Empresários arrecadam mais de 420 cestas básicas para ambulantes
Auxílio do governo que demorou a chegar, os trabalhadores informais sofrem para colocar comida na mesa| Foto: Wesley Costa
Igor Caldas
A fome fez uma multidão de pessoas formarem uma grande fila ontem em frente a um shopping na região central da Capital. Empresários arrecadaram mais de 420 cestas básicas para ambulantes e trabalhadores da Região da 44. A entrega dos alimentos não gerou tumultos, mas formou uma fila maior do que o número de cestas a serem distribuídas. Na dificuldade, algumas famílias se solidarizam e dividem o alimento recebido por doações. A Guarda Civil Metropolitana estava no local para tentar garantir a distância mínima segura entre as pessoas aglomeradas. A maior parte não usava máscaras.
A espera de um auxílio do governo que demora a chegar, os trabalhadores informais sofrem para colocar comida na mesa, pois estão impossibilitados de trabalhar nessa quarentena. As famílias que receberam o alimento estavam previamente cadastradas, mas muitos não conseguiram fazer o cadastro a tempo. Por isso, os vizinhos Luciana Monteiro de Araújo, Josimar Moreira Lins, Cristina Lúcia da Costa e Antônio José Viote irão dividir os alimentos arrecadados.Josimar, que não estava cadastrado se disponibilizou para fazer o transporte das cestas.
As cestas que foram doadas contam com 10 quilos de arroz, cinco quilos de açúcar, dois quilos de feijão, dois pacotes de macarrão, três latas com óleo, achocolatado em pó, extrato de tomate e um pacote de café. Ao longo das próximas semanas, outras doações poderão ser recebidas pelos organizadores da ação para que possam ampliar o alcance da solidariedade.
“Conseguimos duas cestas básicas, porque apenas dois de nós estávamos cadastrados para receber o alimento. Meu vizinho não trabalha na Região da 44, mas também é autônomo e está passando por dificuldades, por isso a gente está se ajudando”, afirma Cristina. Ela ainda diz que as contas de luz e água já estão acumulando. O alimento também será dividido com seu filho, que sofreu um acidente de moto. “Juntou esse problema da pandemia com a fatalidade que meu filho sofreu, já estamos quase sem comida em casa e ele tem três filhos”, lamenta.
Muitos trabalhadores que estão dentro do grupo de risco para a Covid-19 tiveram que quebrar o isolamento para poder levar o alimento para casa. Maria Arlete Firminiano comercializava churrasquinho na região e sua renda foi reduzida a zero desde o início do decreto de isolamento social. “Eu sou do grupo de risco, mas hoje não teve jeito, tive que vir buscar ou então iria faltar comida em casa”. Maria Arlete ainda declara que mora com seu filho, de 35 anos que também é do grupo de risco. “Ele tem asma e não pôde vir aqui hoje porque está tossindo muito e foi ao médico”.
Solidários da 44
O centro de compras foi o local de doação da ação promovida por outros 27 empresários da Região da 44, Centro de Goiânia, intitulada de ‘Solidários da 44’, que arrecadou mais de 420 cestas básicas para ambulantes e trabalhadores locais que necessitam de apoio durante o período da pandemia. A doação das cestas foi feita em um espaço interno, com controle da entrada de cada pessoa que seria beneficiada. Na porta era oferecido álcool em gel para higienização das mãos.
A Região da 44 é um espaço que fervilha uma grande quantidade de pessoas que trabalham na informalidade. Entre eles, montadores de barracas das feiras que acontecem no espaço, carregadores de fretes, ambulantes registrados e não registrados, feirantes e outros trabalhadores que se encontram em situação de grande vulnerabilidade por estarem sem poder trabalhar e ainda não terem recebido os auxílios prometidos pelo Governo Federal.
Presidente da Associação de Comerciantes da Rua 44, Jairo Gomes, lembra que muitos trabalhadores informais concentram seu trabalho na região. Ele calcula que cerca de 5 mil pessoas que trabalham na região estão passando por dificuldades no período da quarentena. “Tivemos essa iniciativa de vários empresários que decidiram ajudar. Trabalhadores foram catalogados e montamos um grupo para que cada um pudesse fazer as doações”. Ele ainda diz que a ação deve continuar.
Indústrias
Sindicatos das indústrias e empresários do setor industrial junto à Federação de Indústria de Goiás (Fieg) também se solidarizam. O grupo deve realizar doação de meia tonelada de alimentos a entidades assistenciais nesta segunda-feira (13) por meio do projeto Fieg Mais Solidária que mobiliza sindicatos das indústrias e empresários goianos para doação de alimentos e produtos de higiene e limpeza. Desde o início da pandemia, esta já é a terceira ação de entrega de donativos.
As doações vão beneficiar instituições filantrópicas como a ONG Atletas de Jesus, Abrigo de Idosos São Vicente de Paula, Associação de Serviço à Criança Especial de Goiânia (Ascep), Igreja Católica Ortodoxa São Nicolau e Fórum Goiano de Inclusão no Mercado de Trabalho das Pessoas com Deficiência e dos Reabilitados pelo INSS (Fimtpoder).
Comerciantes da Feira Hippie pressionam por ajuda
Apesar de estarem constantemente trabalhando no local, segundo o presidente da Associação dos Feirantes da Feira Hippie, Waldivino da Silva, os comerciantes não tiveram condições de serem atendidos na distribuição de cestas básicas promovidas pelos empresários. “Somos quase 5.575 feirantes e precisamos de 6 mil cestas básicas”, declara. Waldivino, conhecido como Divininho, diz que a distribuição das cestas está em negociação com a direção da Organização das Voluntárias de Goiás (OVG), presidida por Adryanna Melo Caiado.
“A expectativa é que a gente receba esses alimentos, mas teremos a resposta apenas na segunda-feira”, declara Divininho. O presidente da Associação defende que o auxílio de R$ 600 do governo não é suficiente para o sustento dos feirantes, pois a maioria deles tem famílias numerosas. “Como esse dinheiro consegue sustentar cinco agregados em uma casa? Estamos pedido apoio do Governo Estadual para complementar essa renda ou algumas famílias correm risco de passar fome”.
De acordo com Divininho, o auxílio de liberação de crédito pelo Governo Federal contempla poucos trabalhadores da Feira Hippie. “Essas linhas de crédito só podem ser concedidas para quem tem o nome limpinho, não está com nada no SPC. Infelizmente, essa não é uma realidade dos feirantes e de muitos brasileiros que precisam se endividar para sobreviver”, argumenta. Estamos pedindo uma bolsa complementação para o governo do Estado. “Vamos nos manifestar para conseguir esse apoio, por meio de protestos, paneladas ou uma carreata de 180 carros”. (Especial para O Hoje)