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sábado, 23 de novembro de 2024
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Aumento desenfreado

Alta dos combustíveis provoca devolução de 250 carros de aplicativos, em Goiás

Motoristas de aplicativos apontam que devolução dos veículos é devida a alta no preço dos combustíveis | Foto: Wesley Costa

Postado em 5 de março de 2021 por Sheyla Sousa
Alta dos combustíveis provoca devolução de 250 carros de aplicativos
Motoristas de aplicativos apontam que devolução dos veículos é devida a alta no preço dos combustíveis | Foto: Wesley Costa

João Paulo Alexandre

O aumento desenfreado no preço dos combustíveis deixa o brasileiro, mais uma vez, descrente com o futuro do país. Somente em 2021, a Petrobras aumentou cinco vezes o preço da gasolina e do diesel. O acumulado é de 41,3% para gasolina e 34,1% sobre o diesel. Essa alta reflete diretamente no preço de vários produtos, como os alimentos. Atualmente, já é possível encontrar gasolina sendo vendida em alguns postos perto dos R$ 6 e o diesel quase a R$ 4. 

A situação desagrada muitas classes, mas uma especificamente está se sentindo completamente ruída: a dos motoristas por aplicativo. A classe se vê desamparada e consideram completamente inviável continuar rodando nessas situações. A consequência disso foi a devolução de mais de 250 carros que eram alugados pelos trabalhadores, segundo a Associação de Motorista de Aplicativos de Estado de Goiás (Amago)

Para tentar chamar atenção, o grupo com 200 motoristas de aplicativos se reuniu na porta da base da petroleira em Senador Canedo como forma de protesto. O objetivo da ação é pedir a redução do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), que é o imposto estadual sobre a venda e transporte de produtos.

Um dos prejudicados com o alavancar dos preços foi Weliton Alves Louza, de 38 anos. Ele conta que trabalhou durante três anos como motorista de aplicativo e até achava o serviço rentável. “Antes, eu fazia de R$ 1,9 mil a R$ 2,2 mil por semana. Dava para eu tirar meus gastos semanais de aluguel (R$ 400) e combustível (R$ 800) e ficar com um tanto livre, mas agora não compensa mais”, pontua. 

Segundo ele, houve diminuição de viagens por causa da explosão de casos do novo coronavírus. E com o lockdown que foi determinado em Goiânia e algumas cidades vizinhas fizeram com que a confirmação de um trajeto se tornasse mais raro. Com isso, entra um outro problema: o lucro. “Muitas são viagens curtas e que os lucros pra gente beira os centavos. Não vale a pena queimar gasolina pra isso. Eu coloco R$ 50 e não consigo fazer o mesmo valor para repor”, desabafa. 

Weliton conta que trabalhava como motorista de loja antes de ser demitido devido a contenção de gastos. Ele viu nas plataformas de viagens um jeito de se reinventar. Assim como ele, aconteceu com várias outras pessoas que perderam seus empregos por diversos fatores e correram atrás de outra forma de sustentar a sua família. “Porém hoje vejo, a cada dia, as pessoas desistirem mais e estarem mais desmotivadas. É muito aumento para pouco trabalho e, consequentemente, baixo lucro”, destaca. 

Pagando para trabalhar 

A situação não foi muito diferente para Reinaldo Romildo Silva, de 29 anos. Ele conta que estava em três aplicativos de viagens para tirar o sustento. Ele ficou um ano e oito meses andando cerca de 200 a 300 quilômetros rodados diariamente. Porém, expõe que dois problemas pesaram muito para a devolução do veículo cujo qual trabalhava.

“As taxas eram muito altas. Muitas pessoas pensam que ficamos com o valor cheio das corrida, mas as plataformas ficam com uma porcentagem muito grande. Um exemplo é que fazemos uma viagem de 35 quilômetros a gente recebe cerca de R$ 29 quando ela dá quase R$ 40. E recentemente as altas dos combustíveis também pesaram muito na decisão pois eu estava pagando para trabalhar literalmente”, conta. 

