MC Tha apresenta seu novo projeto baseado no trabalho da sambista Alcione
Conectando o tradicional e o contemporâneo em um mesmo tempo, MC Tha versa entre o sagrado e o profano no projeto ‘Meu Santo é Forte’
Canções afro-religiosas entoadas pela sambista Alcione ganhou o coração da cantora MC Tha, e deu direção ao seu novo projeto. Por meio de cinco músicas, a artista se conectou com sua ancestralidade de um jeito original, atual e genuíno por meio do funk, tambores e pontos cantados. O projeto transmídia ‘Meu Santo é Forte’, que já está disponível em todas as plataformas digitais, apresenta também o programa ‘Clima Quente Show’, em seu canal do YouTube. Protagonizado pela própria artista, a experiência audiovisual chega aos palcos nesta quinta-feira (30).
Essencialmente conectado com a ancestralidade brasileira, o EP ‘Meu Santo é Forte’ da cantora MC Tha reapresenta para um público a beleza já cantada por Alcione. Diretamente dos terreiros de umbanda, candomblé, morros e periferias as músicas escolhidas ‘São Jorge’, ‘Figa de Guiné’, ‘Corpo Fechado’, ‘Afrekete’ e ‘Agolonã’ são o reflexo do mergulho profundo que a artista fez em pesquisas e vivência com as religiões afros. Cânticos que ultrapassam gerações com o intuito de reforçar a beleza das raízes brasileiras.
“Eu fui arrematada por Alcione quando descobri o seu repertório de canções afro-religiosas. Passei a frequentar um terreiro de umbanda e me apaixonei por uma música cantada nas giras. Quando pesquisei, descobri que a música era interpretada por ela e não acreditei. Até este momento, só a conhecia por meio das canções de amor”, relata MC Tha. Juntamente com MahalPita, produtor musical e artista transmídia que assina o trabalho, ela buscou redesenhar uma linha do tempo de volta a criação do funk mais percussivo e dos toques afros mais digitais.
‘Meu Santo é Forte’ reafirma que o funk tem tudo a ver com os ritmos e os toques afro-religiosos, como por exemplo o Congo de Ouro, ritmo de origem angolana. Ou o Jongo, outro exemplo de movimento que se assemelha com a proposta que ela propõe nesse trabalho. Características presentes na faixa ‘Rito de Passá’, que contou com a produção musical de DJ Tide, e dá nome ao seu primeiro álbum, responsável por dar projeção nacional à carreira da cantora e compositora.
Nada mais transformador que duas expressões artísticas populares e de resistência se juntando para transbordar arte. Com poder transformador, a artista ainda lembra o papel social do EP no atual cenário nacional. “Durante a feitura do projeto, tivemos algumas observações a serem levadas em consideração. Temos um aumento alarmante de casos de preconceito religioso contra terreiros, a aliança entre organizações religiosas neopentecostais atuando em algumas favelas reprimindo o povo de santo, por exemplo”, analisa a MC.
Sentimentos de pertencimento e de coletividade permeiam o trabalho, sem deixar de dar ênfase para a liberdade criativa. As canções ‘São Jorge’, ‘Figa de Guiné’ e ‘Corpo Fechado’, lançadas originalmente entre as décadas de 70 até os anos 2000, ganharam na nova versão um coro especial da Comunidade Jongo Dito Ribeiro. Estas resgatam um desejo antigo de MC Tha de trazer Alcione, uma das mais notórias sambistas do País, para dentro do processo criativo como um caminho para refletir e relembrar as raízes ancestrais do País.
Com a direção de Rodrigo de Carvalho e Vitor Nunes, a continuidade do projeto transmídia, o programa ‘Clima Quente Show’ recebe artistas em desenvolvimento na cena atual da música brasileira e convida MC Tha para apresentar as canções de ‘Meu Santo é Forte’. De forma fictícia e com um roteiro descontraído desenvolvido pela cantora, o trabalho visual cria uma realidade em que o tempo se mistura e deságua na possibilidade de imaginar uma Alcione da época do programa ‘Alerta Geral’, onde recebia personalidades e sambistas em plena TV aberta, nos dias atuais e uma MC Tha com a elegância e força na década de 70.
“Entre tambores e evocações sagradas, encantos falados e pontos cantados, uma gira musical se abre em uma mistura de feitiço e arte. MC Tha recanta o balé de Afreketê ao lado de Xangô, Ogum e Exú, seguidos pela magia negra ancestral dos pretos e pretas velhas da umbanda”, descreve David Dias, Sacerdote de Umbanda e Pai de Santo no Terreiro Aruanda, mestrando em Ciência da Religião pela PUC-SP, CEO do Aruanda Studios e fundador do Movimento ‘Terreiro Resiste’. “Esta obra pode ser considerada ebó aos ancestrais, onde o tempo, fio condutor entre a manifestação do passado no presente, prevê um futuro de sucessos e sorrisos os quais arduamente trabalhamos para encontrar”, finaliza.