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domingo, 24 de novembro de 2024
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Lauro Veiga Filho

A volta dos investimentos? Nada disso. Consultas ao BNDES despencam 51%

Em valores de setembro deste ano, as empresas encaminharam propostas de financiamento com valor equivalente a R$ 40,405 bilhões nos primeiros nove meses deste ano

Postado em 26 de outubro de 2019 por Sheyla Sousa
A volta dos investimentos? Nada disso. Consultas ao BNDES despencam 51%
Em valores de setembro deste ano

O tal “espírito animal” do empresariado ainda não deu o ar de sua graça no Brasil, a se considerar a evolução das consultas ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ao longo do ano – um indicador da intenção de investimento das empresas. Em valores de setembro deste ano, atualizados pela instituição, as empresas encaminharam propostas de financiamento com valor equivalente a R$ 40,405 bilhões nos primeiros nove meses deste ano, menos da metade dos R$ 82,794 bilhões que deram entrada no banco entre janeiro e setembro do ano passado. Descontada a inflação, chegou-se a uma retração de 51,2%.

O mais grave é que houve uma aceleração no ritmo do desmonte do investimento (e do próprio BNDES). No segundo trimestre deste ano, em comparação com o mesmo intervalo de 2018, as consultas haviam sofrido perdas de 48,9% em termos reais, encolhendo de R$ 37,742 bilhões para R$ 19,271 bilhões. No terceiro trimestre, o tombo chegou a 58,4%, pois as consultas desabaram de R$ 30,210 bilhões para R$ 12,561 bilhões – o que significou ainda uma redução de 34,8% na passagem do segundo para o terceiro trimestres. Em setembro deste ano, na comparação com igual período de 2018, as consultas baixaram 41,7% em valores reais, saindo de R$ 8,704 bilhões para R$ 5,654 bilhões em números aproximados.

Parece nítido que o investimento não está retornando, ao contrário das expectativas para lá de otimistas da equipe econômica. A avaliação pode ser aplicada igualmente a Goiás, onde as consultas ao BNDES anotaram queda nominal, quer dizer, sem descontar o efeito corrosivo da inflação, de 24,72% no acumulado entre janeiro e setembro deste ano frente aos mesmos nove meses do ano passado, baixando de aproximadamente R$ 1,566 bilhão para R$ 1,179 bilhão. Os desembolsos de recursos já contratados ficaram 7,9% menores, regredindo de R$ 1,229 bilhão para R$ 1,133 bilhão em Goiás, desempenho menos ruim do que a média dos desembolsos no País, que sofreram redução de 12,7% no mesmo período.

Retração

A retração nas operações do BNDES reflete dois movimentos que se autoreforçam ao longo do tempo. Em primeiro lugar, a timidez da demanda continua inibindo as decisões de investimento e, portanto, a contratação de crédito para financiar novos projetos. Em segundo, a equipe econômica leva adiante seus planos de desmontar o BNDES na fútil esperança de que instituições privadas passem a suprir a demanda de crédito de longo prazo no País, reduzindo seu tamanho para algo próximo a apenas um terço de suas dimensões anteriores. Cumpre relembrar que a consulta encaminhada ao banco pelas empresas corresponde ao primeiro passo na contratação de operações de financiamento e sua queda certamente levará a um volume de desembolsos decrescente ainda nos próximos meses. Mais do que isso, a redução sinaliza a baixa disposição para investir num ambiente de baixa demanda, incertezas e turbulências políticas causadas pelos novos donos do poder e ainda de algum desaquecimento na economia mundial.

Balanço 

Com suas operações experimentando recordes históricos de baixa, os empréstimos do BNDES passaram a responder, no ano passado, a apenas 1,02% do Produto Interno Bruto (PIB), o que significou menos de um quarto dos 4,33% registrados em 2010. Há grande probabilidade de que essa participação caia abaixo de 1,0% do PIB neste ano, com redução proporcional em sua capacidade de dar sustentação a projetos de investimento de longo prazo na indústria e na infraestrutura, com a oferta de recursos a custos competitivos internacionalmente.

A perda de relevância ocorre de forma intensa e recorrente no setor de infraestrutura e isso numa instituição que deveria funcionar como a grande financiadora de projetos nesta área. As consultas no setor desabaram 61,5% na comparação entre os primeiros nove meses deste ano e o mesmo período do ano passado.

A valores atualizados até setembro, as empresas do setor de infraestrutura enviaram ao banco propostas para contratação de R$ 12,643 bilhões entre janeiro e setembro deste ano, o que se compara como R$ 32,831 bilhões em igual intervalo de 2018.

O setor respondeu por quase metade de toda a queda acumulada pelo total das consultas no período analisado, com participação relevante (e negativa) dos setores de energia (retração de 53,8%), atividades auxiliares de transporte (tombo de nada menos do que 94,3%) e transportes rodoviários (em baixa de 30,45%).

Em valores atualizados, as consultas saíram de R$ 16,558 bilhões para R$ 7,644 bilhões no setor de energia elétrica; passaram de R$ 875,854 milhões para R$ 127,549 milhões nas atividades auxiliares de transportes; e encolheram de R$ 5,662 bilhões para R$ 3,938 bilhões no transporte rodoviário.

A indústria de transformação, uma das mais afetadas pelo baixo crescimento, reduziu suas consultas em 63,53% em valores reais, cortando suas propostas ao BNDES de R$ 23,930 bilhões para R$ 8,727 bilhões. O tombo mais severo foi sofrido pela indústria de material de transporte, numa retração de 86,17% (de R$ 14,179 bilhões para apenas R$ 1,961 bilhão).

 

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