Mortes em Aparecida quase triplicam em março
Das 932 mortes registradas até o último dia 31 de março em Aparecida, 239 foram apenas em março | Foto: Wesley Costa
João Paulo Alexandre
A cidade de Aparecida registrou, até o último dia 31 de março, 932 mortes causadas pelo novo coronavírus. Porém, foram 239 confirmadas pela infecção apenas no mês de março deste ano. Isso significa 40,5% de todos os óbitos que a Covid-19 causou em todo 2020. Uma das justificativas para a crescente desses números é a nova variante do novo coronavírus que está em circulação em todo o Estado e, consequentemente, em Aparecida. Os dados foram retirados a partir do levantamento feito pelos dados oferecidos pela prefeitura diariamente.
Para se ter uma ideia, a cidade tinha a média de 3,4 mortes diárias. Após 30 dias, essa média passou para 8,2 óbitos por dia no município. Isso representa 141% de alta. As crianças também têm sido um dos grupos com casos mais agravados pela doença. A cidade conta com três demandas para atendimento infantil na rede pública. Duas delas são de leito de enfermaria e uma de leito de UTI. Desse trio, duas ainda estão sendo tratadas como casos suspeitos e uma já tem a confirmação para infecção provocada pelo novo coronavírus.
Esse reflexo foi sentido nos cemitérios da cidade. No cemitério Jardim da Esperança, que fica no Setor Buenos Aires, o mês passado registrou cerca de 300 sepultamentos entre Covid-19 e outras causas. Porém, por dia, de uma média de 10 velórios, oito eram de vítimas do novo coronavírus. Para dar conta do grande volume de enterros, os coveiros do local abriram cerca de 20 covas diárias para deixar de reserva pela grande demanda.
A administração conta que, para chegar nesse patamar de preocupação, foi necessário abrir 40 covas em dia só. A ação contou com a presença dos nove coveiros que atuam no local. Em um único dia do último mês, o cemitério registrou 20 velórios. Foi o recorde de enterros em apenas um dia.
O aumento nos números de mortes é reflexo da alta no número de casos confirmados no último mês. A cidade registrou aumento de 110% no número de casos em março em relação ao mês anterior, segundos os dados fornecidos pela Secretaria de Saúde da cidade. O terceiro mês do ano acumulou 7.727 casos, enquanto o mês de fevereiro registrou 3.678 positivações pela doença.
O aumento foi gritante se levarmos em consideração a porcentagem de elevação de casos entre janeiro e fevereiro: 2,2%. Aparecida registrou, no primeiro mês de 2021, 3.596 pessoas infectadas pela doença. A soma dos dois meses anteriores não atingiu a quantidade de casos registrados em março.
A segunda maior cidade do Estado também configura a segunda colocação entre os municípios goianos com a maior quantidade de casos confirmados, perdendo apenas para Goiânia. No último mês, Aparecida registrou uma média de 242 novos casos diariamente. A quantidade de casos registrada em março significa 13,55% das 57.022 confirmações desde o início da pandemia.
A cidade conta nove bairros que registram acima de 1 mil casos. Quatro deles estão em situação vermelha: Jardim Buriti Sereno (2.593), Cidade Vera Cruz (2.395), Jardim Tiradentes (1.869) e Setor Garavelo (1.511). Os demais configuram o risco laranja: Garavelo Residencial Park (1.223), Sítios Santa Luzia (1.173), Parque Veiga Jardim (1.124), Independência Mansões (1.048) e Vila Brasília (1.032).
Levando em consideração a faixa etária, as pessoas com 30 a 35 anos representam 25% das contaminações. Logo em seguida vem as aparecidenses de 20 a 29 anos, sendo 22% dos positivados, 40 a 49 anos com 20% e 12% das pessoas contaminadas têm entre 50 a 59 anos. As idades com menos atingidos com a doença são 0 a 5 anos, 6 a 9 anos e acima dos 80 anos, que têm 1% de integrantes cada uma.
O aumento de casos reflete diretamente nas ocupações dos leitos de Unidades de Terapia Intensiva (UTI) com destinação exclusiva para Covid-19. Na rede privada da cidade, 100% dos leitos estão ocupados. A situação é um pouco melhor na rede pública, que conta com 77% de ocupação dos leitos para tratamento intensivo da doença.
Restrições
O prefeito da cidade, Gustavo Mendanha (MDB), decidiu manter o isolamento intermitente escalonado por região. A cidade foi dividida em dez macrozonas e quatro estão fechadas diariamente de segunda a sexta. Em uma tratativa feita no último dia 24 de março, ficou acertado que aos sábados e domingos o funcionamento dos comércios não essenciais é terminantemente proibido em qualquer zona. Antes, no sábado, esses estabelecimentos poderiam funcionar até às 13 horas.
A decisão de manter a cidade nesse regime veio em reunião no último dia 18 de março. O regime adotado pelo emedebista vai a choque ao decreto estadual estabelecido que determina que todas as atividades não essenciais fechem por 14 dias e, posteriormente, abram por mais duas semanas seguidas. Gustavo descartou a adesão da normativa estadual e teve o apoio dos comerciantes locais.
Aparecida de Goiânia encontra-se em estado laranja após avaliação feita pelo Comitê de Prevenção e Enfrentamento à Covid-19 da Matriz de Risco. Isso significa que o município encontra-se em risco alto.
Fiscalização fecha bares, distribuidoras, motéis e igrejas
Apesar de todo o esforço tomado, muitas irregularidades são encontradas em várias partes da cidade. A Secretaria do Meio Ambiente de Aparecida de Goiânia (Semma) afirma que 1.010 festas com a presença de som mecânico foram encerradas apenas em 2021. Segundo a pasta, as festas ocorreram em casas, locais públicos, áreas comerciais e chácaras.
A Semmas ainda afirma que mais de 1,2 mil denúncias de festas clandestinas foram efetuadas. O número de reincidências foi baixo: apenas quatro voltaram a realizar os encontrados. Mais de 90% das denúncias foram atendidas.
No último final de semana de março, a prefeitura montou uma força-tarefa que culminou na interdição de 50 estabelecimentos por promoverem aglomerações. Entre os lugares fiscalizados estavam restaurantes, distribuidoras de bebidas, bares, motéis e até igrejas. No total, foram 200 pontos fiscalizados. Sete carros de som automotivos e duas pessoas foram presas.
Dentre as ocorrências, estão a multa de dois motéis por não cumprirem a exigência de apenas duas pessoas por suíte e promoviam aglomeração. Cerca de oito suítes estavam com excesso de pessoas e o motel recebeu multa no valor de R$ 4,8 mil. Outro estabelecimento que contava com aglomeração em seis suítes também foi multado em R$600.
Uma das festas interditadas contava com a presença de 10 pessoas e ocorria no Jardim Pampulha. A igreja multada e interditada era localizada no Jardim Tiradentes e cerca de 40 pessoas estavam no local. A portaria exige que a capacidade máxima do espaço religioso seja de 20%. Um bar foi flagrado com pessoas consumindo produtos no local. O caso aconteceu no Setor Garavelo. O local foi multado e interditado. Ao todo, 40 pessoas foram multadas por não usarem máscaras nas ruas da cidade. (Especial para O Hoje)