Era só mais uma doença do outro lado do mundo, mais precisamente em Wuhan, na China, até que começou a se espalhar rapidamente e assombrar outros países. Vários brasileiros saíram de onde moravam ou visitavam e voltaram para sua terra de origem na esperança de fugir de algo que era desconhecido, mas que invadia casas, províncias, cidades e corpos sem sequer pedir permissão.

Vimos brasileiros saindo desesperadamente da China procurando uma forma de escapar do que, até aquele momento, era desconhecido. Eram apenas 16 dias na base da Força Aérea de Anápolis para quem havia chegado e pronto. Janeiro, fevereiro, março e carnaval, a nossa rotina continuava normalmente, até que é anunciado o primeiro caso de Covid-19 no país. “Só uma morte não vai afetar em nada”, “Não acredito que essa doença exista”, era o que se ouvia nas ruas e em conversas paralelas. Porém, não sabíamos que o pior estava por vir.

Dia 13 de março de 2020, em Goiânia, para mim tudo parecia normal, nada tinha acontecido e a minha vida seguiria da mesma forma. Dizem que nada muda do dia para noite, mas nesse dia tudo mudou. O governo lançou o decreto de lockdown, 14 dias com tudo fechado e todos em casa. Um dos melhores momentos na vida de um goiano, ficar duas semanas sem trabalhar, sem ir para faculdade, apenas ficar em casa e descansar. Alguns dias passaram e o decreto foi estendido por mais longas duas semanas, que viraram um mês e, hoje, um ano e oito meses da mesma forma. Lógico que tudo ficou mais fácil, após o avanço da vacinação, o uso de máscara, que outrora era obrigatório, se tornou flexível em locais abertos. Comércios abertos e tudo funcionando de forma maleável. Nossas vidas um dia voltarão a ser a mesma?

Um dia era a empregada da amiga de uma conhecida sua, outro dia era um amigo de um parente próximo, outro dia era seu vizinho e no outro você. Eu não imaginava o quão perigoso era essa doença até chegar na minha casa e levar a pessoa mais preciosa que eu tinha, minha avó. Todos os planos, os sonhos e as metas que foram construídas ao longo de quase 70 anos, foram embora quando ela deu o seu último suspiro. Ela não vai poder me ver formar e colocar o chapéu de formatura em sua cabeça, não vai conhecer o meu futuro marido e nem os seus bisnetos e nem vai ver os seus netos mais novos crescerem.

Ela era uma pessoa sonhadora, saudável e que tinha muitos planos para o seu futuro. Era querida e amada não só por mim e pela família, mas por todos que a conheciam e que conversavam com ela, nem que tenha sido por poucos minutos, assim como todas as outras pessoas que se foram. Dona Lourdes e mais de 6 milhões de pessoas ao redor do mundo perderam suas vidas para uma doença que é invisível. Deixaram sua família, seus sonhos e objetivos, tudo para trás.

Até quando nós vamos olhar apenas para nós mesmos e achar que está tudo bem porque não teve nenhum caso na família ou porque não foi contaminado pelo vírus? O número de mortos pelo Covid-19 a cada dia tem sido assustador, mesmo com o avanço da vacinação. Nós não o vemos, não sabemos onde está, mas somos ameaçados a cada segundo por um vírus que é desconhecido por muitos.

Deixo aqui o meu minuto de silêncio a minha vó e a todos os que se foram por conta dessa doença.