Ele também afirma que conseguia rodar cerca de 200 quilômetros por semana. Porém, com o aumento constante dos combustíveis, fez que os lucros despencassem ainda mais. Segundo ele, o quilômetro rodado custa menos de R$ 0,50. Eles também reclamam da falta de suporte da plataforma. “Eles não estão preocupados. Tiram os lucros deles e pronto. A gente tem que se virar para tentar tirar um valor que seja viável para a gente pagar as nossas contas”, reforça. 

Reinaldo já busca emprego em um lava-jato, ramo no qual tem experiência. Ele afirma que está complicado mediante o fechamento dos comércios. Porém, ele afirma que há a possibilidade de voltar a trabalhar no ramo se o preço dos combustíveis se estabelecer. “Eu gosto demais de dirigir e quando estava andando tudo certo, até que a gente fazia uma grana bacana. Tem coisas que dão para reajustar, mas é um bom trabalho. Você tem autonomia para começar e parar de trabalhar quando quiser e, se não quiser rodar, você não roda”, afirma. 

O presidente da Amago, Leidson Alves dos Santos, destaca a tristeza em ver vários trabalhadores abrindo mão desse sustento por causa do preço dos combustíveis. “Entramos em colapso total. Tem a pandemia, os aumentos. Cerca de 70% das corridas acabaram. É uma conta que não fecha mais. É quase o fim da categoria”, ressalta, ao dizer que uma nova manifestação irá ocorrer na próxima semana. (Especial para O Hoje) 

Como é a composição dos preços dos combustíveis? 

Nos últimos meses, os brasileiros têm sido surpreendidos com o aumento do preço dos combustíveis. A combinação de dólar alto e de aumento da cotação internacional do petróleo tem pesado no bolso do consumidor.

O preço dos combustíveis é liberado na bomba – ou na revenda, no caso do gás de cozinha. No entanto, grande parte do que o consumidor desembolsa reflete o preço cobrado pela Petrobras na refinaria. Como num efeito cascata, alterações nos preços da Petrobras, que seguem a cotação internacional e o câmbio, refletem-se nos demais componentes do preço até chegar ao preço final.

Impostos, adição de outros combustíveis à mistura e preços de distribuição e de revenda somam-se ao valor cobrado nas refinarias. Ao sair da Petrobras, o combustível sai com o valor do produto mais os tributos federais: a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), partilhada com estados e municípios; o Programa de Integração Social (PIS) e a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins).

Ao chegar às distribuidoras, o preço sobre o combustível passa a sofrer a incidência do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), definido por cada um dos estados e o Distrito Federal.

A cada 15 dias, o Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz), órgão formado pelas secretarias estaduais de Fazenda, publica no Diário Oficial da União uma pesquisa dos preços de combustíveis cobrados dos consumidores na bomba. Essa pesquisa serve como base para o cálculo do ICMS sobre combustíveis.

Quando há aumento de ICMS, o preço pode subir novamente porque os postos costumam repassar o reajuste para o consumidor.

Um projeto de lei enviado ao Congresso no último dia 12 pretende mudar o modelo de cobrança do ICMS e introduzir valores fixos por litro, como ocorre com os tributos federais. Dessa forma, o imposto estadual não seria afetado pelos reajustes nas refinarias, reduzindo o impacto sobre o bolso do consumidor.

Composição

No caso da gasolina e do diesel, a adição de outros combustíveis à mistura eleva os preços. À gasolina que sai pura da refinaria é acrescentado álcool anidro, na proporção de 27% para a gasolina comum e aditivada e 25% para a gasolina premium.

Já o diesel sofre a adição de 12% de biodiesel. Esses custos são incorporados ao preço dos combustíveis que vai para as revendedoras, onde o preço final é definido com o custo de manutenção dos postos de gasolina e as margens de lucro das revendedoras. (Com agências) 

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