Por que a venda de cimento se mantém em alta mesmo com retração das obras
Apesar das altas nos valores, as vendas de cimento tiveram elevação de 1,1% em agosto deste ano
Apesar das altas nos valores, as vendas de cimento tiveram elevação de 1,1% em agosto deste ano se comparado com o mesmo período do ano passado, de acordo com dados do Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC). Somente no mês passado, foram cerca de 5,9 milhões de toneladas de um dos principais produtos da construção civil. O acumulado de janeiro a agosto é de 43,4 milhões de toneladas de cimento vendidos.
Entretanto, o SNIC aponta que as vendas vêm perdendo fôlego desde maio. O que vem segurando as vendas são as continuidades das obras e vendas imobiliárias. “O aumento das vendas de imóveis residenciais em elevado patamar vem contribuindo para o bom desempenho do setor de cimento, mas impõe cautela para o futuro. A autoconstrução, que já perde fôlego com o crescente endividamento das famílias, continua tendo um papel importante na comercialização da commodity. A preocupação central da indústria do cimento é com o significativo aumento do custo de produção, aliado à inflação que corrói a renda do consumidor. O coque, maior custo da indústria, que em 2020 aumentou 125%, já registra um acréscimo de 72% em 2021. Outros insumos como energia elétrica, frete, sacaria, gesso e refratários também registram forte incremento de preços”, destaca Paulo Camillo Penna, presidente do SNIC.
O mestre de obras Éder Henrique destaca que, na última compra, encontrou o saco de cimento por R$ 26,9. Além disso, ele afirma que o produto vem sofrendo diversos reajustes. “Nós pesquisamos bastante esse mercado, para encontrar um fornecedor com valor mais acessível. Não tivemos dificuldades em encontrar o produto, somente com a negociação de valores”, pontua.
Ele pontua que há diferença no uso de cimento nas construções que está cuidando. Segundo ele, um shopping que está sendo erguido na Rua 44 utiliza um tipo de concreto especial que é misturado em caminhões betoneiras. “Então, o último pedido de cimento foram apenas 40 sacos para um serviço miúdo lá. Já em outra minha em Paraúna, estamos mandando carretas com 680 sacos a cada 10/14 dias”, pontua.
Segundo ele, a cada mês, o preço do saco de cimento sobe mais ou menos R$ 1 desde quando começou a comprar o produto.
A servidora Ana Paula Paica também sentiu no bolso a alta nos preços do cimento, onde relata que encontrou até de R$ 28,9. Ela conta que não encontrou escassez, mas que, a cada vez que precisa, tem que lutar para negociar um bom valor para a demanda necessária para a construção da sua residência. “Não tenho casa própria e agora na pandemia morando em prédio senti falta de morar em casa, com mais espaço, com área de lazer a minha disposição e principalmente sem as altas taxas de condomínio”, pontua.
Ela destaca que a obra ainda está em andamento e, somente para a fundação, mais de R$ 70 mil foram gastos: nesse valor entra cimento, ferros e tábuas – que seguem tendência de alta. Recentemente, O Hoje mostrou que o ferro e o aço foram os produtos que mais tiveram aumentos, de acordo com o Índice Nacional de Custo da Construção – Disponibilidade Interna (INCC-DI) apurado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Em seguida, temos os vergalhões e arames de aço ao carbono (78,35%), condutores elétricos (76,19%), tubos e conexões de PVC (64,91%), eletroduto de PVC (52,06%), esquadrias de alumínio (35,21%), tijolo/telha cerâmica (33,82%), compensados (30,47%), cimento portland comum (27,62%) e produtos de fibrocimento (26,96%).
Os dados INCC/Sinapi apurados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostraram que o custo do metro quadrado da construção chegou a R$ 4.421,87 em junho, sendo R$ 829,19 de materiais e R$ 592,68 de mão de obra.
