Macron ao vencer: ‘Não sou mais o candidato de um campo, mas sim o presidente de todas e todos’
Segundo resultados preliminares, com 93% das urnas apuradas, Macron, do centrista A República Em Marcha, obteve 56,79% dos votos contra 43,21% da oponente do Reunião Nacional (RN)
O presidente da França, Emmanuel Macron, conquistou a reeleição no segundo turno das presidenciais deste domingo contra a candidata da extrema direita, Marine Le Pen, sendo parabenizado rapidamente por líderes da União Europeia (UE), aliviados que um dos países mais cruciais do bloco evitou uma reviravolta política.
Segundo resultados preliminares, com 93% das urnas apuradas, Macron, do centrista A República Em Marcha, obteve 56,79% dos votos contra 43,21% da oponente do Reunião Nacional (RN), que já reconheceu a derrota. A abstenção, uma das principais preocupações do agora presidente reeleito antes da votação, foi de 27,3%.
No pronunciamento, que foi antecedido pela execução do hino da UE, Macron apontou alguns dos desafios que enfrentará em seu novo mandato, a começar pelo avanço da extrema direita. Para ele, o momento é de unir o país. “Não sou mais o candidato de um campo [político], mas sim o presidente de todas e todos”, declarou, prometendo dar respostas aos descontentamentos dos que votaram na extrema direita.
Macron, que no primeiro turno obteve 27,85% dos votos, chegou ao segundo turno com uma diferença pequena, de cerca de seis pontos percentuais, em relação a Le Pen, e havia no campo governista o temor de que a candidata da extrema direita conseguisse ampliar sua base com os votos de outro candidato da extrema direita, Éric Zemmour, e de eleitores do esquerdista Jéan-Luc Mélenchon, alguns deles insatisfeitos com suas políticas de governo.
No discurso em que reconheceu a derrota, Marine Le Pen adotou um tom desafiante, descrevendo seu desempenho na votação como “uma grande vitória”, na qual os eleitores “fizeram escolha pelo país e pela mudança”.
“ Não posso deixar de sentir alguma esperança. Este resultado constitui, tanto para os nossos dirigentes franceses quanto para os dirigentes europeus, o testemunho de uma grande desconfiança do povo francês em relação a eles que não podem ignorar”, disse Le Pen. Emmanuel Macron nada fará para reparar as fraturas que dividem nosso país e que fazem nossos compatriotas sofrer.
Le Pen ainda prometeu lutar para “evitar a monopolização do poder por alguns poucos”.Mais do que nunca, seguirei com meu compromisso junto à França e ao povo francês, com energia, perseverança e afeição”, afirmou.
Nas últimas semanas, Mélenchon pediu a seus apoiadores que não votassem em Le Pen, mas sem apoiar diretamente Macron, no que pode ser interpretado como uma espécie de “salvo conduto” para abstenções e votos nulos.
“ As urnas decidiram. A sra. Le Pen foi derrotada. A França claramente se recusou a lhe confiar seu futuro. O sr. Macron sobrevive em um mar de abstenções, votos em branco e nulos”, afirmou Mélenchon, logo depois do anúncio das projeções.
Na reta final da campanha, o presidente conseguiu reforçar sua candidatura de centro com os votos da centro-direita e dos verdes, cujos candidatos tiveram menos de 10% no primeiro turno. Mesmo no França Insubmissa, partido de Mélenchon, houve um percentual considerável, cerca de 40%, dos que se convenceram a aderir ao nome de Macron. Assim, o ajudaram a derrotar, pela segunda vez, Le Pen.
“Sei que um certo número de compatriotas votaram em mim para fazer frente às ideias da extrema direita. Quero lhes agradecer e dizer que tenho a consciência de que esse voto me fortalecerá nos próximos anos. Sou depositário de seu apego à República”, disse Macron, em seu discurso de vitória.
O secretário de Estado encarregado de assuntos europeus, Clément Beaune, lembrou que, apesar da comemoração deste domingo, a votação expressiva da extrema direita deve acender alguns alertas no meio político.
“Há alegria, satisfação, há uma luta política contra a extrema direita, essa é uma vitória clara, por uma diferença significativa. Mas isso também significa que teremos que continuar trabalhando para unir o país quando vemos a extrema direita com mais de 40%”, afirmou Beaune à France 2.
