Por que marcas reduzem embalagens, mas não abaixam os preços
Indústrias fazem manobra para reduzir custos, mas preços para o consumidor final não caem
Por Alzenar Abreu
Deveria ser imperceptível, mas consumidores já descobriram que no supermercado muitos produtos diminuíram a quantidade, mas os preços, continuam nas alturas. Doces diversos, biscoitos, várias marcas de chocolate, óleo de cozinha ou margarina são alguns exemplos rápidos, que ao passar o olho, percebe-se que o produto ‘encolheu’ e em muitos casos também perdeu a qualidade ao diminuir a concentração da matéria-prima (que é o caso de marcas de leite condensado). A iguaria anda mais ‘rala’ ou vem com a proposta na embalagem de ‘semidesnatados’.
Quando questionada sobre a situação, a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (ABIA) disse, em comunicado, que as reduções no peso ou na quantidade dos produtos são definidas por estratégias de cada empresa. E que tais alterações estão de acordo com a demanda de mercado, pesquisas, mudanças de necessidades e comportamento de compra do consumidor.
A associação diz que as empresas que têm desenvolvido produtos com tamanho reduzido, estão em atendimento à tendência e demanda mundial dos consumidores, em busca por uma dieta mais equilibrada. “Foi avaliado o que é mais conveniente e prático, por uma maior consciência de consumo para buscar a ‘redução do desperdício, e otimizar sabor e frescor dos alimentos”, completa a nota.
Sobre a questão mais delicada relativa aos preços, a Associação diz que há uma série de fatores que contribuem para composição do valor do produto. Tais como os custos de produção que são afetados pelo valor das matérias-primas e demais insumos, ajustes relacionados à inflação e diferentes negociações realizadas entre fornecedores e varejo, entre outros que vão além das questões relacionadas ao tamanho das embalagens.
Livre para diminuir quantidades
A associação enfatiza que também faz parte da dinâmica do livre mercado que um mesmo produto apresente preços diferentes. A depender do lugar em que é vendido e, por isso, é fundamental o exercício do direito do consumidor de pesquisar e buscar os melhores preços. Em suma, se não quiser a marca “X” com menos conteúdo, compre a “Y” porque é assim que funcionada a liberdade de mercado.
O que diz a Lei
No Brasil a lei determina que ao diminuir a quantidade do produto, tradicionalmente comercializado, é necessário que o consumidor seja “avisado” por um período de três meses na embalagem do produto.
A portaria de número 81, do Ministério da Justiça, de 2000, afirma que, se o produto mudar de tamanho, todas essas alterações devem estar na embalagem, em letras e cores destacadas, informando, de forma clara, precisa e ostensiva.
Deve-se informar, com transparência, que houve alteração da quantidade do produto em termos absolutos e percentuais. Outra informação cobrada versa sobre a quantidade do produto na embalagem existente antes da alteração e depois da alteração.
Por serem comprometidas com a transparência e seguirem rigorosamente as regras vigentes na portaria nº 81 (23/01/02) do Ministério da Justiça, as empresas associadas da ABIA informam, claramente, que qualquer alteração quantitativa no painel frontal da embalagem é exibida em letras de tamanho e cor destacados, de forma precisa e ostensiva, bem como a quantidade antes da alteração.
Do sabão ao litro de óleo
Para justificar o que não existe explicação basta saber que caixas de sabão em pó e os litros de óleo de soja não levam em consideração a justificativa colocada por fabricantes sobre atender requisitos a dieta mais saudável ao consumidor. No supermercado, consumidores goianos mostram que sabem que os produtos ‘encolheram’.
Ao ser entrevistado pela reportagem de O Hoje em um supermercado da Capital, corretor de imóveis, Cláudio Rocha, diz que já percebeu diminuição das gramas em pães de queijo, barras de chocolate (de 200g para 170g); bolachas de 500 para 400g e margarinas de 500 para 480g. “ Daqui uns dias o litro de leite vai ser oferecidos em 900ml”, brincou.
A aposentada Maria Celeste Froes Ferreira diz que tem percebido que os produtos estão com o mesmo preço, mas em quantidades menores. “ Cabe a gente saber fazer boas escolhas e levar outros similares com quantidade maior de gramas ou conteúdo em si. Porque o nosso interesse como consumidor é que nossas compras rendam mais”, ensina.
Graziele Joice Carvalho Moreira diz que além de ter de pesquisar até qual supermercado ir antes de comprar, agora tem de escolher produtos que vem com a quantidade ‘antiga’ acostumada a levar para casa. “Algumas marcar de óleo de soja que comprávamos com um litro, agora vêm com 900ml”, lamenta. A microempreendedora Regina de Souza diz que até empresas de produtos de perfumaria estão utilizando a prática ‘do menos por mais’. “Sempre comprei a mesma marca de protetor solar. Antes, o creme era mais espesso, sentia que durava mais tempo na minha pele e me protegia mais. Agora, comprei, recentemente, a mesma marca só que o produto está bem líquido, quase não adere à pele”, reclama. E, na ponta do lápis, o carrinho sai do mercado mais leve, porém a conta continua pesada. (Especial para O Hoje)