2022 terá pelo menos 3ª e 4ª vias contra Lula e Bolsonaro, mas ambas sem sucesso
Há quem argumente que, no Brasil, existem, atualmente, três principais correntes políticas; entenda
Todas as pesquisas de intenção de voto para as eleições de 2022 mostram o ex-presidente Lula (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em primeiro e segundo lugares, respectivamente, e uma disputa embolada pelo terceiro lugar.
Há quem argumente que, no Brasil, existem, atualmente, três principais correntes políticas. O lulismo, que tem Lula como representante. O bolsonarismo, que tem Bolsonaro como representante. E a chamada terceira via, que rechaça tanto Lula quanto Bolsonaro, mas ainda não tem um representante definido.
Entre os insatisfeitos com Lula e Bolsonaro, há eleitores tanto de esquerda quanto de direita. Como os candidatos desses dois lados dificilmente estarão na mesma chapa, a tendência é que haja, além da terceira, uma quarta via.
Pela esquerda, o nome que mais representa a insatisfação com lulismo e bolsonarismo é o do ex-governador do Ceará Ciro Gomes (PDT), que tem um eleitorado consolidado, mas que, só com ele, não passa de 15% dos votos válidos.
Pela direita, o nome é o do ex-juiz e ex-ministro da Justiça Sergio Moro (sem partido, mas prestes a se filiar ao Podemos). Mesmo sem se declarar como pré-candidato, Moro já aparece à frente de todos os outros presidenciáveis dessa corrente de pensamento, mas apenas o lavajatismo, que ainda lhe dá força, também não deve ser suficiente para romper a barreira dos 15%.
Se a terceira via realmente quiser ter sucesso, ela precisa se unir em torno de uma só candidatura para não dividir votos. No entanto, uma aliança entre Ciro e Moro, dado o histórico de embates entre eles, é mais improvável do que qualquer outra coisa.
Aliás, é preciso falar sobre Ciro, que, querendo ou não, é o mais bem colocado depois de Lula e Bolsonaro. Conhecido por discursos sem filtro, ele se envolve, desde há muito tempo, em várias polêmicas por causa de suas declarações.
Quando foi ministro da Fazenda, em 1994, Ciro “chamou de ‘ladrões’ os empresários que cobravam ágio na venda de carros e de ‘otários’ os consumidores que compravam”, conforme relata Thomas Traumann no livro “O pior emprego do mundo”.
Mais recentemente, além de Moro, Ciro se estranhou com membros do Movimento Brasil Livre (MBL), que, hoje, faz oposição a Bolsonaro. Essas críticas do passado certamente dificultam alianças no futuro.
Por outro lado, é preciso reconhecer que o ex-governador do Ceará, em 2018, foi o único candidato que quis uma vice com pensamento diferente. Embora à época fossem do mesmo partido, Kátia Abreu e Ciro Gomes representam segmentos da sociedade distintos. Todos os outros tiveram um ou uma vice praticamente igual.
Para 2022, Ciro esboça uma estratégia parecida. Não é à toa que negocia com o apresentador José Luiz Datena (PSL). E figuras importantes da União Brasil, partido que resultará da fusão entre DEM e PSL, como o prefeito de Salvador, Bruno Reis, cogitam apoiá-lo.
Com Moro, porém, não há indícios de que uma conversa seja possível. Uma chapa entre Ciro e o ex-juiz seria a mais forte da terceira via, mas, realisticamente, tem poucas chances de se viabilizar, em boa parte devido às falas antigas do ex-governador cearense.
No momento, então, as eleições de 2022 indicam os seguintes caminhos: Lula como o principal nome da esquerda e Ciro como secundário; e Bolsonaro como o principal nome da direita e Moro como o secundário.
Além disso, existe a possibilidade de uma outra candidatura de direita, mais fraca do que Moro, dos contrários a Lula e Bolsonaro, como ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM/União Brasil), porque este campo está mais fragmentado do que a esquerda insatisfeita, que parece unida em torno de Ciro. Não há, por exemplo, expectativa de que Marina Silva (Rede) seja candidata. (Especial para O Hoje)