Subnotificação das mortes por Covid-19 no Brasil pode ter ultrapassado as 100 mil, aponta estudo
A maioria dos casos não notificados representa as crianças entre 0 a 9 anos; se corrigido Brasil pode chegar a marca de 712.858 vítimas da doença
Um levantamento realizado pela organização global de saúde Vital Strategies aponta que há subnotificação em 24,6% das mortes por Covid-19 no Brasil. O período apurado é entre 19 de abril de 2020 e 27 de setembro de 2021. De acordo com os pesquisadores, contabilizando esses óbitos, o país estaria na marca de 712.858 vítimas pela doença.
O estudo mostra que embora a subnotificação aconteça em todas as idades, parte dessas mortes é na faixa de 0 a 9 anos, chegando a uma correção de 152,8%. A pesquisa utilizou dados do Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe (SIVEP-Gripe), do Ministério da Saúde, considerado o principal banco de dados nacional para registro de internações e óbitos por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG).
De acordo com à CNN Brasil, em nota, o ministério da Saúde informou que a base de dados da pasta “ainda está em processo de qualificação dos dados por estados e municípios”, que “60% das causas mal definidas ocorreram fora dos estabelecimentos de saúde, o que limitou o registro das causas que levaram à morte na Declaração de Óbito”.
Além disso, a pasta afirmou que “nos casos de crianças menores de nove anos de idade, não há evidências de aumento no número de óbitos por causas mal definidas desde o inicio da pandemia de Covid-19”.
Após o resultado do estudo, a infectologista e assessora técnica sênior da Vital Strategies, Fátima Marinho, disse ter sugerido ao Ministério da Saúde a criação de um conselho para revisar os atestados de óbitos com causas definidas como “código garbage”.Dentro desse código estão incluídas as doenças de septicemia, neoplasia, hipertensão, embolia pulmonar e insuficiência cardíaca.
O pesquisador em saúde pública da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Marcelo Gomes, concorda que em crianças a subnotificação é maior assim como apresentado pelo estudo da Vital Strategies, no entanto ressalva alguns pontos quanto à magnitude dos casos. “É necessário cautela na distribuição dos inconclusivos ou sem informação por conta dos demais vírus respiratórios que voltaram a circular em 2021″, afirmou Gomes.
Para Fátima Marinho, é necessário que os dados de óbitos no país sejam revisados. “Há médicos que não certificam corretamente a causa da morte, confundindo o modo de morrer com a causa da morte”, afirma a infectologista. Segundo ela, muitas vezes o erro acontece porque os médicos confundem a causa da morte com o agravamento do quadro.
A partir de fevereiro de 2020, o banco de dados foi modificado para incluir a Covid-19 como uma nova categoria de classificação final para óbitos cuja causa foi à doença e teve a SRAG como complicação. A Vital Strategies vem monitorando a cada 15 dias as notificações de mortes causadas por Covid-19 divulgadas em sistemas oficiais de notificação. A organização está revisando os dados divulgados pelo Ministério da Saúde.