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quarta-feira, 27 de novembro de 2024
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Crise

Mais ricos do país perderam 16% da renda média durante a pandemia

Com crise sanitária em curso, rendimento baixou para R$ 26.899 entre os trabalhadores mais ricos.

Postado em 26 de abril de 2022 por Redação

Por Ítallo Antkiewicz

A crise gerada pela Covid-19 e a disparada da inflação chegaram até o bolso dos trabalhadores com salários mais altos, que têm mais condições para enfrentar as dificuldades no cenário econômico. Sinal disso é que a renda média do trabalho do grupo 1% mais rico no país caiu 16,4%, em termos reais, desde o começo da pandemia. Mesmo com a redução, o rendimento dessa parcela ainda é 80,9 vezes maior (R$26.899) do que o dos profissionais 10% mais pobres (R$332) na média.

As conclusões são de um levantamento da Folha a partir de microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

No quarto trimestre de 2019, antes da explosão da pandemia, a renda média do trabalho da fatia 1% mais rica era de R$32.157 por mês. Dois anos depois, no quarto trimestre de 2021, já com a crise sanitária em curso, o rendimento baixou para R$26.899. Vem dessa comparação a queda de 16,4% ou menos R$5.258. O indicador avaliado é o da renda média habitual de cada pessoa que está ocupada com trabalho formal ou informal.

Desempregados não entram nos cálculos. Os dados contemplam apenas os recursos recebidos com o trabalho, e não consideram valores de investimentos e benefícios sociais.

Crise na economia

O economista Luiz Carlos Ongaratto, ressalta que os maiores salários são voltados para quem é empreendedor, funcionário de indústria, e para quem tem empresas de maior valor agregado. “Se a renda dessas pessoas cai é porque esses setores estão em crise. O Brasil está passando por um processo de desindustrialização, que é o fechamento de diversas empresas e indústrias, e o salário de valor agregado está na indústria, é a parte mais inovadora, então percebemos que os empregos de alto valor agregado, está sumindo do País, por isso acontece esse empobrecimento da população”, afirma.

Segundo o especialista, o empobrecimento da população faz com que tenhamos empregos, mas sem qualidade, com baixa remuneração. “O Brasil é um País que não está agregando valor na sua produção, e no Produto Interno Bruto (PIB) está tendo emprego de motorista de aplicativo, entregador de delivery, mas sem empregos na indústria de inovação, transformação, e alto tecnologia. Isso está acontecendo porque essas empresas estão saindo do Brasil”, ressalta Ongaratto.

O economista explica ainda que a desigualdade social, está acontecendo porque os ricos estão ficando pobres, ocasionando na diminuição da renda média do brasileiro. “Se pegarmos o PIB e dividir pela população, ele é muito baixo, então estamos em um País muito pobre, agravando ainda mais esse cenário econômico que estamos vivendo”, afirma.

O especialista pontua que os mais ricos, mesmo perdendo renda, têm mais mecanismos para se proteger da pressão inflacionária. “A inflação bate no rendimento do trabalho, mas essas pessoas conseguem se proteger de outras formas. A perda pode ser compensada, por exemplo, com investimentos financeiros. Isso diminui o impacto da inflação entre os mais ricos”, ressalta.

De acordo com o especialista, a recuperação da renda do trabalho depende em grande parte do avanço da atividade econômica. “O problema é que as previsões indicam baixo crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) em 2022, inferior a 1%”, explica.

Elevação pequena

A renda dos mais pobres sobe, mas com mudança de composição na base da pirâmide, o rendimento dos trabalhadores 10% mais pobres no país passou de R$324 para R$332 entre o quarto trimestre de 2019 e igual período de 2021, uma elevação de 2,3%. O avanço na média, contudo, deve ser analisado com cautela devido a um efeito de composição do grupo.

Queda no geral

Na média de todos os grupos, o rendimento dos trabalhadores ocupados era de R$2.675 no quarto trimestre de 2019. Em igual intervalo do ano passado, recuou para R$2.447, uma queda de 8,5% em termos reais. No segundo trimestre de 2020, marcado por restrições a atividades econômicas e menos profissionais atuando no mercado, o rendimento dessa camada chegou a ser 16,2% maior, em média, do que no final de 2019.

Contudo, nos intervalos mais recentes, esse avanço vem ficando menor e foi de 2,3% no quarto trimestre de 2021, em meio ao retorno dos brasileiros mais vulneráveis à população ocupada e ao avanço da inflação. O resultado mais recente representa o menor nível da série histórica da Pnad com trimestres tradicionais (janeiro a março, abril a junho, julho a setembro e outubro a dezembro). Os registros começaram em 2012.

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