Crianças estão entre as principais vítimas de afogamento
Após 18 anos, mulher que perdeu dois irmãos e a mãe em um acidente conta sua história
Por: Sabrina Vilela
Aos 14 anos, a auxiliar de saúde bucal Stephany Cristine Santos perdeu a mãe e os dois irmãos mais novos vítimas de um afogamento. O que era para ser um passeio em família, se tornou uma tragédia que somente ela sobreviveu. “Um rapaz ouviu os gritos e me tirou da água, porém a minha mãe e os meus irmãos já tinham morrido afogados”, relembra ela após 18 anos.
A família Santos faz parte de uma estatística estarrecedora que mostra que o afogamento é a segunda maior causa de morte de crianças no país. O levantamento da Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático (Sobrasa) descreve ainda que metade desses acidentes ocorrem em casa.
Este não foi o caso da família Santos. Em 2004, durante uma pescaria em família, ela e seus dois irmãos entraram em um rio da cidade de Pirapora, Minas Gerais. Lugar de dragagem, onde é retirado cascalhos para construções, a região era perigosa e o pai, que trabalhava no local, sempre alertava onde podia ou não brincar.
“Eu comecei a me afogar primeiro e meus irmãos se aproximaram de mim achando que era brincadeira e começaram a se afogar também. Minha mãe, ao ver a cena, tentou salvar a gente só que ela não nadava bem. Então, ela não conseguiu salvar nem a nós e nem a si mesma”, relembra com pesar.
O vizinho que ouviu o desespero da família entrou no rio, mas deu tempo de tirar apenas a filha mais velha que sofre com as sequelas 18 anos após a tragédia. “Eu fiquei com sequelas emocionais, tenho que constantemente fazer tratamentos devido a isso e afetou a minha vida como um todo”, conta.
Operações e cuidados
O Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Goiás (CBM-GO) alerta que em épocas de feriados prolongados, os cuidados devem ser redobrados. A corporação terá uma operação para evitar esses acidentes, especialmente na Cidade de Goiás, durante a Procissão do Fogaréu.
A auxiliar administrativa Poliane Coimbra é mãe de dois meninos – Nicolas, 8; e Otávio, 6 – e afirma que desde bem pequenos leva eles para rio, córrego e piscina. “O Nicolas foi pela primeira vez ao rio aos cinco meses de idade. Sempre levo eles para Minas Gerais onde tem rio e córrego”, relata.
Poliane conta que mesmo os filhos sendo acostumados a passear onde tem água, ela toma muito cuidado para evitar acidentes. “Eu mesma não entro na água, mas sento próximo e observo. Quem entra com os meninos é o pai deles, mas eu fico de olho o tempo todo”.
Ela revela que mesmo com o cuidado redobrado já levou susto. “O Otávio estava nadando e em seguida o Nicolas perguntou por ele, quando eu olhei ele não estava mais lá e eu fiquei desesperada. Mas, na verdade, ele tinha saído da água muito rápido e eu não vi”.
Para a auxiliar administrativa é importante que toda a população tenha noção de primeiros socorros para casos de afogamentos. “Na beira de um córrego, por exemplo, até o socorro chegar demora muito. Mas, se alguém próximo tiver noção de primeiros socorros ajudaria demais”, soluciona.
Natação
Já a advogada Pollyana Albuquerque – mãe da pequena Mariana, de 1 ano – relata que pelo fato de ter piscina em casa pensou em formas para prevenir acidentes. “Colocamos uma cerca na piscina, não é uma tela de proteção, nem uma capa de proteção é uma cerca mesmo que envolve toda a piscina que barra o acesso para a criança”, explica.
Precavida, a advogada colocou a filha na natação com poucos meses de vida. “O objetivo de ter colocado ela na natação é de sobrevivência mesmo para aprender a nadar e mergulhar. Nas aulinhas ela aprende até mesmo a segurar na borda se for necessário e criar forças nos braços para que alguém tire ela da borda da piscina se acontecer alguma eventualidade”, preocupa.
Além da natação e da cerca em volta da piscina de casa, Pollyana afirma que mantém outros cuidados fora de casa em locais com piscina. “A solução é o monitoramento constante da bebê. Ela fica do nosso lado o tempo inteiro, sempre com supervisão de um adulto responsável”, conta.
Operação Semana Santa busca prevenir de afogamentos durante feriado
Por conta do feriado prolongado de Páscoa, o Corpo de Bombeiros Militar de Goiás (CBM-GO) realiza até o próximo domingo (17), a Operação Semana Santa 2022, que teve início ontem (13), na Cidade de Goiás, durante a Procissão do Fogaréu – evento que não era realizado há dois anos, por conta da pandemia. O objetivo principal da ação é evitar mortes por afogamento.
A Operação Semana Santa tem como foco a importância do uso do colete salva-vidas e os riscos do afogamento. A ação dos bombeiros também visa prevenir e atuar nas áreas de acidentes de trânsito, em especial em rodovias que dão acesso aos destinos turísticos, acidentes náuticos, incêndios, no resgate de bens materiais e salvamentos às vítimas.
Segundo a Corporação, até a tarde de ontem (13), 29 pessoas morreram vítimas de afogamento; além de um caso no Rio Meia Ponte que está em investigação. Deste total, o CBM-GO não informou qual o número exato de afogamentos envolvendo crianças.
De acordo com o Comandante da Operação Semana Santa 2022, o tenente-coronel Cristiano Carvalho Rezende, a operação está preparada para atender as demandas da população durante o feriado prolongado.
“A partir de hoje, quinta-feira, contaremos com reforços por meio de postos de operação montados no Lago Azul, Lago das Brisas e Lago do Corumbá 4, que terá um reforço ainda maior”, explica o comandante da Operação.
O tenente coronel Cristiano Carvalho Rezende ressalta ainda que grande parte dos afogamentos ocorrem com pessoas que ingerem bebidas alcoólicas e vão para a água, além da falta de informação. “É importante procurar informações sobre locais seguros para banhos”, ressalta.
O turista deve ficar atento ao fenômeno ‘cabeça d’água’, também chamado de ‘cabeceira d’água’, orienta o bombeiro militar. “Observe a condição climática porque quando chove em cima da cabeceira, ocorre a cabeça d ‘água. Esse fenômeno faz com que a pessoa seja levada pela força da água”, orienta.
Em 2021, a Operação Semana Santa do CBM-GO atendeu mais de 4.446 pessoas, entre ações preventivas, de busca e salvamento, defesa civil, incêndios, resgate, entre outros. Naquele período, foram registradas três mortes por afogamento.
Passos para salvar vidas em caso de afogamento
Prevenção: o fundamental é investir na prevenção, nade onde exista a segurança de guarda-vidas, utilize colete salva-vidas e crianças devem estar a distância de um braço mesmo que saibam nadar.
Reconheça o afogado: ao presenciar um afogamento, avise ao guarda-vidas, acione o 193 ou acene por socorro.
Forneça flutuação: tente ajudar a vítima sem entrar na água, forneça algo que possa ajudar na flutuação, evite a submersão.
Remova da água: apenas se for seguro a você. Não se torne uma outra vítima.
Suporte de vida: a vítima de afogamento, dependendo do grau, necessita de suporte médico; aprenda primeiros socorros.