Fuga de talentos: a “remotização” do trabalho e a emigração de profissionais de tecnologia do Brasil
O mundo presenciou uma mudança histórica na forma de trabalhar em 2020. O trabalho remoto, que antes era um benefício de exceção oferecido por algumas empresas, tornou-se regra, principalmente entre as empresas de tecnologia. Ao que tudo indica, o modelo home office é um caminho sem volta e dificilmente será revertido. Aos poucos, uma realidade comum para as mais […]
O mundo presenciou uma mudança histórica na forma de trabalhar em 2020. O trabalho remoto, que antes era um benefício de exceção oferecido por algumas empresas, tornou-se regra, principalmente entre as empresas de tecnologia. Ao que tudo indica, o modelo home office é um caminho sem volta e dificilmente será revertido. Aos poucos, uma realidade comum para as mais diversas áreas de negócio. As empresas foram obrigadas a adotá-lo e descobriram, na prática, que seus custos são muito menores quando os funcionários não estão no escritório. Já as crenças antigas, como a de que os colaboradores trabalhariam menos, vêm sendo desconstruídas gradativamente ao passo que os times mostram engajamento, ânimo e produtividade.
Segundo estudo do OTRS Group, realizado no Brasil, mais da metade dos entrevistados (54%) afirmam que podem trabalhar de forma mais eficiente em casa. Com isso, boa parte das novas vagas de trabalho abertas em tecnologia, e que antes eram presenciais, agora passaram a ser completamente remotas, e não só no Brasil, mas no mundo todo. Por consequência, e em efeito cascata, existem muito mais oportunidades de trabalho remotas disponíveis no exterior. A tendência, agora, é que os colaboradores escolham como e onde querem trabalhar, sobretudo aqueles que têm filhos pequenos. O mundo mudou, está mudando e vai mudar ainda mais.
A digitalização do trabalho abriu as fronteiras e aumentou a disponibilidade em termos de contratação, diante da possibilidade de recrutar profissionais de qualquer local do País e do mundo, aumentando de forma significativa a competição por talentos. Se antes as empresas disputavam profissionais com outras empresas da mesma cidade ou Estado, agora, a disputa abrange todo o País e ultrapassa a fronteira nacional. Esse movimento faz com que as corporações sejam forçadas a revisitar as suas réguas salariais para conseguirem contratar bons profissionais, já que essas pessoas são diariamente requisitadas por outras empresas.
O fenômeno do trabalho remoto deu “poder” aos candidatos, na medida em que as novas possibilidades de trabalho surgem e eles passam a ter mais opções para escolher onde e como preferem trabalhar.
Isso é tão real que profissionais norte-americanos estão cogitando pedir demissão, ou não mais retornarem ao trabalho, caso sejam obrigados a regressarem ao modelo antigo. Alguns países, como o Canadá e a Alemanha, antes mesmo da pandemia, já concediam vistos de trabalho especiais para que esses profissionais fossem trazidos. Porém, se antes os insatisfeitos com a situação do Brasil vislumbravam as oportunidades de trabalho no exterior como uma chance de ouro para migrarem, agora, essas motivações já não são plausíveis e, também, não justificam mais “importar” um profissional de fora.
Com a “remotização” do trabalho, passaportes e outras burocracias da imigração se tornam dispensáveis, derrubando de vez as fronteiras entre os países no contexto de trabalho. Cria-se, então, um dilema para os profissionais de tecnologia qualificados e fluentes em outras línguas: se podem trabalhar para empresas de qualquer lugar do mundo, ganhando em outras moedas (como o dólar ou a libra esterlina) que valem cerca de 5 ou até 7 vezes mais que o real, porque se contentar com um trabalho no Brasil?
De fato, no quesito salário, fica inviável para as empresas brasileiras competirem. Além disso, o convívio com os colegas de trabalho, as oportunidades de crescimento e o desenvolvimento pessoal representam motivações para os colaboradores quando optam por ficar ou não em um ambiente de trabalho. Nesse sentido, as multinacionais têm muito a perder para a concorrência, visto que trabalhar utilizando outro idioma, que não a língua-mãe, diferenças culturais e o peso do fuso horário podem ser estressantes e menos motivadores. E nesse aspecto há uma oportunidade para as empresas brasileiras estarem no jogo e na competição pelos talentos.
As pessoas não querem mais trabalhar em um ambiente em que são meras engrenagens de uma máquina gigante, mas, sim, terem protagonismo, serem desafiadas diariamente, valorizadas, e terem espaço para desenvolverem suas habilidades e crescerem na carreira. Por outro lado, as empresas precisam nutrir uma cultura forte e um ambiente agradável.
É preciso coragem e está mais que na hora de repensar.