Usina projetada em parceria da UFG com o Governo revoluciona reciclagem em Goiás
Polo de Tecnologias Sociais e Sustentabilidade, vai agregar valor à recicláveis e dar renda e dignidade a catadores.
Por Ítallo Antkiewicz
No dia a dia descartamos na lixeira diversos materiais, como plástico, metal, vidro, papel e papelão. Muitos desses resíduos podem ser reaproveitados com a devida separação, manuseio e destinação adequada. Os recursos naturais empregados na fabricação dessas peças são finitos, por isso é importante promover a valorização dos processos ambientais e soluções destinadas a proteger o meio ambiente e o bem-estar das pessoas envolvidas nesse processo.
Existem diversos meios para reciclar os mais variados materiais para que possam, dessa forma, ser devolvidos como produtos comercializáveis e lucrativos. Esses processos contribuem para a economia circular e, também, para o meio ambiente.
De acordo com o Relatório da Atualização do Diagnóstico para a Coleta Seletiva (setembro/2020), produzido pela Ampla – Consultoria em Planejamento para atender o Plano de Coleta Seletiva de Goiânia – PCSG da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Amma), a cidade de Goiânia possui 257 trabalhadores de reciclagem cooperados, que comercializam 320 toneladas de materiais recicláveis por mês, e outros 555 catadores informais ou que trabalham por conta própria.
A catadora de materiais recicláveis, Heliara Carvalho Ferreira, 23 anos, ressalta que não é catadora de lixo, e sim catadora de materiais recicláveis. “Sou tratada com indiferença, xingada, humilhada pelos outros, por não possuir ensino médio completo. Mas o trabalho que faço é de importância para a sociedade. De sol a sol saio pelas ruas buscando lixões que contêm materiais de possível aproveitamento, reformados ou reciclados industrialmente. Além disso, tornando o que antes era visto como lixo pronto para ser descartado, em mercadoria com valor de uso e de troca”, explica.
Segundo a catadora, ela não tem vergonha do que faz, e sente muito orgulho da profissão, por isso todos os dias está pronta para começar seu trabalho, como se fosse a primeira vez. “Vergonha seria roubar, matar e ao chegar em casa e não ter um pão, leite a oferecer aos meus filhos, é uma tristeza enorme”, ressalta.
Fabrício de Freitas Domingos, administrador de empresas, 46 anos, ressalta que a reciclagem é uma atividade que atua diretamente com o tripé da sustentabilidade que tem como pilares os aspectos ambiental, social e econômico. “Para o meio ambiente a reciclagem ajuda na preservação de recursos naturais, na economia de energia, na redução dos gases que provocam o efeito estufa, na limpeza urbana e contribui muito para aumento da vida útil dos aterros sanitários. A sociedade em geral é quem ganha com um meio ambiente mais equilibrado”, explica.
O administrador afirma que a coleta de resíduos é feita de diversas formas, mas é principalmente realizada por catadores, cooperativas, coleta seletiva municipal e empresas que processam e beneficiam os materiais recicláveis. O sucesso da coleta passa por grandes investimentos logísticos principalmente por parte das empresas privadas. “Após a coleta, os passos seguintes são: triagem, seleção, classificação, trituração e empacotamento. Para um bom armazenamento é necessário galpões e grandes espaços físicos, bem como o uso de empilhadeiras e outros equipamentos”.
Segundo Domingos, os produtos obtidos pela coleta de resíduos são transformados em matérias primas (seguindo normas da ABNT) que serão usadas posteriormente por indústrias transformadoras que fabricarão novos produtos, como: caixas de papelão, papéis para fins sanitários, sacos de lixo, sacolas, mangueiras, fibras têxteis, embalagens e utensílios plásticos diversos.
O administrador ressalta que as atividades da reciclagem proporcionam emprego e trabalho a milhares de pessoas. Muitas pessoas que vivem à margem da sociedade encontram na reciclagem um meio de vida e de subsistência para suas famílias. O ganho ambiental, social e econômico faz com que a reciclagem seja uma das atividades mais sustentáveis do planeta.
“Em Goiás não temos números oficiais da quantidade de pessoas afetadas diretamente e indiretamente pela atividade, mas estima-se que seja algo em torno de 15.000 pessoas. Porém, ao avaliarmos o impacto positivo dessa atividade, podemos afirmar que toda sociedade goianiense é afetada pelo ganho proporcionado por ela, em especial pelo ganho da qualidade da vida ambiental”, afirma o administrador.
Cooperativas em Goiânia
Existem cerca de aproximadamente 14 cooperativas na Capital que estão cadastradas na Companhia de Urbanização do Município de Goiânia (Comurg) que recebem as mercadorias frutos da coleta seletiva, que é realizada dentro da cidade de Goiânia. Após receberem este tipo de material, as cooperativas fazem a separação deste material. Aquilo que não tem serventia para a reciclagem eles separam e a Comurg leva para o aterro sanitário.
Já o que tem utilidade as cooperativas fazem a separação e vende para empresa de reciclagem. Tem cooperativas que possuem prensa elétrica, no caso além de separar e classificar o material eles fazem também o enfardamento em prensas elétricas. Algumas cooperativas além de receberem as mercadorias da coleta seletiva da prefeitura, faz também uma coleta em condomínios residências com seus próprios veículos e chegando nas dependências das cooperativas fazem também o mesmo trabalho de triagem.
Reciclagem e educação ambiental
Engenheiro civil e mestre em engenharia ambiental e sanitária, Diógenes Aires, ressalta que em Goiânia, é coletado 2,5 mil toneladas de recicláveis por mês, e mandado para as cooperativas. “50% desse material é rejeitado, como por exemplo: fraldas descartáveis, preservativos, bituca de cigarro, são matérias que não dá para recuperar. Na Capital é reciclado apenas 3%, pelo porte da cidade, é uma taxa muito baixa, o trabalho de educação ambiental deixa a desejar em Goiânia.”, afirma.
O engenheiro afirma que a Capital deveria está em uma porcentagem bem maior de reciclagem, e a população tem que ser mais efetiva quando for separar o lixo na hora de descartar. “Daqui dois anos, para a região centro-oeste, onde inclui Goiânia, tem que reciclar 4,5%. Para sair de 3% e ter 50% a mais de reciclagem, tem que aumentar a quantidade de caminhões de coleta, e melhorar principalmente a educação ambiental, realizando oficinas de aprendizagem, porta a porta, e nos parques das cidades”, explica Aires.