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sábado, 23 de novembro de 2024
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Projestos

Revitalização do Centro não agrada e se arrasta por 20 anos

Empresários afirmam que custos são mais altos do que as contrapartidas oferecidas pela prefeitura

Postado em 13 de agosto de 2021 por João Paulo
Revitalização do Centro não agrada e se arrasta por 20 anos
Empresários afirmam que custos são mais altos do que as contrapartidas oferecidas pela prefeitura | Foto: Jota Eurípedes

A revitalização do Centro de Goiânia já se tornou uma verdadeira novela com duas décadas de duração. Muito já se foi especulado e pouco realmente foi executado. Tudo teve início em 2001, quando, na gestão de Pedro Wilson (PT), o projeto constituía na retirada de ambulantes das calçadas da Avenida Goiás e reforma do canteiro central da via. Porém, preferiu a restauração de calçadas e fechadas locais. Ano passado, Iris Rezende sancionou a Lei das Fachadas, que limitava as publicidades nos imóveis e determinava a conservação dos edifícios. Entretanto, desde a assinatura desta lei, ninguém aderiu à proposta.

 Isso porque, de acordo com lojistas do Centro, os custos para a retirada das fechadas e revitalização dos prédios saem muito mais caros do que as promessas da concessão de dois anos de isenção do Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU). De acordo com o presidente da Associação Comercial e Industrial do Centro (Acic), Uilson Manzan, o empresário, que, na maioria dos casos, é locatário do imóvel, é quem receberia o benefício e não o lojista.

O presidente do Sindicato do Comércio Varejista no Estado de Goiás (Sindilojas), Eduardo Gomes, completa que o custo para realização dos serviços é bem mais alto do que a contrapartida do Paço. Isso, segundo ele, é o que resulta na baixa adesão da Lei das Fachadas. Porém, o Paço entende que a falta de interesse veio em decorrência da Covid-19, que levou ao fechamento de alguns estabelecimentos.

Diante dessa situação, a prefeitura tenta mudar o dispositivo da lei para que a adesão ao projeto possa ser prorrogada até 2023. O prazo da lei atual se encerrou no último mês de janeiro. Dessa forma, já são nove projetos em duas décadas em que se busca a revitalização do Centro, mas sem sucesso.

Importância

A arquiteta, urbanista e conselheira do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Goiás (CAU-GO), Adriana Mikulaschek, destaca que a revitalização do Centro é uma intervenção urbana para trazer vida para algum local. Segundo ela, a área central é um ponto de Goiânia que conta com uma boa estrutura de transporte e de atendimento à população. Entretanto, tudo está sendo mal aproveitado há um bom tempo. “Ali é uma área comercial que, depois das 18h, 18h30, não tem mais movimento, Isso gera muita insegurança e toda a infraestrutura é perdida”, destaca.

Eduardo Gomes concorda que a revitalização do local é necessária para trazer mais segurança e movimento para a região. Segundo ele, todo esse processo “é uma luta antiga”. Apesar disso, ele diz que não sabe a motivação para tantos projetos terem sido elaborados e não terem ido adiante.

Adriana é mais categórica. Ela acredita que tudo se resume na falta de vontade política do poder público e questões culturais e educação. Para ela, é necessário parar com a reprodução de modelos e buscar salvar a nossa identidade. “Precisamos fazer ações junto com a população, pois estamos querendo revitalizar o Centro de qual cidade?”, questiona.

Para Uilson Manza, as propostas que foram apresentadas até o momento não possuem o viés comercial e prático. Segundo o presidente da Acic, as propostas apresentam apenas gastos públicos e sem nenhum atrativo para adesão de grandes empresas. Já a urbanista entende que as propostas devem focar nos usos do bairro. Ela cita o projeto ReViva Goiânia como uma boa ideia, pelo fato de incentivar a mudança dos usuários para vários períodos do dia e da semana. Dessa forma, a ideia é de que movimento de pessoas fomenta a revitalização e propicia a sensação de segurança.

