Deliverys faturam 30% a mais durante a quarentena
A alternativa é prática e prioridade na rotina dos goianos nesses últimos dias devido à quarentena – Foto: Divulgação
Daniell Alves
Empresas de entregas por aplicativo deram um salto no número de pedidos na última semana. A reportagem do O Hoje andou pelas ruas de Goiânia e percebeu maior movimento de entregadores durante a quarentena. O surto de Coronavírus fez com que os goianos se isolassem dentro de casa e pedissem alimentos pelo celular. Um aplicativo de delivery registrou um crescimento de 30% no número de pedidos, principalmente em restaurantes, supermercados e farmácias.
Dados do app Eu Entrego, responsável por entregas colaborativas em todo Brasil, apontam que as entregas no final de semana aumentaram 10 vezes. Ivan Lopes, 45 anos, trabalhava como motorista de aplicativo apenas nas horas vagas. Agora ele teve que colocar a profissão como prioridade por conta do Coronavírus. Os pedidos por entrega aumentaram significativamente após os casos e o lucro também. “Posso dizer que dobrou o número de entregas e estou ganhando bem, mas todos nós estamos nos prevenindo e evitando o contato com os clientes”, explica ele.
A loja em que ele trabalhava fechou e a forma que Ivan encontrou de obter renda é por meio das entregas. De um modo geral, o valor líquido que o entregador recebia diminuiu, mas o crescimento na demanda fez com que o prejuízo não fosse tão alto. “Espero que seja apenas por um tempo, pois está afetando todos os setores e, com certeza, vai chegar na gente também”, lamenta.
Como as pessoas têm evitado sair de casa, os pedidos aumentam geralmente durante a noite, a partir das 19 horas, explica o entregador. “Todos nós estamos usando álcool em gel antes e depois da entrega para não ser contaminado ou até contaminar os clientes”, diz. Segundo ele, por mais que haja uma alta demanda de pedidos, também é necessário ter cautela neste momento de pandemia que estamos vivendo.
Enquanto Ivan mantém a rotina de entregador, o jovem Felipe Cardoso, 19 anos, decidiu parar de entregar os pedidos. A pandemia fez com que ele se preocupasse com a saúde e permanecesse em casa. Ele explica que a decisão foi após os casos de Coronavírus chegarem ao Estado. “Ainda não sabemos a gravidade dessa doença e as pessoas não se conscientizaram ainda. Temos que zelar pelas nossas vidas e das pessoas que amamos”, diz Felipe.
O jovem está seguindo as recomendações do Ministério da Saúde (MS) de evitar o contato físico. Quando o entregador se dirige à residência do cliente, muitas vezes ele precisa receber o troco ou passar o cartão. “Em apartamentos o risco de contaminação é maior porque alguns clientes querem que eu suba até o bloco dele e até lá tem um monte de lugares para passar, como o elevador, por exemplo”, explica.
Praticidade
A opção de delivery é bastante prática e importante porque evita que muitas pessoas saiam às ruas em busca de alimentos. Algumas delas ouvidas pela reportagem relatam que só pedem comida por aplicativo para não ir aos supermercados, como afirma o estudante Alex Gomes, 21 anos, que mora em um condomínio, no Setor Bela Vista, em Goiânia. Ele alterou completamente a rotina e, agora, fica a maior parte do tempo dentro de casa.
Segundo o estudante, os moradores do prédio têm colaborado com diversas medidas a fim de evitar a proliferação do vírus. “Estamos evitando usar as áreas de convivência social e utilizando álcool em gel constantemente para acessar os elevadores”, destaca. Entre as iniciativas feitas pelos residentes está o reforço de higienização e álcool em todas as entradas.
Já os idosos, que estão no grupo de risco, não precisam sair do prédio onde Alex mora. Os moradores fizeram uma lista em um aplicativo de mensagens com os nomes dos vizinhos idosos para que eles possam acionar outro morador em caso de necessidade de compras em farmácias ou supermercados.
Quarentena
A manicure Jéssica Duarte, 38 anos, também utiliza a opção delivery sempre que possível. Ela foi dispensada do serviço e está de quarentena pelos próximos dias. “É uma opção bastante eficaz para quem não quer sair. Aqui em casa nos já utilizamos antes da pandemia e agora é o meio mais fácil de comprar qualquer coisa”, diz.
Mesmo com as opções de tele entrega, ela afirma que é importante fazer uma compra e parar também de pedir alimentos na rua. “Fiz uma compra grande, mas nem foi para estocar e sim para não ficar indo ao supermercado toda hora. Não sabemos como irá funcionar as coisas futuramente”, destaca a manicure, que também têm incentivado à família a adotar o hábito de higienizar as mãos com frequência.
Medidas
A união faz toda a diferença neste momento. Empresas de transporte de entregas também têm se preocupado com seus colaboradores e promovido medidas para garantir o bem-estar dos usuários. Uma plataforma que oferece esse tipo de serviço lançou uma aba em seu site sobre o Coronavírus e com informações a respeito do que está sendo feito para conter a pandemia.
Qualquer motorista da plataforma diagnosticado com coronavírus receberá assistência financeira da empresa durante até 14 dias enquanto a conta estiver suspensa. Também está sendo disponibilizado para os motoristas recursos para manterem os automóveis limpos e em condições de higiene para receber os passageiros.
País terá 3 milhões de desempregados no próximo mês
Se um setor está faturando mais, o outro, consequentemente, ganha menos. Com a declaração de pandemia, os restaurantes tiveram que ser fechados e podem ser um dos principais prejudicados nessa crise. Estes locais devem cortar até 3 milhões de empregos nos próximos 30 a 40 dias, prevê estimativas do presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), Paulo Solmucci. O representante afirma que o faturamento do setor, que tem cerca de 6 milhões de postos de trabalho, caiu a praticamente zero nos últimos dias.
A única solução é o governo entrar ajudando a pagar salário ou colocando as pessoas no seguro desemprego, explica o presidente. Ele afirma que o governo precisa entender que não dá mais para tomar medidas normais porque o país está vivendo um momento excepcional. “Não dá para o Estado continuar achando que o mercado vai se ajustar. Agora tem que ter a mão forte do Estado para salvar o pequeno empresário do Brasil”, alerta.
Nesta semana, o governo deve anunciar medidas para aqueles que empreendem no setor da alimentação. Paulo diz estar convicto que o governo entendeu a gravidade do assunto. “Temos diagnóstico coletivo de que, somente com o apoio ao pagamento de salário em condições de fundo perdido – ou seja; que o empresário não tenha que pagar mais a frente – teríamos uma solução para evitar o caos social e a desestruturação definitiva do setor de bares e restaurantes em todo o país”, diz.
Apoio
Pensando nisso, uma empresa de entrega por aplicativo, a Uber Eats, implementou medidas para apoiar pequenos e médios restaurantes independentes. A plataforma oferece aos estabelecimentos gratuidade na taxa de entrega para pedidos feitos e serão isentos da taxa de retirada quando os usuários fizerem um pedido pelo app e optarem por buscar a refeição pessoalmente.
Esta iniciativa deve beneficiar 30 mil restaurantes em toda a América Latina. A empresa ainda vai intensificar o marketing desses locais para aumentar a visibilidade dos empreendimentos, via aplicativo e e-mail. “Sabemos que as próximas semanas serão desafiadoras para muitos proprietários de pequenas empresas. Queremos apoiar os milhares de restaurantes parceiros, particularmente pequenas e médias empresas, os usuários que confiam na nossa plataforma para receber alimentos com segurança”, destaca o diretor-geral da plataforma, Eduardo Donnelly. (Especial para O Hoje)