Os cenários da política caso Bolsonaro desista da reeleição
Possibilidade tem sido cada vez mais discutida em Brasília em cenário de derretimento da popularidade do presidente
Durante a campanha presidencial de 2018, o então candidato Jair Bolsonaro defendeu, com todas as letras, o fim da reeleição, inclusive para ele mesmo, caso fosse eleito naquela disputa.
Como todo mundo sabe, Bolsonaro saiu vitorioso pelo PSL, com quem rompeu no início de seu mandato. Hoje, está sem partido e, contrariando sua proposta de campanha, busca uma outra legenda para concorrer à reeleição no ano que vem.
Nos bastidores de Brasília, contudo, tem sido cada vez mais discutida a possibilidade de Bolsonaro não ser candidato a presidente em 2022.
Aliás, suas próprias declarações dão margem para levantar esse tipo de hipótese. “Se vocês soubessem a dificuldade disso, mas obrigado pela confiança”, disse Bolsonaro a apoiadores sobre a reeleição durante evento em Belo Horizonte na quinta-feira (30).
No fundo, o presidente quer disputar a reeleição. Quando o assunto de desistir da candidatura vem à tona, ele afirma que não dará ouvidos aos argumentos, elaborados por integrantes do chamado centrão.
O centrão busca costurar um acordo com Bolsonaro. O ideal, na avaliação de integrantes do bloco, seria o presidente concorrer ao Senado. Assim, permaneceria com mandato, ou seja, mais distante de investigações.
Nesse cenário, o centrão acredita que um candidato a presidente conservador e mais moderado do que Bolsonaro – ou mais propenso ao diálogo – ganharia força.
Alguns setores da mídia e do mercado também ficariam satisfeitos. Trata-se, na prática, de uma estratégia para alavancar alguém da chamada terceira via, que, hoje, tem mais candidatos do que votos.
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM), é provavelmente o nome que mais agrada, mas os dados e o histórico da política brasileira indicam pelo menos outros dois cenários.
Sem Bolsonaro, em tese, estaria quebrada a polarização com o ex-presidente Lula (PT). Como no futebol, rivais na política também precisam um do outro para permanecerem fortes.
Afinal, o que seria do Goiás sem o Vila Nova e vice-versa? Ou Internacional e Grêmio, Boca Juniors e River Plate, Real Madrid e Barcelona, entre tantos outros?
Há quem acredite que, sem Bolsonaro, Lula perderia força. Porém, não deixaria de existir polarização. Alguém tomaria o lugar do presidente. Dado o histórico da política brasileira, o PSDB sai na frente.
Os tucanos, que tradicionalmente polarizaram com o PT, foram os mais enfraquecidos com a ascensão de Bolsonaro. Sem ele, poderiam recuperar alguma força. Os governadores de São Paulo e do Rio Grande do Sul, respectivamente João Doria e Eduardo Leite, têm condições de assumirem o discurso antipestista com tranquilidade.
O último cenário, para manter a analogia com o futebol, lembra Minas Gerais. Mesmo com o Cruzeiro na segunda divisão, o Atlético Mineiro, seu principal rival, cresceu. Parou nas semifinais da Libertadores diante do Palmeiras, mas lidera o campeonato brasileiro com certa folga.
De volta à política, com Bolsonaro fora da disputa, o ex-presidente Lula, seu principal rival, poderia se fortalecer? Dados do DataFolha dão alguns indícios.
Segundo pesquisa de setembro, dos eleitores de Bolsonaro em 2018, 56% não pretendem mudar de voto, mas 16% querem votar em Lula. Ciro Gomes (PDT) aparece com 7%, João Doria (PSDB), com 6%, e Luiz Henrique Mandetta (DEM), com 5%.
Os 16% de Lula entre eleitores de Bolsonaro, que diz respeito a um eleitorado não ideológico, chamam a atenção. No entanto, em um cenário sem o atual presidente na disputa à reeleição, o que realmente pesará serão os 56% mais fiéis. (Especial para O Hoje)