Crítica de Ciro a Lula lembra incoerência do PDT em Goiás
Ex-governador do Ceará não aprova aproximação do petista com emedebistas que articularam o impeachment de Dilma Rousseff
Prováveis candidatos a presidente em 2022, o ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT) e o ex-presidente Lula (PT) voltaram a bater boca publicamente, dificultando ainda mais uma aliança no ano que vem. Ciro criticou a aproximação de Lula com nomes do MDB, como o senador Renan Calheiros e o ex-senador Eunício Oliveira, este último seu adversário político no Ceará. “Eu atuei contra o impeachment [de Dilma Rousseff] e quem fez o golpe foi o Senado Federal. Quem presidiu o Senado? Renan Calheiros. Quem liderou o MDB nessa investida? O Eunício Oliveira. Com quem o Lula está hoje?”, disse Ciro em entrevista ao podcast Estadão Notícias. “Hoje eu estou seguro que o Lula conspirou pelo impeachment da Dilma.”
Sem explicar a criticada aproximação, Lula rebateu o ex-governador do Ceará: “Não sei se o Ciro teve Covid ou não, mas me disseram que, quem tem Covid, tem problemas de sequelas. Alguns têm problema no cérebro”. Esses embates não são de hoje, nem de 2018, quando, no segundo turno, Ciro preferiu não fazer campanha a favor de Haddad contra Bolsonaro. O ex-governador do Ceará esteve no primeiro governo Lula, como ministro da Integração Nacional, e esperava ser candidato a presidente com apoio do PT em 2010, mas Dilma foi a escolhida.
Mesmo como um dos coordenadores da campanha petista naquele ano, Ciro não concordoucom a escolha de Michel Temer (MDB) para ocupar a vice. Segundo o ex-governador, Temer comandava uma “turma de pouco escrúpulo”. Os emedebistas, para ele, sãoum“ajuntamento de assaltantes”. Dilma, no entanto, minimizou a situação e afirmou que Ciro estava “magoado” por não ter sido o candidato a presidente. “Às vezes a pessoa exagera um pouco na fala”, disse. “Tenho um vice que é motivo de orgulho. Se eu for eleita e se tiver que me afastar do governo, fico tranquila.” O final da história todo mundo conhece. Lula tem consciência, apesar do argumento da governabilidade, de que essa aproximação, hoje, é contraditória, tanto é que não soube explicá-la.
Ciro, portanto, tem razão em criticá-lo. O problema, que, de certa forma, o deslegitima é que seu partido também possui alianças incoerentes. Nas eleições para a Prefeitura do Rio, em 2016, o PDT bancou Cidinha Campos na vice de Pedro Paulo, do MDB, enquanto o PT esteve na chapa de Jandira Feghali (PCdoB). Em 2018, a contradição chegou a Goiás. O PDT, tradicionalmente de centro-esquerda, apoiou o conservador Ronaldo Caiado (DEM/União Brasil), que, para Ciro, merecia ter uma chance de governar.
Leonel Brizola, o nome mais histórico do partido, deve ter se revirado no túmulo. Nas eleições presidenciais de 1989, Brizola e Caiado protagonizaram debates acalorados. O PDT também teve posições diferentes do governador goiano nos últimos anos. A reforma trabalhista, aprovada no governo Temer, e o próprio impeachment de Dilma não deixam mentir. Caiado votou a favor de ambos. Ciro, por sua vez, se posicionou de forma contrária.
Eleitoralmente, o apoio de CiroaCaiadoaté faz sentido.Afinal, o governador é uma liderança importante emumestado comvotomajoritariamente conservador. Não é à toa que, em 2022, o PDT goiano tende a seguir o mesmo caminho. Ideologicamente, contudo, é contraditório. Ciro parece exigir pureza de Lula, o que, na política, não costuma existir. E a postura do PDT em Goiás é uma prova disso. (Especial para O Hoje)