Estudo aponta salário de professores de escola pública no Brasil como o pior do mundo
Relatório também apresentou alta defasagem de leitura no público jovem brasileiro se comparado a outros países
Um relatório da Organização para Cooperação do Desenvolvimento Econômico (OCDE) apontou o piso salarial de professores do ensino fundamental no Brasil como o mais baixo entre os 40 países presentes no estudo, além de apresentar defasagem de leitura entre o público jovem brasileiro. A pesquisa, divulgada nesta quinta-feira (16/09), demonstra que os rendimentos dos docentes brasileiros no início da carreira são menores que os professores em países como México, Colômbia e Chile.
Segundo o relatório Education at a Glance 2021, os professores brasileiros têm salário inicial de US$ 13,9 mil anuais. Já na Alemanha, um professor do mesmo nível recebe US$ 70 mil, e em países como Grécia, Colômbia e Chile o valor do salário é US$ 20 mil.
O estudo é baseado em conversão para comparação dos salários usando a escala de paridade do poder de compra, que incide no custo de vida dos países. A OCDE levou em consideração o salário real, que inclui pagamentos adicionais, apontando que professores também recebem o valor inferior quando comparado a outros países analisados na pesquisa, ultrapassando apenas a Hungria e a Eslováquia.
De acordo com a organização, os salários reais médios de professores são de US$ 25.030 anuais no nível pré-primário e US$ 25.366 nos anos iniciais do ensino fundamental. A média salarial dos países analisados pelo estudo da OCDE, na mesma etapa, é de US 40.707 e US$ 45.687, respectivamente.
Segundo uma professora de artes de uma escola municipal, que não se identificar, o salário recebido não é suficiente para uma vida digna. “Quanto o salário do professor é insuficiente para ter uma vida digna o mesmo precisa buscar outras opções de renda, consequentemente terá menos disponibilidade para estudo pessoal e organização das aulas, refletindo assim em uma menor qualidade do ensino no que depende do professor. Isso sem contar o alto número de professores que adoecem por essa situação”, disse.
Defasagem de leitura entre jovens
O estudo da OCDE, além de apresentar o salário de professores no Brasil como o pior, também revela uma preocupante defasagem de leitura entre jovens. Em uma escala de 1 a 6, o nível de leitura considerado básico no país é o 2. Segundo a pesquisa, é o momento em que os estudantes ‘começam a demonstrar competências que vão lhes permitir participar de modo efetivo e produtivo na vida como estudantes, trabalhadores e cidadãos’.
A camada mais pobre de estudantes que conseguiu atingir o nível 2 em leitura foi 55% menor que a dos jovens pertencentes as classes mais ricas, de acordo com a OCDE. Essa discrepância entre os estudantes de diferentes classes sociais é 26% superior à média dos países analisados no estudo.
De acordo com a professora de artes, a defasagem de leitura se dá pela falta de incentivo e investimentos necessários. “Falta tanto o incentivo no quesito de investir no professor como falta investimentos adequados na estrutura física das escolas e deixam a desejar em políticas públicas para possibilitar ao estudante realmente se comprometer com seus estudos. Passamos a assim a ter alunos e professores que constantemente lutam contra um sistema que está impondo a eles a permanência da mão de obra barata e pouco crítica”, afirma.
O relatório afirma ainda que no Brasil foi identificado uma das maiores disparidades de performance entre os países estudados. A organização já havia chamado a atenção para este problema em maio deste ano, quando divulgou que no país apenas 33% dos estudantes haviam conseguido distinguir o fato de uma opinião.
Além disso, entre 2000 e 2018, o número de livros na casa de estudantes mais ricos se manteve estável, entretanto, caiu ‘consideravelmente’ entre os alunos mais pobres. O baixo nível de leitura entre estes estudantes traz, consequentemente, outro dado preocupante, que é o investimento por aluno na rede pública.
No Brasil, é investido US$ 3.748 por estudante na Educação Básica, enquanto a média dos outros países participantes do estudo é de UA$ 6.353. Contraditoriamente, o investimento no Ensino Superior no Brasil é acima da média, o país investe US$ 14.427 no estudante universitário, e a média dos países é de US$ 13.855.
Investimento na pandemia
O relatório apresentou também outro dado, o Brasil é um dos poucos países do mundo que não aumentaram recursos para a educação durante a pandemia da Covid-19, com objetivo de reduzir prejuízos com aprendizagem e enfrentar os desafios do período. Segundo o ex-ministro da educação, Fernando Haddad (PT-SP), o erro vai custar caro ao país.
Entre 65% e 78% das nações do planeta elevaram o orçamento para ao menos alguma das etapas da educação básica. Já o Brasil não destinou recursos extras para nenhum segmento do ensino no período.