Preços altos derrubam vendas de alimentos
Goiás registrou queda de 12,6% das vendas em supermercados em março de 2021
Os hipermercados, supermercados e comércios de produtos alimentícios, bebidas e fumo de Goiás registraram queda de 12,6% nas vendas em março de 2021, de acordo com a Pesquisa Mensal de Comércio, realizada pelo Instituto Brasileiro de Estatística e Geografia (IBGE). O setor até chegou a ter uma alta no início da pandemia, mas agora amarga o acumulado de 6,5% na queda das vendas nos últimos 12 meses.
O presidente da Associação Goiana de Supermercados (Agos) destaca que o segmento até ficou animado com as grandes ofertas de vendas. “A gente se deparou com muitas facilidades, como as vendas on-line, por aplicativos de entrega – os conhecidos e-commerce -, e as vendas por telefone. Mas mesmo assim, tivemos essa queda nas vendas. As indústrias, entretanto, estão otimistas com a retomada das atividades sem restrições e, isso, pode acabar nos beneficiando”, pontua.
Um reflexo disso é destacado por José Elias, gerente do Super Zé Supermercados, em Goiânia. Ele atribuiu a queda nas vendas à alta dos preços de alguns produtos nos últimos meses. “A carne, o óleo e o leite são alguns produtos que tiveram grandes altas nos valores nos últimos tempos. A gente nota que alguns clientes substituem os produtos, mas outros preferem dar uma freada no consumo”, pontua.
A pandemia deixou os comerciantes de mãos atadas de como fazer para atrair os consumidores para as lojas. “Antes a gente usava algumas estratégicas como degustação e sorteios que ajudavam no fluxo de pessoas. Nesse momento, não podemos fazer isso para não gerar aglomerações. Então, a gente acaba investindo nas redes sociais para instigar o público a aproveitar o que está de promoção”, reforça José.
No entanto, José afirma que, em meio a essa dificuldade, as vendas por delivery foi um reforço muito importante nesse momento.“Tivemos mais de 100% nas vendas nessa modalidade. O povo agora quer receber os produtos em casa. Queremos manter essa prática até o final da pandemia porque notamos que, para algumas pessoas, se tornou algo mais prático”, destaca.
Outro lado
No meio de tudo isso, a dona de casa é quem é mais impactada. A doméstica Maria de Nazaré dos Santos, de 65 anos, conta que o viu o orçamento ficar mais apertado devido às diárias que era acostumada a fazer caírem em cerca de 50%. A consequência disso foi sentida no momento em que foi fazer compras. “Eu notei que boa parte dos produtos que era acostumada a comprar estava bem mais caro. Com isso, eu acabei reduzindo a quantidade de comprar”, sublinha.
Apesar de morar sozinha, Maria conta que a dispensa sempre esteve cheia já que era acostumada a receber visitas nos finais de semana, o que deixou de acontecer durante a pandemia. “Eu sempre gostei de fazer pratos da minha região para meus convidados – ela é do Maranhão. Fazer uns tira gostos para gente beber uma cervejinha. Ainda bem que não pode receber ninguém nesse tempo porque do preço que as coisas estão, está complicado receber com a fartura que tinha antes”, destaca.
Maria diz que os alimentos que mais pesaram no bolso foram arroz e carne. Segundo ela, sem fazer pesquisa, ela já chegou a pagar R$ 28 em um saco de cinco quilos do alimento. A carne mais barata que encontrou estava, em média, R$ 25 o quilo. Ela lembra que já chegou a gastar R$ 600, mas que, atualmente, o gasto não beira os R$ 300. “Eu estava acostumada a pagar estourando R$ 13 no pacote do arroz. O preço mais que dobrou nos últimos tempos. Carne também se tornou algo cada vez mais raro na minha mesa”, recorda.
Para isso, Maria conta que recorreu a outros meios para pagar mais barato. Isso inclui a substituição de alimentos e recorrer a marcas mais baratas. “Eu decidi tirar o arroz da minha alimentação e troquei por farinha, que eu consigo comprar por litro e acaba saindo mais barato para mim. Carne também eu troquei por frango, peixe e ovos. Ovos, inclusive, foi algo que passei a consumir muito nos últimos meses”, reforça.
Segundo ela, o feijão é o alimento mais sagrado na sua refeição. “Esse eu não deixei de consumir. Amo feijão. Porém, para não deixar de comprar, acabei adotando outras marcas mais baratas para sempre ter em mesa. Até isso tudo [pandemia] acabar, eu vou fazer assim. Mas não minto que fico frustrada ao ver a minha dispensa cada vez mais escassa por essa situação”, afirma.
Orçamento reduzido
O economista especialista em finanças, Marcus Antônio Teodoro Batista, explica que a discrepância dos dados pode se resumir no fato de que no primeiro trimestre a economia é mais retraída. Ou seja, há gastos com mais serviços e as famílias acabam se adequando nesse orçamento. “O primeiro trimestre acaba sendo um dos mais apertados, não tem o 13º salário e isso faz com que as pessoas acabem consumindo menos. Ou seja, é uma demanda agregada”, pontua.
Marcus lembra que a alta nos preços fez com que muitas famílias se adequassem a essa realidade. “A gente se deparou com alta no preço das carnes, commodities, café, alguns hortifrutigranjeiros. Isso acaba que o consumidor se depara com o valor final da compra. Se isso apertar no orçamento, a família vai se adaptando. Apesar disso ser muito variável, pois vai depender do costume de cada família”, alega.
Dias de promoção
O economista destaca que é muito importante os consumidores analisarem os dias das promoções de cada sessão para economizar. “Muitas redes de supermercado colocaram a quinta e sexta-feira como os dias da promoção da carne. Terça e quarta são os dias do hortifruti. Segunda os dias dos produtos da limpeza e assim vai. A maioria das redes obedece esse ciclo. Um outro ponto que deve se respeitar é não comprar em excesso e não parcelar alimentos nos cartões de crédito”, afirma.
Marcus finaliza destacando que o atacarejo acaba sendo uma boa opção de compras, podendo, em certos casos, os descontos chegarem a 20%. “Nesses locais, a pessoa acaba tendo maiores descontos por causa da quantidade de produtos comprados. A tributação dos atacarejos é diferente.
Eles são pessoas jurídicas e estão repassando para pessoas físicas. É uma vantagem competitiva. “Para você ter uma ideia, uma compra de R$ 700 em um supermercado comum pode sair a R$ 450 no atacarejo”.