Espião? Homem cria estratégia publicitária e faz grupo bolsonarista fake para defender o PT
O publicitário Roberto Santos teve a ideia de criar um grupo afim de diminuir votos para Jair Bolsonaro.
Já foi adicionado sem querer em um grupo de whatsapp por um número desconhecido? Se nunca viu situação parecida, Rodrigo Ratier, colunista do portal “ECOA | Por um mundo melhor” foi uma vítima desse momento. O WhatsApp do portal foi adicionado a um grupo bolsonarista e achou que iria ser mais uma das táticas utilizadas pelos eleitores para induzir votos ao atual presidente, porém, acabou sendo o contrário. O individuo criou um grupo fake para alertar eleitores sobre a verdadeira “face” do presidente.
Roberto Santos, de 44 anos, é publicitário e teve a ideia de criar esse grupo afim de diminuir votos para Jair Bolsonaro. Tudo começou em 9 de março de 2021 quando o portal de Rodrigo foi adicionado em um desses grupos de cunho pró- Bolsonaro, a primeira vista, era o que parecia. A regra do aplicativo é que somente pessoas que tenham seu número salvo podem ser adicionadas em grupos. Os integrantes que entraram no grupo e viram o motivo do chat foram logo xingando e saíram rapidamente da conversa. Santos ao fazer o grupo, percebeu que tem pessoas que não passavam batido das anteriores que faziam parte de comunidades direitistas. “Eram números que em algum momento já haviam participado de outros grupos pró-Bolsonaro no WhatsApp. Aí eu vi que o bolsonarismo não estava mais imperando”, explicou.
Pode ser até confuso e um pouco insano, mas o grupo não se desvia tanto do que geralmente a verdadeira comunidade virtual do pró- bolsonarismo é. Há um equilíbrio para não haver descobertas e desconfianças da identidade de Roberto. Acontece que existe uma polarização em diferentes discussões nas redes sociais, seja no Twitter ou no Instagram. De um lado pende para o PT e do outro, Bolsonaro. Entretanto, em grupos de conversa bolsonarista, não há divisão de opiniões, a devoção é toda para o atual presidente da República. Bem, seria se Roberto não se infiltrasse com mensagens representando “personagens”, isto é, existe os militantes esquerdistas, que chegam no grupo falando o que pensam do governo e do presidente. Esses são todos totalmente contrários ao bolsonarismo. Em seguida, aparece o “inocente” combatendo com frases de efeito como: “alguém precisa expulsar esse esquerdopata.”
E não há saída para descobrir quem é ou expulsá-lo, pois o próprio administrador é o publicitário. Os eleitores de Bolsonaro ficam extremamente bravos com a situação, mandando mensagens como: “Não vamos aguentar comunistas aqui defendendo os petralhas”, “Que desrespeito com o capitão”, “Quem é o tosco administrador do grupo?”.
“Tem os disseminadores, que são os primeiros a enviar o conteúdo; os compartilhadores, que espalham para muitos outros grupos; e a maioria silenciosa, que está lá por ter sido adicionada e não saiu”. diz Roberto sobre o monitoramento do grupo e como organiza as mensagens. Ele explica que foi preciso saber como esse tipo de pessoas se comunicam uns com os outros para poder se integrar nos diferentes públicos que identificou. “Estudei em uma das escolas mais politizadas de Salvador, o Colégio Estadual da Bahia. Fui construindo minha identidade mais à esquerda e me tornei um militante no dia a dia: na fila do ônibus, quando ligam por engano, no supermercado.”, conta sobre suas origens políticas.
Roberto é pós-graduado em educação e atua desde 2012 com gerenciamento de redes sociais. Ele conta que nunca se filiou a um partido, mas que se vê como um militante que faz campanha para o PT. Durante sua vida em 2006, ele utilizava o Hotmail para combater fake news relacionadas ao ex-presidente Lula. “Uma prima mandava um monte de enganações em power point. Eu tinha o trabalho de copiar todo mundo na mensagem e responder individualmente, dizendo que era mentira”, contou.
Diante a esse experimento, o publicitário percebe que divulgar críticas e desmenti-las causa um impacto nas opiniões. Posso até não transformar as pessoas que só acompanham o grupo em eleitores de esquerda, mas em Bolsonaro elas não votam mais. Acaba aquela história de querer defender porque ele seria honesto. Elas já sabem que ele não é”, relatou. Com as eleições chegando, Roberto avisa que irá acabar com a ação para preservar sua identidade.