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sábado, 23 de novembro de 2024
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Preço do hortifruti sobe em meio a elevação da inflação na Capital

Reportagem do O Hoje percorreu três das 20 feiras que ocorrem durante a manhã dos domingos, em Goiânia

Postado em 16 de agosto de 2021 por Redação
Preço do hortifruti sobe em meio a elevação da inflação na Capital
Reportagem do O Hoje percorreu três das 20 feiras que ocorrem durante a manhã dos domingos

O sol ainda nem sinal no céu estrelado quando vinte e duas feiras são erguidas, quase ao mesmo tempo, com barracas de estrutura de metal e lona em todas as regiões de Goiânia na madrugada de domingo. O consumidor que busca frutas e verduras nestes lugares barulhentos e cheio de variedades tem dois perfis: o que acorda cedo para comprar tudo fresquinho e paga mais caro e aquele que prefere chegar na feira depois do almoço e levar produtos mais em conta – e quase sempre os desprezados durante a manhã. Mas nem sempre com baixa qualidade. 

A reportagem do jornal O Hoje percorreu três feiras na manhã de domingo e encontrou algo em comum nos três locais: a reclamação por causa dos preços. Não precisou de mais de dois minutos ao lado da barraca de Diego dos Santos, 28, para entender a insatisfação popular na feira da Praça Isidória de Almeida Barbosa, no Setor Pedro Ludovico. 

“O alface aumentou de novo?”, reclama uma mal-humorada idosa. Para não deixá-la sem resposta, num tom conformado, Diego responde: “Aproveita que vai aumentar ainda mais”. Depois de plantar alface, cebolinha e couve em um terreno na região da Serra das Areias, em Aparecida, ele se dedica à venda dos produtos em feiras livres da capital. “Todos os produtos que utilizamos para cuidar da folhagem aumentaram. Está muito difícil, mas o cliente precisa entender que para tudo tem um tempo. O tempo do preço bom vai chegar”, diz, sem muito entusiasmo. 

Para o feirante Sebastião Oliveira, 59, o maior vilão é o quiabo. “Eu comprava no Ceasa a caixa com dez quilos por R$40. Agora compro por R$120. Como não repassar para o freguês?”, disse, antes de dar um dos berros mais altos da feira: “Vem aqui meu amigo, o melhor preço. Não vai perder, né?”. 

Valquiria Noé, de 72, veio à feira comprar couve. “É pra fazer suco pro meu marido que está acamado. Mas está cada vez mais caro. Olha essa beterraba, meu Deus?”, disse, enquanto o dono da banca pediu para não ser citado na reportagem. 

Vinceslau Souza, de 40, tem uma interpretação repetida todos os anos por especialistas para justificar a alta nos preços: o tempo frio. “Esse tempinho estraga tudo. E ainda tem o preço do combustível. E tem o dólar, mas isso aí eu não entendo muito. Num sei pra quê dólar vai interferir na nossa mesa”, diz, num tom jocoso, já desmontando a barraca em que vende tudo para saladas na feira Nona Avenida, na Vila Nova. 

Ao lado, o empresário Frederico Santos, de 69, carrega uma sacola com diversos saquinhos menores com batatas, cenouras e beterrabas. “É, moço, não precisa nem colocar sal na saladinha. O preço já é”, brinca. 

Há 32 anos trabalhando com feira – dos quais 16 no Cepal do Jardim América – Valdir Batista Lemes, 51, começou o expediente vendendo o quilo do pepino a R$14. Para não ter que voltar para casa com as caixas que trouxe do Ceasa, solta os pulmões: “Corre aqui, freguês. Só aqui o pepino sai por R$6. A poucos metros dali, um casal vendia o mesmo pepino, mas mantinha o preço do início do dia. “A gente precisa vender. Ou vende no preço proporcional ao que a gente pagou, ou não consegue trabalha”, diz uma funcionária. 

Outro problema encontrado em quatro bancas é o preço da pimenta. A colher de pimenta do reino poderia ser encontrado a R$1. No início da madrugada o valor podia ultrapassar de R$4. Em uma banca no Cepal, já no final da manhã, e depois de muita dor de cabeça por causa da recusa de clientes, o preço fixou em R$1,50. A dona da banca explica que o preço do combustível é o principal argumento dos distribuidores. “Tem muita coisa que não tem como repassar o preço. Se repasso, perco o cliente. Olha aqui a pimentinha de cheiro. Está o olho da cara para mim, mas não posso deixar meu cliente sem levar”, disse.

Não é difícil encontrar quem reclame, paralelamente aos preços das verduras e legumes, da carne. Depois de deixar o plantão como babá, Ana Alice, de 52, passou na banca de tomates. “Estão muito bonitos. Olha esse aqui, bem vermelhinho. O preço tá até barato. E meu marido diz que tomate e ovo substituem a carne”, revela, ao pagar R$5 pelo quilo. O dono da banca, Baltazar, que quis revelar apenas o primeiro nome, afirma que vai aumentar. “Nos próximos dois meses, o tomate vai ficar distante da mesa das pessoas. Não é querer ser pessimista. Mas o valor da gasolina e esse dólar aí vão piorar ainda mais. E vai sobrar pra quem? Pra mim e para cada um dos feirantes”. 

Enquanto conversava com um cliente, o feirante Weslei Carvalho, de 35, quis avisar à clientela: “Abacate e limão estão mais caros. Mas vão ficar ainda mais. Olha aqui, o abacate custava R$5 e agora preciso vender por R$7. O limão custava R$3. Não posso vender limão mais barato que R$6. Não queria ter que cobrar esses valores, mas dizem que é a crise. E piora tudo com essa pandemia que não passa nunca”.

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