Sem opções para enfrentar Caiado, oposição cai no vazio
MDB, PSL, PSD, Progressistas e o combalido PSDB caminham para um papel secundário no processo eleitoral do ano que vem | Foto: Reprodução
A eleição para presidente da República em 2022 tende a ser o triunfo da ideologia de centro sobre os extremos, quais sejam o representado pelo Partido dos trabalhadores e associados, por um lado, e o grupo que apoia o presidente Jair Bolsonaro (por enquanto sem partido), por outro. Mas, dessa vez, com uma diferença em relação a pleitos passados, quando a disputa nacional pouco influenciava nas tratativas regionais. Ano que vem, as alianças e o posicionamento final dos candidatos a governador nos Estados serão inequivocamente guiadas pelas decisões de cúpula dos partidos, a partir de Brasília.
Em Goiás não será diferente, mas há um componente intrafronteiras de peso que vai ser o catalisador de toda a movimentação com vistas ao Palácio das Esmeraldas: é o governador Ronaldo Caiado (DEM). Ele praticamente não tem obstáculos para buscar a reeleição. Não há concorrentes ou alternativas. Dificilmente, faltando um ano e seis meses para as eleições, seus adversários terão tempo hábil para criar uma candidatura de oposição competitiva.
A dificuldade número um é que não existe nada de concreto – e nem teoricamente falando – que possa servir de argumento para a desconstrução da gestão de Caiado e sua imagem inatacável de austeridade, zero de corrupção, bem intencionado na área social, com um programa de obras começando a deslanchar depois da conquista do alívio para o estrangulamento fiscal que asfixiava o Estado.
Sem argumentos para um discurso de oposição
As principais legendas que poderiam ensaiar uma tentativa de enfrentamento a Caiado, como MDB, PSL, PSD, Progressistas e o enfraquecido PSDB, não acharam ainda nenhum lastro para ancorar o barco capaz de abrigar todos os interesses de todas elas. Os emedebistas, depois de perder a prefeitura de Goiânia com o rompimento com o prefeito Rogério Cruz, parecem apalpar no escuro, agora orientados por uma tênue e esmaecida luz, a do prefeito de Aparecida Gustavo Mendanha. Inexperiente, ele resolveu posar de liderança do partido, viajando a outros municípios e procurando lideranças maiores como a de Iris Rezende, Marconi Perillo e Sandro Mabel para “conversar”.
Detalhe: no MDB, o que vale mesmo é a palavra de Daniel Vilela, presidente estadual do partido e herdeiro político de Maguito Vilela. Mas Daniel recebeu do seu amigo e presidente nacional Baleia Rossi a incumbência incontornável de eleger pelo menos três deputados federais em 2022, com a inclusão dele mesmo como puxador de votos da chapa. E deixando de lado o risco suicida de se aventurar na disputa – mais uma vez – pela governadoria. Perdendo, como tudo indica, fulminaria de vez a sobrevivência do MDB em Goiás.
Já o Progressistas depende dos movimentos do presidente Jair Bolsonaro. Se ele se abrigar na legenda, como o serpentário político de Brasília especula, Alexandre Baldy ganha fôlego e pode até a vir disputar a tão sonhada vaga para o Senado. O problema é a possibilidade do presidente nacional da legenda, Ciro Nogueira bater o martelo e apoiar a reeleição de Caiado, como consequência do contexto nacional, o que restringiria Baldy a no máximo uma candidatura a deputado federal, despachando Adriano do Baldy para as calendas.
O PSD, comandado pelo ético veterano Vilmar Rocha, caminha para um ponto de inflexão: se o mandatário da legenda Gilberto Kassab realmente entrar na corrida presidencial, o cenário em Goiás vai se alterar a favor do senador Vanderlan Cardoso e do deputado federal francisco Jr. Ambos são defensores de uma aliança com o governador, devidamente avalizada por Henrique Meirelles, que só se filiou ao partido em Goiás com a expectativa de que teria a vaga para o Senado na chapa da reeleição de Caiado.
Na esteira de complicações para os partidos do contra em Goiás, o presidente estadual do PSL deputado federal Delegado Waldir também não se encontra em momento confortável. Seu partido caminha para ser desidratado assim que Bolsonaro se filiar a uma legenda qualquer, levando a tiracolo pelo menos 18 deputados do inflado PSL. Waldir, com isso, terá dificuldades para montar uma chapa onde ele tenha vaga garantida para concorrer ao Senado, seu projeto. Sem a bandeira de segurança, empalmada pelo sucesso de Caiado na área, sem a onda bolsonarista e sem perfil majoritário, seria uma quimera ganhar um mandato senatorial.
Por fim, no espectro oposicionista, o combalido PSDB, massacrado pelos erros do passado e as inconsequências do presente, com os ex-governadores Marconi Perillo e José Eliton insistindo em um discurso que mais parece um pergaminho retirado de algum sarcófago. Eleitoralmente, diante dos desgastes acumulados, não tem chance alguma, nem mesmo como parceiro capaz de contribuir com alguma proposta de alternativa para Caiado – que, de resto, sequer existe e provavelmente não vai existir.
Como o governador que menos faz política construiu a reeleição
Em toda a história de Goiás, o governador Ronaldo Caiado é o que menos faz política no exercício do cargo. Não cede, por exemplo, concessões para atender a prefeitos ou deputados fora da linha institucional de atuação do governo. Ainda assim, é um dos mais bem sucedidos na área, a ponto de construir a sua reeleição como a hipótese mais provável para o desfecho das eleições de 2022.
Caiado não tem nem mesmo uma maioria esmagadora na Assembleia, como ocorria com seus antecessores, geralmente comprada a peso de ouro. Mas não há um só projeto de relevância para o Estado que não tenha sido aprovado na íntegra pelo Legislativo, muitas vezes com votos da bancada de oposição.
O que explica o sucesso do governador na política é a sua autoridade moral, não conchavos de ocasião ou acordos às vezes inconfessáveis. Isso é novidade em Goiás. Caiado não transige. Gostese ou não dele, não há como investir contra a sua postura ética e o zelo rigorosamente legal com que reveste as decisões da sua gestão.
Essa postura e esse comportamento criaram para o eleitorado um contraste significativo em relação aos governadores do passado, dando à população uma sensação de pertencimento e a convicção de que Goiás, em relação ao resto do país, encontra-se em uma situação privilegiada quanto a sua gestão pública.
Acrescente-se a isso a espetacular reconquista da estabilidade fiscal, com o fim do modelo de desequilíbrio entre receitas e despesas que vigorou durante décadas. todas as reformas incluídas no chamado dever de casa dos Estados foram implantadas. O pagamento do funcionalismo, símbolo maior da superação da crise financeira, passou a ser feito dentro do mês trabalhado. Sem obras de impacto e sem marketing, Caiado colocou Goiás em um rumo que, antes, imaginava-se impossível. Daí a consistência da sua liderança e as expectativas elevadas que cercam a sua reeleição. (Especial para O Hoje)