Aumento do preço do gás faz vendas do produto caírem
Vendas de botijões caíram 20% desde o início do ano. Alta também impacta nos restaurantes
Brasileiro não consegue ter um minuto de paz. Principalmente com as constantes altas que sucessivamente atacam os bolsos dos cidadãos. Combustíveis, alimentação em geral e gás de cozinha. Com exceção de maio, todos os demais meses deste ano tiveram aumento no gás de cozinha. O mais recente foi anunciado pela Petrobras no último dia 11 de junho, onde o reajuste ficou em 5,19%, representando a alta de R$ 0,19 por quilo.
O reflexo disso é que a alta do gás de cozinha fez com que a venda dos produtos caíssem 20% neste ano, segundo o Sindicato das Empresas Revendedoras de Gás da Região Centro-Oeste (Sinergás). O presidente da entidade, Zenildo Dias, destaca que a dona de casa tem procurado outra forma para cozinhar o alimento. “É fogão elétrico, de lenha e até álcool. Tudo se torna uma alternativa para não pagar o preço de revenda dos botijões de gás”, conta.
Em Goiás, segundo Zenildo, o preço médio do botijão varia de R$ 95 a 100. Já em Goiânia, o produto pode ser encontrado em até R$ 105. O lucro de um revendedor está sendo de, em média, R$ 20 reais, já que eles já estão comprando de R$ 77 nas distribuidoras. O lucro, segundo ele, não dá para tirar base de todo o gasto que é levado em consideração na revenda do produto.
“É calculado o frete em cima das entregas. Hoje, se um freteiro for levar um guarda-roupa pro outro lado da rua, você paga, no mínimo, cerca de R$ 20. Imagina a gente que acaba fazendo entrega em regiões distantes da que estamos instalados pelo fato de clientes que confiam na gente. Atualmente, você gasta R$ 80 para encher o tanque de uma moto. Antes, era gasto a metade. Ou seja, tudo isso você tem que colocar na ponta da caneta para não sair com um maior prejuízo”, reforça.
Com isso, Zenildo reforça que há empresários que estão passando por dificuldades nesse momento de pandemia. “Tem empresários que acabam baixando o preço para revender os produtos. Tem situações que a gente se depara com a dona de casa sem dinheiro completo para pagar aquele valor. Tem coisas que a gente chega que nos deparamos com criança chorando e mãe esperando o gás para preparar a mamadeira. Precisamos do lucro, mas temos coração”, reforça.
Mesmo com todo o esforço, o presidente afirma que muitos empresários do ramo fecharam seus negócios. “Apenas em Goiânia, cerca de 30 empresários já fecharam as portas esse ano. Porque, querendo ou não, é um prejuízo muito grande. A gente tem que pagar impostos e ainda os salários dos colaboradores. E nada disso pode atrasar. Se for imposto, o governo bloqueia o nosso funcionamento e os funcionários têm suas casas para sustentar”, destaca.
Novo Mercado do Gás
Zenildo tece diversas críticas sobre a promessa feita em campanha pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido). O governo apostou no chamado “Novo Mercado do Gás” como política para baratear o gás natural. O projeto foi lançado em julho de 2019 e tem como objetivo promover a concorrência no setor. Entretanto, até o momento, essa conquista não foi alcançada. “Os governantes têm que parar com tantas mentiras. Prometeu que o gás iria chegar a R$ 40, mas com todo o processo necessário como venda, envase, imposto, transporte é impossível vender esse gás por menos de R$ 89.”
Alta nos pratos
Como sendo instrumento crucial para preparo de alimentos, a alta do preço do gás afeta diretamente o preço dos alimentos em restaurantes. O chef de cozinha Pedro Ernesto conta que sente os mesmos impactos que a dona de casa, pois vai muito ao mercado e utiliza o botijão de 13 quilos. Segundo ele, o botijão de 13 quilos acaba sendo mais vantajoso do que o de 45 quilos, que usa apenas em grandes eventos.
Essa alternativa, de acordo com o chef, é um dos meios para tentar economizar no momento dos preparos. “Eu costumo fazer tudo de uma vez. Por exemplo, se eu tenho que cozinhar três vezes o feijão, eu cozinho tudo de uma vez e armazeno da forma correta até a utilização de todos eles. Em outros pratos que não perdem a qualidade, eu consigo fazer no microondas para tentar economizar”, reforça.
Há 10 anos na gastronomia, Pedro destaca que outras alternativas, como fogão à lenha e elétrico não lhe atendem no atual momento. O chef reforça que busca fazer alternâncias na matéria prima para não passar grandes valores nos pratos. “Se um prato for feito de peito de frango, eu tento utilizar coxa e sobrecoxa, que está mais barata e fica com o mesmo sabor. Claro que isso reflete em alguns clientes que dão um tempo, passam a cozinhar em casa, mas depois voltam porque notam que os preços subiram”, explica.
Pedro disse que consegue se manter pelo fato de trabalhar com outras nuances dentro da gastronomia e que esse é um dos momentos mais críticos com alta de preços que vivencia desde o início da sua carreira. “Eu tenho o buffet e dou aula. Se não fosse isso, seria difícil me manter no fim do mês”, pontua.
Cozimento do feijão
Pedro dá uma dica importante para a dona de casa sobre o preparo do feijão. Segundo ele, a altura da chama não interfere no cozimento do alimento. “Muitas pessoas pensam que com a chama mais alta, ele vai cozinhar mais rápido. Isso é mito. É interessante você deixar o feijão de molho. Além de tirar certos nutrientes que deixam a pessoa com sensação de inchaço, ele hidrata o alimento e facilita o seu cozinhar. É a pressão da panela que faz o feijão cozinhar e não a altura da chama”, sublinha.