Crise, inflação e rendimento reduz saldo na poupança
Brasileiro retirou R$ 40 bilhões a mais que depositou
A crise inflacionária somada ao desemprego e maior inclusão dos brasileiros aos bancos levou o país a maior fuga da caderneta de poupança desde 1995. Em 2021, o número de cidadãos bancarizados chegou a 182,2 milhões, segundo dados do Banco Central, um aumento de 10,3%. Com a inflação na casa dos dois dígitos, os rendimentos na poupança, que costumam ser mais seguros, deixam de valer a pena, o que leva a maior retirada. Apesar da redução, um a cada quatro brasileiro ainda utiliza a caderneta de poupança como principal fonte de investimento.
Impulsionado especialmente pelo pagamento do auxílio emergencial, o número de brasileiros incluídos nos serviços bancários também é um dos fatores que contribuem para o aumento dos saques. O advogado e economista Danilo Orsida explica que o processo de virtualização puxada pelas medidas de restrições e lockdown nortearam essa ocorrência.
“Muitas pessoas que não tinham contas bancárias passaram a tê-la e passaram a transacionar no aspecto de ter movimentação bancária e passaram a utilizar essa via para recebimento de benefícios, transferências diretas de rendas e benefícios assistenciais”, avalia.
Outro aspecto que pode ter influenciado essas retiradas são os baixos rendimentos da poupança, explica o economista. “Quando se tem um cenário de alta inflação, quando o poder de compra passa a ser corroído pela alta inflação, é natural que as pessoas busquem caminhos de investimentos ou produtos que remunerem o capital como forma de preservar esse capital”.
A busca por modalidades de investimentos mais vantajosas são impulsionadas pelos próprios bancos, que são restritos a emprestar dinheiro guardado em poupança a financiamentos de moradia. O planejador financeiro Maurício Vono explica que essa migração tem contribuído para o aumento da retirada das cadernetas. Uma outra ótica a ser analisada é a necessidade de cobrir o déficit orçamentário das famílias.
Mais jovens estão investindo mais
O crescimento dos jovens investidores é um dos fatores decisivos para esse cenário. O crescimento do assunto na internet, por onde a maioria dos jovens aprendem a investir, capitaliza esse público e impulsiona a busca por diferentes modalidades. “As pessoas mais velhas tendem a fazer investimentos mais tradicionais, enquanto as mais novas têm mais abertura e acesso à internet. E na internet, normalmente, a recomendação é para o não investimento na poupança”, pontua Vono.
“São pessoas que estão construindo patrimônio e almejam investimentos a longo prazo, apesar de também terem objetivos a curto prazo. Então o que tem sido mais procurado, de forma macro, são os investimentos em ações e fundos imobiliários para os rendimentos de longo prazo e a busca por títulos públicos para o curto prazo”, avalia.
Pesa ainda contra a poupança a rentabilidade da aplicação de 0,5% ao mês, o que equivale a 6,17% ao ano. Significa dizer que, ao colocar dinheiro na caderneta, os brasileiros amargam uma perda real na faixa de 5,3%, o que pode ser revertido em outros investimentos mais rentáveis, com a mesma segurança, que já pagam facilmente 1% ao mês.
Alta do aço causa queda no setor de construção no 1º trimestre
O mercado imobiliário brasileiro apresentou queda de 42,5% no número de lançamentos no primeiro trimestre de 2022, na comparação com o quatro trimestre de 2021, informou ontem (23) a Câmara Brasileira da Indústria da Construção. O número de lançamentos também apresentou uma queda de 7,6% na oferta final de empreendimentos. Segundo a CBIC, o aumento no preço de insumos e a conjuntura econômica pesaram na redução.
O levantamento, que colheu informações do mercado da indústria da construção em 196 cidades de todas as regiões do país, também mostrou queda nos três primeiros meses do ano no número de lançamentos de unidades do programa Casa Verde e Amarela, em relação ao último trimestre de 2021.
As unidades foram reduzidas em 40,4% e a oferta final em 11,1%. A CBIC disse que os números são afetados pelo aumento dos preços e dos custos dos materiais da construção civil, pela falta de confiança para novos lançamentos dos empresários e incorporadoras e pela queda do poder aquisitivo das famílias.
“O tempo todo falamos do efeito aumento de custo que impacta no preço de venda e isso está muito claro no Casa Verde e Amarela, que tem puxado nos últimos tempos a habitação de mercado”, disse o presidente da CBIC José Carlos Martins durante coletiva para apresentação dos dados. ABr