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terça-feira, 26 de novembro de 2024
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Pesquisa

Brasil é a nação com maior sensação de viver em ‘país em declínio’, aponta pesquisa

Levantamento realizado em 25 países mostra que os brasileiros têm uma percepção negativa acima da média mundial a respeito de suas respectivas instituições políticas

Postado em 28 de julho de 2021 por Giovana Andrade
Brasil é a nação com maior sensação de viver em 'país em declínio'
Levantamento realizado em 25 países mostra que os brasileiros têm uma percepção negativa acima da média mundial a respeito de suas respectivas instituições políticas | Foto: Reprodução

Realizada pela empresa Ipsos, a pesquisa de opinião “Broken-System Sentiment in 2021” (em tradução livre, “Sentimento de Sistema Falido em 2021”) mostrou que os brasileiros lideram o ranking que aponta a sensação de que o próprio país está em declínio. A pesquisa de opinião foi realizada em 25 nações e os resultados podem ser conferidos na íntegra, em inglês.

De acordo com o levantamento, entre os mil brasileiros entrevistados 69% afirmam que o país está em declínio, o maior índice observado entre todos os países participantes da pesquisa.

O resultado da pesquisa mostra que o Brasil está 12 pontos percentuais acima da média mundial, que aponta 57% de pessoas com a percepção de viver em países em declínio. Os índices são altos também no Chile, na Argentina e na África do Sul, todos com 68%.

Perguntados se acreditam que a sociedade do país está “falida”, 72% dos brasileiros responderam que sim, índice semelhante ao observado na Hungria e superado apenas pelo da África do Sul (74%). A respeito dessa perspectiva, a média global é de 56%.

Em entrevista à BBC News Brasil, Helio Gastaldi, porta-voz da Ipsos, afirma que a liderança em um ranking de sentimentos tão negativos deve ser motivo de desconforto no Brasil. “Espero que a pesquisa cumpra o papel de dar um chacoalhão. A crítica (às instituições políticas) é generalizada ao redor do mundo, mas não de forma tão aguda quanto no Brasil”, afirma.

A pesquisa da Ipsos foi feita online com 19 mil respondentes de 16 a 74 anos, entre março e abril, nos Estados Unidos da América, Canadá, Malásia, África do Sul, Turquia, Bélgica, França, Alemanha, Reino Unido, Austrália, Itália, Japão, Espanha, Hungria, México, Holanda, Peru, Polônia, Rússia, Coreia do Sul, Suécia, Argentina, Chile, Colômbia e Brasil.

Segundo a Ipsos, as amostras são representativas da composição populacional dos países mas pode refletir a opinião de uma população majoritariamente urbana, próspera e com mais acesso à educação em alguns casos, inclusive no Brasil.

Insatisfação com líderes e modelos políticos

De modo geral, a pesquisa demonstra a decepção das pessoas com suas instituições: na média global, 71% dos entrevistados concordam que “a economia está manipulada para favorecer os ricos e poderosos” e 68% concordam com a ideia de que partidos e políticos tradicionais não se preocupam com as “pessoas como eu”.

A pesquisa do Ipsos aponta ainda que, quanto maior a sensação de viver sob um “sistema falido”, maior a manifestação de apoio a modelos populistas ou antielite. No Brasil, por exemplo, 74% dos entrevistados disseram concordar com a frase “o Brasil precisa de um líder forte para retomar o país dos ricos e poderosos”, dez pontos percentuais acima da média global.

Por sua vez, 61% dos brasileiros afirmaram que “para consertar o país, precisamos de um líder forte, disposto a quebrar as regras”, um índice menor, mas igualmente alto, e acima da média global de 44%.

“Isso reforça o discurso populista de que as instituições não servem e de que tem de vir alguém de fora para consertá-las — um remédio que a gente já sabe que não funciona”, afirma Helio Gastaldi.

No lugar de depositar as esperanças em um líder que derrote o sistema e milagrosamente resolva os problemas, Gastaldi afirma que o mais produtivo seria fortalecer as instituições e aumentar a participação popular nelas.

Nesse ponto, Gastaldi destaca que o apoio a um “líder forte que quebre as regras” é maior entre os mais velhos (acima dos 50 anos) do que entre os mais jovens, “que parecem mais predispostos a (confiar em) soluções institucionais”.

De qualquer modo, ele considera os números preocupantes. “É um índice alto, preocupante, que reflete um certo saudosismo da ditadura (militar no Brasil), uma visão nublada e incorreta desse período como sendo um de mais ordem ou de menos corrupção. Isso também alerta para a necessidade de um diálogo intergeracional”, analisa.

A pesquisa aponta ainda que 82% dos brasileiros acham que a elite política e econômica não se importa com as pessoas que trabalham duro, e 76% dos entrevistados acreditam que a principal divisão da sociedade do Brasil é entre cidadãos comuns e a elite política e econômica.

“As pessoas entendem que quem pode ou tem responsabilidade de fazer algo (para melhorar o país) o faz em benefício próprio”, explica Gastaldi. “São vários indicadores negativos em que o Brasil está muito acima da média mundial, mostrando que a população se sente muito desassistida”, prossegue.

Migração

Apesar de liderar a maioria dos tópicos abordados na pesquisa, os brasileiros ficam abaixo das médias internacionais no que diz respeito a temas migratórios.

Enquanto 57% da média global concordam com a frase “quando os empregos são escassos, empregadores devem priorizar nativos a imigrantes”, 53% dos brasileiros se posicionam dessa forma, e apenas 26% acham que o Brasil seria mais forte se deixasse de receber imigrantes, contra 38% no resto do mundo.

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