Resultado histórico
De fato, caso as projeções se confirmem após a oficialização dos resultados, este terá sido o melhor resultado da extrema direita na História republicana. Em 2002, quando o pai de Marine Le Pen, Jean-Marie Le Pen, surpreendeu o país ao chegar ao segundo turno contra Jacques Chirac, ele registrou 17,2% no segundo turno, e teve diante de si uma frente ampla que abrangia desde os conservadores até a esquerda.
Marine Le Pen, por sua vez, obteve 17% nas eleições de 2012 e, em 2017, atingiu os 21%, chegando pela primeira vez ao segundo turno contra o mesmo Macron, quando teve 33,9% dos votos. Por isso, o avanço de quase dez pontos percentuais em um intervalo de quatro anos serve para firmar a posição da extrema direita no cenário político francês, com um discurso que se aproveita da insatisfação de parte dos eleitores.
“Temos consciência sobre o contexto político, a pontuação de Marine Le Pen e tudo o que nos leva a proteger mais os franceses”, declarou à TF1 o porta-voz do governo, Gabriel Attal, afirmando que a mobilização de seu campo político deve ser mantida para as eleições legislativas marcadas para 12 e 19 de junho. “As eleições legislativas serão muito importantes para permitir que o presidente desempenhe seu trabalho”.
Outro a se manifestar sobre o avanço da extrema direita foi o ministro da Saúde, Olivier Veran: para ele, os números das urnas devem influenciar nas políticas do segundo mandato de Macron.
“Não vamos estragar a vtória, mas ela [extrema direita] teve seu melhor resultado. Haverá continuidade nas ações de governo porque o presidente foi reeleito. Mas também escutamos a mensagem do povo francês. Haverá uma mudança de métodos, e o povo francês será consultado”.
Em discurso no comitê de campanha de Macron, o ministro da Economia também sinalizou que o segundo mandato de Macron deve ser diferente, sem estimar o tamanho das mudanças. “O essencial, para mim, é retornar ao trabalho o quanto antes. Há muito a ser feito sobre a inflação, sobre a economia, sobre a reindustrialização. É necessário entender também o que foi dito por muitos eleitores em questão de meio ambiente. É necessário andar mais rápido na luta contra as mudanças climáticas” disse Le Maire, citado pelo Le Monde.
Posição europeia
Além das reações internas na França, a vitória de Macron foi rapidamente celebrada por líderes e representantes da UE, com o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, afirmando que, com a reeleição do presidente francês, “a UE pode contar com a França por mais cinco anos”.
“Neste período de tormentas, precisamos de uma Europa sólida e uma França completamente engajada por uma União Europeia mais soberana e mais estratégica”, escreveu no Twitter.A presidente da Comissão Europeia, Ursula Von Der Leyen, também celebrou a reeleição.
“Querido Emmanuel Macron, [envio] todas minhas felicitações por sua reeleição à Presidência da República. Fico feliz por poder continuar nossa excelente cooperação. Juntos, faremos avançar a França e a Europa”, escreveu, no Twitter,
Um dos pilares do governo e da campanha de Macron era a relação estreita com a UE, ao contrário das propostas defendidas por Le Pen: apesar de uma mudança de posição e de não defender mais a saída do país do bloco, ela pretendia pressionar por mudanças para, em suas palavras, “reforçar a soberania nacional”.
Por isso, alguns líderes europeus, como os primeiros-ministros de Portugal e Espanha, além do chanceler da Alemanha, chegaram a lançar uma carta aberta em defesa da candidatura de Macron, apontando para o que viam como riscos que um governo Le Pen poderia trazer para a França e para toda a UE.
“Felicitações, parabéns, caro presidente Emmanuel Macron. Seus eleitores também mandaram hoje uma mensagem de forte apoio à Europa. Estou satisfeito por continuarmos nossa boa cooperação!”, escreveu Scholz, no Twitter, após o anúncio da reeleição. Também houve mensagens de congratulações enviadas por líderes da Itália, Espanha, Suécia, Romênia, Lituânia, Finlândia e Holanda, além do Reino Unido.
O Globo