Conheça o monumento que deu nome à Praça do Trabalhador, destruído por ser considerado comunista
Monumento ao Trabalhador foi vítima de depredação e esquecimento, sem punição para os responsáveis; já recentemente, manifestantes que incendiaram a estátua de Borba Gato em SP, foram duramente criticados
Localizada no Centro de Goiânia, a Praça do Trabalhador foi palco de um acontecimento pouco conhecido, a destruição de um monumento do mesmo nome. Construído no ano de 1959, o Monumento ao Trabalhador esteve presente durante apenas 10 anos, quando foi depredado por ser considerado comunista.
Conforme explica Pedro Célio, professor da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Federal de Goiás (UFG), em seu artigo “Mudanças urbanas e fragilidades da política de memória: A destruição do Monumento ao Trabalhador em Goiânia”, o Monumento ao Trabalhador foi fruto da reivindicação de sindicalistas da cidade, que lutavam pelo reconhecimento da importância do papel dos trabalhadores no contexto social da época.
Nesta época, o governador José Feliciano de Oliveira e o prefeito da capital, Jaime Câmara, atenderam ao pedido dos líderes sindicais, de forma que a obra foi aprovada e realizada no ano de 1959. O monumento era composto por colunas de concreto dispostas em dois semicírculos, um em frente ao outro, quase completando um círculo perfeito. Cada semicírculo contava com oito colunas de sete metros de altura, como espetos, interligadas por uma faixa de concreto. Em conjunto, o monumento resultava em uma peça de arte com dois painéis que ficavam na parte central da Praça do Trabalhador.
Aparentemente inofensivo, o monumento não esteve presente por muito tempo. Em abril de 1969, o Comando de Caça aos Comunistas (CCC) se encarregou de destruí-lo, derramando piche fervido nos dois murais. A pasta preta cobriu a quase totalidade das duas superfícies e apenas uma pequena parte dos painéis permaneceu à vista.
O então prefeito da Capital, Iris Rezende, não tomou nenhuma providência para a limpeza e recuperação da obra, e as gestões seguintes seguiram o mesmo caminho. Em 1973, o prefeito Manoel dos Reis ordenou a raspagem das pastilhas deterioradas, mas sem nenhuma proposta de reconstituição. Em 1986, no mandato de Joaquim Roriz, as duas armações de concreto que serviam de sustentação aos antigos painéis foram derrubadas, com a justificativa de desobstruir a extensão da Avenida Goiás. Finalmente, em 2003, um grupo de trabalho chegou a ser instituído pelo prefeito Pedro Wilson para viabilizar o retorno do monumento após reivindicações, mas a proposta não vingou.
Quanto ao episódio de depredação, a ação destrutiva do CCC foi realizada às escuras, durante uma madrugada, e os responsáveis diretos não foram identificados e responsabilizados pelo ato de vandalismo. O caso remete a um mais recente, que divide opiniões. No último sábado (24/07), em São Paulo, a estátua do bandeirante Borba Gato foi incendiada por manifestantes.
Enquanto alguns entendem como positiva a destruição da imagem de Borba Gato, que homenageia um bandeirante responsável por milhares de mortes, outros repreendem o vandalismo e defendem a manutenção e a preservação do monumento. Nesse sentido, um dos suspeitos de provocar o incêndio chegou a ser detido, e o caso está sendo investigado. Além disso, o prefeito de São Paulo lamentou o ocorrido, e afirmou que um empresário irá doar o valor necessário para restaurar o monumento.
O desenrolar do caso da estátua de Borba Gato, no entanto, é diametralmente oposto ao que ocorreu no Monumento ao Trabalhador, em Goiânia. Enquanto a obra que homenageia um assassino se torna alvo de compaixão, o monumento que homenageava trabalhadores permanece esquecido, destruído por seu teor supostamente comunista, e vítima da omissão e do desinteresse de gestores municipais e estaduais, que contribuíram para o contínuo apagamento do Monumento ao Trabalhador e da sua história.