Onda de desaparecimento cresce entre mulheres jovens no México
São mais de 6.000 registros de pessoas desaparecidas em Montererrey, no México.
Ser mulher no México é o significado de viver constantemente em meio ao desespero, insegurança e medo. De acordo com dados oficiais, são mais de 6.000 registros de pessoas desaparecidas em todo o estado de Nueva Léon e em Montererrey, no México. Em sua maioria, mulheres jovens. Em cada poste e esquina, você encontra cartazes com o rosto e nome dessas vítimas.
A reportagem da BBC apurou as mulheres que vivem sobre vigilância de cada pessoa que se aproxima delas. O jornalista ao se aproximar de uma moça para realizar a entrevista, foi abordado com desconfiança por estar rodeando perto do local. “Já tinha notado que você andou até lá e depois se aproximou… Estamos em alerta constante, chegamos a esse ponto”, comentou Diana, amiga da entrevistada, sentada em uma área repleta de bares e restaurantes.
As mulheres contam que todos os dias são marcados por lutas diferentes para não se renderem a sujeição de ficarem trancadas em casa à noite e viverem com medo, mas que às vezes, é inevitável. “Estamos mais atentas, não temos escolha a não ser cuidar de nós mesmas. É triste, mas é assim.”, comentou
Morelos Salon é um estabelecimento badalado. Entretanto, houve uma grande perda de clientes. No mês de abril ocorreu o Caso Debanhi, em que uma jovem de 18 anos foi encontrada morta dentro de uma cisterna de hotel. O caso ainda está sobre investigação e chocou o país sendo um símbolo das inúmeras situações de feminicídio e desaparecimento. María Palacios, funcionária do local, conta que todos os trabalhadores necessitam ficar em estado de alerta quando as garotas saem do estabelecimento ou quando estão muito bêbadas, eles cuidam para que não deem bebidas alcoólicas. “Olha, é muito raro você ver meninas sozinhas na rua. Elas sempre vêm em grupos ou acompanhadas (por homens). Temos que cuidar uma das outras.”, exclamou.
Em abril, os noticiários mexicanos reportaram oito casos de jovens desaparecidas em apenas dez dias. Ao todo, são 376 mulheres que estão desaparecidas neste ano, até 12 de maio. Destas, 48 foram caracterizadas como “não localizadas” e seis, infelizmente, foram encontradas mortas. Casos assim não são comuns ou atuais, a estudante de psicologia, Maya Hernández, pode testemunhar isso. Sua mãe, Mayela Álvarez, desapareceu em Monterrey há quase dois anos. Ela teve que administrar sua casa com menos de 16 anos, dando assistência a sua avó e irmão mais novo. “Antes de minha mãe desaparecer, não tinha ideia de que isso era uma crise social. E então percebi que não sou a única, que há muitos desaparecidos em Nuevo León. E que, em vez de diminuir, esse número aumenta ao longo dos anos”, disse.
Segurança para as mulheres
Cada vez mais a população feminina se sente menos confortável e segura para simplesmente ir à locais essenciais como mercado, farmácia e até mesmo, praticar esportes. Essa situação está contribuindo para danos na saúde mental nessas mulheres, desenvolvendo fobia social e ansiedade. Existe uma onda de pedidos para que o governo e o Estado se envolvam, procurando maneiras eficazes para garantir a segurança e aprofunde nas investigações sobre o que está acontecendo. “O Ministério Público falhou conosco”, diz ela.
O Ministério Público de Nueva Leon não se pronunciou a respeito desses casos, já a promotora estadual de feminicídio, Griselda Núñez, negou veemente qualquer tipo de acusação relacionada a uma tendência generalizada ou organizada de violência contra as mulheres no Estado e enfatiza que cada caso deve ser tratado individualmente.
Milhares de mulheres estão sobre o desamparo do Estado. São as próprias jovens que devem organizar-se para que se caso aconteça algo, os familiares possam saber que algo está errado e devem acionar a polícia. Os pais começam a se preocupar após 3 horas, se não tiver nenhum vestígio ou sinal de volta dessas garotas para casa. “Obviamente, espero que eles nunca usem (as instruções). É realmente horrível explicar aos seus pais o que fazer se você desaparecer. Mas prefiro que eles tenham um corpo para enterrar do que passarem a vida inteira me procurando.”, dissertou Mariana Limón Rugerio, jovem jornalista de Monterrey.
Perante a tantos crimes e suas vidas colocada em risco apenas por serem mulheres, essa comunidade adotou medidas de proteção própria, compartilhando sua localização e carregando spray de pimenta ou dispositivos de eletrochoque para autodefesa. As táticas envolvem também a proibição de postar fotos nas redes sociais em tempo real, para que estranhos não possam descobrir a sua localização atual.