OMS critica campanha de vacinação com terceira dose: ‘tecnicamente e moralmente errado’
Segundo a agência, iniciativa pode gerar maior déficit na imunização de países pobres e ainda não existem dados concretos sobre segurança e eficácia
A Organização Mundial da Saúde (OMS) criticou a decisão dos governos de iniciar uma campanha de vacinação referente à terceira dose do imunizante contra a Covid-19. Segundo a Organização, a iniciativa vai deixar os países pobres com uma escassez ainda mais aguda de doses, além de ainda não existirem dados sobre a segurança e a eficácia da dose ‘extra’.
Nesta quarta-feira (25/08), a cientista-chefe da OMS, Soumya Swaminathan, insistiu em uma coletiva de imprensa em Genebra que a prioridade deve ser salvar vidas e que a recusa da agência está baseada na ciência. “A prioridade deve ser salvar vidas. Não deveríamos ter 10 mil pessoas morrendo por dia. […] Em termos de saúde, há um consenso de que os dados não são conclusivos (sobre a eficácia de uma terceira dose)”, disse.
Apesar da recusa, Soumya admite que pessoas de mais idade provavelmente necessitarão de proteção extra em algum ponto no futuro, porém não é o momento. “Não temos um abastecimento sem limites. Portanto, as vacinas precisam ir para médicos e idosos, que estão perdendo suas vidas”, defendeu.
A agência ainda não tem respostas sobre o que causaria e não podem ter dúvidas para que medidas sejam tomadas. Portanto, outro ponto defendido pela OMS é a segurança de uma terceira dose do imunizante. “O que ocorre com uma terceira dose?”, questionou Soumya.
O diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, defendeu também que não existem dados concretos sobre a segurança e benefícios da dose extra. Além disso, afirmou que a iniciativa seria ‘tecnicamente e moralmente errado’ já que milhões de pessoas ficariam sem doses do imunizante.
De acordo com Tedros, o mundo não sairá da crise sanitária rapidamente e que uma ação deve ocorrer para proteger quem não foi imunizado ainda. “É como dar mais um salva-vidas para quem já tem um salva-vidas, enquanto deixamos aqueles que não tem proteção sem proteção”, alertou.
O diretor-chefe ressaltou ainda que enquanto grande parte da população não for vacinada existe risco do surgimento de novas variantes. Além disso, afirmou que uma nova variante pode ser mais poderosa que a mutação delta e até evadir as vacinas atuais. “Estamos dando oportunidade para que o vírus circule e isso é bom para o vírus”, disse.
A OMS estima que países ricos e emergentes vão consumir, no total, mais de 1 bilhão de doses para garantir a vacina extra. Pelo menos até setembro, a agência havia solicitado que os governos evitassem iniciar a campanha da terceira dose, para que países pobres avancem na proteção da população mais vulnerável.
Atualmente, países africanos tem apenas 2% de seus habitantes imunizados. Já a França, Alemanha, Estados Unidos (EUA), Israel e outros países ignoraram o apelo da OMS. Em relação ao Brasil, o governo federal e o estado de São Paulo apontam na mesma direção.
A expectativa da OMS é que até o final de setembro pelo menos 10% da população de cada país seja vacinada. Para dezembro, a meta é chegar a 40% de proteção. Após atingir as metas, a agência reconhece que seria viável considerar a ideia de doses extras.
Queda de números no Brasil
Os últimos dados divulgados pela OMS, o Brasil apresenta queda no número de novos casos por semana e na taxa de óbitos. Entretanto, o país continua no ranking dos cinco maiores do mundo em termos de contaminação e um dos maiores em óbito.
Os EUA registraram o maior número de novos casos, com aumento de 15% em comparação à semana anterior e 1 milhão de registros. O Irã ocupa o segundo lugar, com 251 mil casos, seguido pela Índia e Reino Unido, que constam 231 mil e 219 mil casos, respectivamente. O Brasil ocupa a quinta posição com 209 mil casos em uma semana, com queda de 1%.
No que diz respeito aos óbitos, apesar de apresentar queda de 7% em comparação à semana anterior, o Brasil mantém a segunda maior taxa das Américas, com 5,6 mil casos por semana. No mundo, a OMS aponta que a pandemia atingiu uma estabilização, mas em uma taxa elevada, com registro de 4,5 milhões de novos casos em uma semana e 68 mil óbitos.