ReViva Goiânia

O ReViva foi criado pela Secretaria Municipal de Planejamento Urbano e Habitação (Seplanh)  em 2019 ao juntar vários projetos. De maneira imediata, o projeto trouxe a reforma da Rua 8, mais conhecida como Rua do Lazer, que sofreu reparações no calçamento, iluminação e mobiliário. Também houve a revitalização de dois becos. Uilson destaca que a obra foi muito bem-vinda, mas que ela, de maneira isolada, não leva a população para o local.

Da mesma forma foi-se notado na Praça Cívica, que foi revitalizada em um projeto conjunto entre o Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Estado e prefeitura. O local foi agraciado com um novo calçamento, mobiliário, iluminação e fontes e acabou com o estacionamento que dominou o espaço por longos anos. Porém, mesmo após tudo isso, o local também não é ocupado pela população.

O Iphan alega que foi procurado pela prefeitura em meados de 2011, para a apresentação do projeto Cara Limpa. A proposta apresentava intervenções no calçamento, nas fachadas e letreiros dos edifícios da Avenida Goiás. O Instituto, na época, forneceu informações sobre a classificação utilizada para categorizar os edifícios, a paleta de cores a ser aplicada para valorizar o estilo Art déco, e os letreiros apropriados para as edificações. “Houve esses estudos, mas não é de conhecimento do Iphan como está o andamento desse projeto”, disse.

Passo a passo sobre os projetos de revitalização

Em 2001, deu-se início ao Projeto Revitalização do Centro de Goiânia. Na ocasião, houve a criação Mercado Aberto da Paranaíba e a reformulação do canteiro central da Avenida Goiás. Houve a expectativa de revitalização de calçadas de fachadas, mas não aconteceu.

Em 2008, houve o projeto Cara Limpa em que foram restaurados cinco prédios históricos entre a Praça Cívica e a Avenida Paranaíba. A expectativa era a restauração de 49 edifícios de quatro quadras da Avenida Goiás.

Em 2009, houve a proposta de Lei das Fachadas com a alteração do Código de Posturas para a regulamentação de publicidade nas lojas. Ela foi aprovada na Câmara Municipal em primeira votação e depois foi incluída em outra proposta. Em 2015, houve a nova proposta da Lei das Fachadas. Desta vez com a regulamentação de quantidade e tamanho das publicidades. O projeto foi modificado junto à proposta de 2009 e devolvido ao Paço em 2017.

Em 2018 teve o projeto Vem Pro Centro onde o Estado encabeçou trabalho junto a moradores e comerciantes e elaborou uma série de propostas, que seriam feitas em parceria com a prefeitura. Houve diversas reuniões, mas sem desdobramentos das propostas, em que parte se tornou novo projeto e seria inserida na atualização do Plano Diretor.

ReViva Goiânia veio em 2019. Partes da proposta do Vem Pro Centro foram absorvidas no novo projeto. Dessa forma, foi realizada a revitalização da Rua do Lazer. Os comerciantes locais aprovaram a reforma, mas afirmam que o espaço ainda não possui uso adequado pela população.

Em 2020 Iris aprovou a Lei das Fachadas, que foi retirada em 2017, refeita e aprovada em 2019, com a sanção em janeiro de 2020. As publicidades ficaram limitadas e os empresários que aderissem teriam isenções fiscais, mas não houve adesões e Paço quer ampliar o prazo até 2023. Como contraponto, a Acic apresentou um projeto de criação da operação urbana consorciada no bairro e o mesmo foi apresentado em maio ao prefeito Rogério Cruz. A propositura deverá ser encaminhada à Câmara Municipal.

Uilson Manzan descreve a proposta como um shopping a céu aberto. Além disso, a proposta conta com o apoio de empresários e teria investimentos privados. O objetivo é que a Prefeitura conceda benefício fiscal e outorga do espaço. Dessa forma, o Paço reduziria de 5% para 2% a taxa do Imposto Sobre Serviços (ISS) para empresas do Centro e concederia isenção do IPTU, além de passar a administração do bairro para empresários, como a iluminação, segurança, coleta de lixo, limpeza urbana e regularização. (Especial para O Hoje)

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