Mulheres são donas de 55% das pequenas empresas em Goiás
Estima-se que haja mais de um milhão de empreendedores espalhados por todo o território goiano. Destes, 552.669 são mulheres
As mulheres vêm lutando há anos por igualdade social e por mais espaço no mercado de trabalho. O número de Microempreendedores Individuais (MEIs) foi impulsionado durante a pandemia de Covid-19 e ainda está em crescimento. Neste cenário, as mulheres têm ganhado destaque. Embora seja 51% da população goianiense, as mulheres representam 55% dos empreendedores de Goiás.
Os dados são de um estudo do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-GO). De acordo com o levantamento, estima-se que haja mais de um milhão de empreendedores espalhados por todo o território goiano. Destes, 552.669 são mulheres.
As mulheres também buscam mais informações para empreenderem melhor. Dos empreendimentos atendidos pelo Sebrae-GO em 2021, 49% foram representados por mulheres, além de mais de 35 mil potenciais empreendedoras que procuram a instituição em busca de orientações nos temas sobre empreendedorismo.
O Sebrae já conta com o programa Sebrae Delas Mulher de Negócios, um programa de aceleração com o objetivo de aumentar a probabilidade de sucesso de ideias e negócios liderados por elas.
Diretor técnico do Sebrae-GO, Marcelo Lessa pontua que essas mulheres demonstram enorme capacidade de inovar e seguir adiante. “Elas possuem uma performance diferenciada na construção de seus negócios”, afirma.
Realidades transformadas
Além de contribuir para o crescimento da economia e para a criação de empregos, o empreendedorismo feminino transforma também as relações sociais. Quando mulheres alcançam a autonomia financeira, não precisam mais se submeter a relacionamentos abusivos e violentos, pois não dependem mais de terceiros para se sustentar.
As lideranças femininas têm também grande potencial transformador dentro das empresas, diversificando os pontos de vista na tomada de decisões e dando mais visibilidade para questões de gênero. Isso ocorre tanto no cotidiano com os colegas de equipe quanto na relação cliente ou prestador de serviço. Da mesma forma, empresárias empoderadas podem influenciar e inspirar outras mulheres, compartilhando suas histórias e ajudando-as a superar os obstáculos e desafios.
Negociações
De acordo com dados do Sebrae-GO, somente em 2021 foram registrados 99.374 novos MEIs no Estado, valor 33,58% superior a 2020. Quando comparado ao ritmo anterior à pandemia, o volume é ainda maior, representa crescimento de 113,52% em relação a 2019.
Diretor técnico do Sebrae-GO, Marcelo Lessa afirma que o ano passado é visto como atípico e um dos motivos para isso seria a retomada das atividades após as restrições impostas no contexto da pandemia de Covid-19. “As empresas voltaram a funcionar, houve demissões e as pessoas viram oportunidade de empreender. O MEI é a primeira etapa da formalidade, mais fácil e barato. A parte tributária não é algo que impacta tanto, por exemplo”, pontua.
Para crescer, Lessa ressalta que há orientações para alavancar os potenciais de cada empresa. “É preciso evitar a mortalidade. A cada dez empresas, três fecham as portas. O que faz a virada de chave é observar as potencialidades. Nos últimos nove anos, não tivemos um crescimento tão alto como esse”, explica.
Em 2020, o diretor técnico revela que 44% dos MEIs vendiam produtos ou serviços pela internet e um ano depois o número subiu para 70% em Goiás. “O mercado digital fez aumentar o faturamento e abriu o leque. A gestão financeira é muito importante, o MEI não tem grande acesso a crédito, tanto que 60% procuraram financiamento e só 28% conseguiu acesso (em 2021), o que é muito pouco”, afirma Lessa.
O diretor técnico pontua que investir em gestão e planejamento é considerado essencial. Neste sentido, é possível aproveitar atendimentos especializados e cursos gratuitos ou subsidiados e oferecidos pelo Sebrae. “A Semana do MEI 2022 é um exemplo, o evento acontece desde segunda-feira (16) e vai até o dia 20 de maio”, ressalta.
Desafios para mulheres empreendedoras
Embora as mulheres representem, hoje, 51% da população goiana, quando se fala em empreendedorismo, elas estão à frente nas unidades de negócio registradas no Estado de Goiás. A informação é um dos dados levantados pelo “Perfil da Empreendedora Goiana”, estudo feito em uma parceria da Faculdade de Administração e Ciências Econômicas da Universidade Federal de Goiás (FACE/UFG) e o Sebrae.
A coordenadora do estudo e gestora do projeto Sebrae Delas, Vera Lúcia de Oliveira, ressalta que nos últimos 40 anos a participação das mulheres no empreendedorismo no Estado cresceu cerca de 10% a cada década, se destacando na faixa etária dos 35 aos 54 anos. “A mulher empreendedora em Goiás é mais escolarizada que o homem empreendedor. Mais da metade das empreendedoras possuem ensino superior completo”, afirma.
Mas, apesar do crescimento nos últimos anos e da maior especialização das mulheres, o empreendedorismo feminino ainda enfrenta inúmeros desafios na região. “É curioso notar que 92% das mulheres que participaram do nosso estudo se sentiam capazes de empreender e, ao mesmo tempo, 35% delas apontavam dificuldades para iniciar um negócio próprio por barreiras culturais e sociais. Em relação às incertezas do cenário econômico nos próximos anos, 62% das mulheres se sentem atingidas”, explica a coordenadora.
As dificuldades para a mulher empreendedora não param por aí. O estudo da UFG e do Sebrae-GO aponta que, em média, as mulheres dedicam 18 horas a menos aos seus empreendimentos em comparação com os homens devido às sobrecargas domésticas. Os rendimentos também não são equivalentes: em uma mesma função e com trabalho exercido em um mesmo período, os homens goianos ganham cerca de 26% mais que as mulheres.
Os rendimentos, de modo geral, também são menores em função das atividades normalmente exercidas pelas mulheres donas de negócios próprios que, em Goiás, tendem a ter menor valor agregado. Cerca de 93% dos empreendimentos femininos são ligados a serviços domésticos ou cuidados com o corpo, como manicures e centros de estética, enquanto apenas 4% das mulheres goianas empreendedoras montam seus negócios ligados a atividades de alto valor agregado como as da área de engenharia e tecnologia.c