Oferta e demanda
O especialista em construção civil Alysson Marques destaca que a alta do valor pode ser explicada pela grande procura do produto nesse período. Mas, segundo ele, o consumidor pode ter esperança de um recuo nos valores. “Em médio prazo sim, tivemos altas consideráveis em aço desde o ano passado, chegando a 100% de aumento, e vimos nos últimos 2 meses uma redução no valor do produto”, pontua
Para ele, as pessoas podem ter feito mais reformas por causa da necessidade e não por se tratar de uma opção. Porém, ele descreve o mercado como linear, inclusive na questão de escassez ou dificuldade de encontrar cimento. “A alta demanda exige um acréscimo de produção, é normal nesse período de alta a produção não se adequar em tempo hábil, o mercado intermediário (vendas para consumidor final) não possui estoque suficiente para atender a todos, vimos isso acontecer no início do ano com aço”.
Alysson afirma que há outros meios alternativos que podem levar o consumidor a economizar. “Exemplo disso é a substituição da alvenaria rebocada pelo drywall, que fica pronto para a pintura sem utilização de cimento em todo processo executivo, outros exemplos são fechamentos em placas cimentícias, telhas e isopainéis”, finaliza.
Plataforma leva reformas a famílias de baixa renda
Para melhorar a qualidade de vida de moradores em situação de vulnerabilidade social em Goiânia, a Desenrola, plataforma digital de locação, venda, compra e administração de imóveis residenciais e comerciais – um braço da Brasil Brokers, em parceria com a ONG Habitat Brasil, entregou este mês a reforma de 10 casas de famílias do setor Jardim Curitiba III, região Noroeste da Capital. Em Goiás, o déficit habitacional é de cerca de 42 mil unidades – ou seja, mais de 107 mil pessoas estão vivendo em situação de precariedade, o que afeta diretamente sua saúde e pleno desenvolvimento.
O projeto ‘O Futuro Começa em Casa’ consiste na melhoria e reforma de residências em situação de precariedade habitacional e estrutura em risco, adensamento excessivo (quando mais de três pessoas dividem o mesmo cômodo), instalações elétricas ou hidráulicas comprometidas, insalubridade, cobertura inadequada, falta de ventilação ou iluminação, com umidade e falta de revestimento.
Para ser contemplada, a moradia deve possuir, preferencialmente, crianças em idade escolar e cuja chefe de família seja uma mulher. Nesta primeira etapa, 36 pessoas foram diretamente beneficiadas pelas melhorias, incluindo 12 crianças e 03 adolescentes. Das 10 famílias, 02 contam com pessoas com deficiência e 06 famílias são lideradas por mães solo. Quase todas as famílias sobrevivem com renda familiar de até 01 salário-mínimo.
O objetivo da parceria é garantir que crianças e adolescentes nestas situações tenham uma casa adequada para morar, impactando, de forma positiva, seu rendimento escolar, reduzindo a incidência de doenças causadas pela insalubridade do ambiente e contribuindo para seu desenvolvimento pleno.
“A nossa proposta é que estas famílias tenham um lar seguro e saudável para se viver. As intervenções refletem, diretamente, em uma maior estabilidade econômica daquelas pessoas, que passam a contar com uma saúde melhor, bem-estar e qualidade de vida. Elas passam a ter orgulho do lugar onde vivem”, destaca o head da Desenrola, Guilherme Ribeiro.
Uma das principais questões identificadas em Goiânia foi a falta ou inadequação dos banheiros. Quase todas as casas passaram por reformas para melhorar de fato construir um banheiro novo, para trazer mais salubridade e acessibilidade às casas. Além destas, foram realizadas adequações na parte elétrica, reformas de telhado, instalação de portas e janelas e reforço estrutural.
As famílias atendidas são acompanhadas do início ao fim do processo, com a orientação da mão de obra que executa as reformas e a supervisão integral das obras e do recurso investido. Esta é a primeira etapa do projeto, iniciada em Goiânia no mês de agosto de 2019 e paralisada pelo cenário de pandemia de Covid-19, sendo retomada em junho deste ano. Os profissionais que trabalham nestas melhorias são contratados da própria comunidade, que também tem o comércio local priorizado na aquisição de equipamentos, quando possível. (Especial para O Hoje)