconha, apesar de ainda ser ilegal e de difícil acesso. Os resultados das pesquisas junto com as combinações feitas por pacientes clandestinamente vão ser analisados e servirão de banco de dados para o desenvolvimento de um medicamento nacional que os profissionais pretendem desenvolver.
“Quando você presencia uma criança com convulsões e vê a melhora dela depois de tomar o remédio, é algo muito impactante”, conta a professora e pesquisadora em toxicologia da UFRJ, Virgínia Carvalho.
Pode ser extraído da maconha o canabidiol (CBD), que é uma substância química que funciona como analgésico, sedativo e anticonvulsivo podendo tratar doença como: epilepsia, esclerose múltipla, esquizofrenia, mal de parkison e dores crônicas.
Outra substância é a tetrahidrocanabinol (THC) que é o princípio ativo que atua como antidepressivo, estimulante do apetite e anticonvulsivo no tratamento contra síndrome de Tourette, asma, glaucoma, entre outros.
Na última semana, um vídeo gravado por um goiano mostrando o drama do pai que sofre de Alzheimer viralizou ao relatar a melhora do aposentado, de 58 anos, depois de seis meses de tratamento com o óleo extraído da maconha.
“Nem lembro qual foi a última vez que meu pai me chamou de filho, falou que me ama e me deu um abraço. Hoje foi esse dia, gratidão”, diz Filipe Barzan. Assista o vídeo
Contra
A Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e o Conselho Federal de Medicina (CFM) se posicionam contra a medida alegando não haver evidências científicas que mostram efetividade e segurança para os pacientes.
“A maconha não é uma droga inofensiva e são vastas as evidências científicas de que o uso precoce da droga leva à dependência”, posiciona o presidente da CFM, Carlos Vital.
O Conselho Federal de Medicina ainda informou em nota que o papel do conselho é orientar e conscientizar a comunidade médica e científica, assim como é papel dos educadores, gestores e legisladores orientar a população em geral.