Do púlpito à prisão: escândalo na Educação coloca pastores na cadeia
Ex-ministro Milton Ribeiro e pastor Gilmar Santos estão presos
No último culto na sede do Ministério Cristo para Todos, o pastor Gilmar Santos parecia mais agitado do que o costume. Com auxílio de um telão, leu trechos que justificam o pedido de valores entre R$ 250 e R$ 500 para que fosse paga a reforma da fachada da igreja que fundou na Avenida T-9, no Jardim América, em Goiânia. No dia seguinte, o pastor seria preso em Santos, litoral paulista, no cumprimento de mandado de prisão pela Polícia Federal no âmbito da “Operação Acesso Fácil”.
Sem ter tempo de “acertar” com o pedreiro que receberia o dinheiro dos fiéis, o pastor também é investigado pelo Ministério Público por ter recebido uma chácara e um lote que nunca foram registrados.
A investigação foi desencadeada após reportagens do jornal O Estado de S.Paulo. Além de Gilmar, foram presos o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro e o pastor Arilton Moura. Eles são investigados por integrarem um esquema criminoso apelidado de “balcão de negócios” na pasta em que Ribeiro comandava.
Como funcionava o esquema
Os pastores supostamente indicavam prefeituras que receberiam verbas dentro do MEC, do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), o que configura, segundo investigadores, tráfico de influência. O FNDE é um órgão atualmente com forte controle de políticos do Centrão sob a anuência do presidente Jair Bolsonaro (PL).
Ao se manifestar sobre a prisão do ex-auxiliar, Bolsonaro disse que isto “prova” falta de interferência na PF. “Nós temos em cada ministério sistema de compliance. […] Tanto é que é corrupção zero no nosso governo. O caso do Milton, pelo que eu estou sabendo, é aquela questão que ele estaria com uma conversa meio informal demais com algumas pessoas de confiança dele.”
Continuou Bolsonaro: “Tivemos denúncia que ele teria buscado prefeito, gente dele, para negociar, para liberar recursos. O que acontece? Nós afastamos ele”.
Discurso do pastor mudou
Antes, no entanto, o presidente havia dito, durante uma live no final do mês de março, que colocaria a “cara no fogo” por Milton, o que não ocorreu diante da fala.
O então ministro Milton Ribeiro chegou a afirmar, enquanto reportagens eram publicadas pelo Estadão e Folha de S.Paulo, por meio de áudios vazados, que a prioridade era atender “primeiro os municípios que mais precisam e, em segundo, atender a todos os que são amigos do pastor Gilmar”. Na ocasião, ainda disse que “foi um pedido especial do presidente da República [Jair Bolsonaro]”
Criação de CPI avança
Em pronunciamento na quarta-feira (22), o senador Humberto Costa (PT-PE) afirmou que nenhum argumento deve afastar do Congresso o direito de apurar, por intermédio de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI), as denúncias de irregularidades envolvendo o ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro.
Humberto Costa disse que o Ministério da Educação, em outros tempos, destacou-se por programas como o Prouni, o Sisu, o Caminho da Escola e o Ciência sem Fronteiras.
“Responda pelos seus atos”
Nas redes sociais, o deputado federal bolsonarista e pré-candidato ao Senado, João Campos (Republicanos), disse apenas: “Que cada um responda pelos seus atos”. A reportagem do jornal O Hoje tentou, até o fechamento desta edição, contato com a defesa dos pastores Airton e Gilmar Santos.