Poluição de córrego sinaliza crime ambiental em Senador Canedo
Um dos municípios que mais cresceu na Região Metropolitana de Goiânia nos últimos anos apresenta sinais de piora na condição de seus recursos hídricos | Foto: Wesley Costa
Igor Caldas
Um dos municípios que mais cresceu na Região Metropolitana de Goiânia nos últimos anos, Senador Canedo, apresenta sinais de piora na condição de seus recursos hídricos. A cidade que possui polos industriais, petroquímicos e moveleiros sofre com a falta d’água nos últimos anos. Próximo ao polo petroquímico do município, o maior do Centro-Oeste, a poluição do Córrego da Mata é visível e as águas subterrâneas correm risco de contaminação.
As águas do Córrego da Mata, entre o Residencial Jardim Canedo III e o Setor Comercial, apresentam manchas e espumas brancas típicas da poluição causada por resíduos. Além disso, o cheiro de óleo diesel que exala do córrego é preocupante. De acordo com a fiscalização da Agência Municipal do Meio Ambiente de Senador Canedo, a poluição nesta localidade do córrego acontece principalmente abaixo do Setor Comerciais, onde as principais empresas petroquímicas estão instaladas.
A Amma alega que a principal causa do problema ambiental é o grande volume de tráfego de caminhões tanque na região. Segundo o órgão, eles transitam no local para abastecer as distribuidoras de petróleo da região e a contaminação do curso d’água do córrego ocorre por vazamentos frequentes que ocorrem nos veículos, levando o óleo escorrer para o asfalto, cair nas galerias pluviais e chegarem às águas do Córrego da Mata.
Águas em risco
O setor de fiscalização da pasta admite que o solo da região é bastante contaminado por causa do tráfego de caminhões e que não há nenhum registro de incidentes que levem a uma contaminação maior do curso d’água em função de descarte criminoso de resíduos. A ONG ambiental Guerreiros da Natureza, que atua há mais de dez anos na Região Metropolitana de Goiânia, afirma por meio de nota que na região de Senador Canedo há extensas áreas de vulnerabilidade aquífera que merecem atenção do Ministério Público.
O geógrafo, gestor ambiental, defensor do meio-ambiente e integrante da ONG Brigada de Incêndios Florestais Anjos Verdes do Brasil, Juliano Cardoso, afirma que além da poluição, o manancial sofre situações de falta de manutenção e conservação das suas matas ciliares. “Não é só em Senador Canedo, mas isso ocorre em qualquer manancial das cidades urbanizadas das regiões metropolitanas. Falta clareza na política ambiental que os municípios exercem em cada território”, diz.
Inspeções
Ainda de acordo com Juliano, a região do Córrego da Mata carece de uma inspeção técnica e multidisciplinar para identificar os problemas que ocorrem ao longo da calha do manancial. “A contaminação é visível e é necessário que sejam promovidos estudos, vistorias rotineiras e elaboração de relatórios técnicos e promoção de análises da água por empresas especializadas”, lamenta.
Segundo o geógrafo, Senador Canedo é um município promissor e de economia pujante, com muitos recursos financeiros. “Esses recursos dos setores produtivos do município podem e devem ser usados para recuperação e proteção desses mananciais hídricos”. Além disso, Juliano critica a postura dos gestores municipais que pecam pela falta de consideração ao meio ambiente, sobretudo na condição do cuidado com os recursos hídricos em uma cidade cuja população já sofre com crises hídricas, como Senador Canedo.
“Os gestores púbicos tendem a continuar cometendo o erro gravíssimo em relação a um elemento que é vital para a vida humana, a água”. Ele afirma que quando um manancial apresenta sinais claros de agressões, fica clara a falta de gestão ambiental firme e presente no município. “Quando falo de gestão presente não quero dizer terrorismo fiscal, mas sim de monitoramento constante, educação ambiental informação para a população para que garantir o mínimo de qualidade ambiental dos mananciais”, afirma.
Estudos apontam risco às águas subterrâneas da cidade
Uma dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Ambientais da Pró-Reitoria de Pós-graduação da Universidade Federal de Goiás ressalta que as petroquímicas localizadas na região Leste de Goiânia e no município de Senador Canedo elevam o risco de contaminação dos aquíferos freáticos principalmente pelo contato com hidrocarbonetos aromáticos.
De acordo com a pesquisa, a incidência de risco muito alto de contaminação dos lençóis freáticos se concentra principalmente nos perímetros urbanos de Goiânia, Aparecida de Goiânia e Senador Canedo. A causa do risco é o predomínio de indústrias e polos petroquímicos e a intensa ocupação do território por postos de combustíveis.
A dissertação de autoria de Sérgio Henrique de Moura Nogueira avalia o risco da perda da qualidade ambiental do aquífero freático na Região Metropolitana de Goiânia, destaca que os postos de combustíveis provavelmente representam o maior percentual de ocorrências de áreas contaminadas dentro dos limites estudados.
Comparando-se com outras regiões, como o estado de São Paulo, a atividade de postos de gasolina corresponde a 80% das contaminações de lençóis freáticos. Esse tipo de estabelecimento possui tanques subterrâneos de armazenamento que não permitem inspeções visuais para a verificação de vazamentos. A falta de manutenção adequada em tanques com mais e 20 anos representa um grande risco de contaminação das águas subterrâneas.
Locais com de deposição ilegal de resíduos sólidos também representa um elevado risco potencial de contaminação das águas subterrâneas. A poluição acontece principalmente em locais que não apresentam estruturas adequadas para captação e deposição de resíduos sólidos. Nestes locais há a infiltração do chorume no solo em direção ao lençol freático. (Especial para O Hoje)