Pit dogs completam 50 anos de tradição nas ruas de Goiânia
Criado em 1987, o pit dog passou de geração para geração e precisou se reinventar durante os piores anos da pandemia
A mais famosa comida de rua de Goiânia conquista o coração dos goianos e turistas há pelo menos 5 décadas. O primeiro Pit Dog foi inaugurado em 1972 na rua 7, no centro da Capital, recebeu o nome em homenagem a um pequeno animal de estimação da família Rassi. Os dois irmãos, Jorge Abdala e Jacob, juntaram o francês e o inglês para criar a expressão que hoje é uma das mais famosas na cidade.
Considerados como patrimônio cultural desde outubro de 2020, os 2 mil pit dogs de rua existentes na Capital são tradicionais e reúnem histórias diariamente. O modelo de negócio conquistou ainda vários outros municípios e Goiás conta com quase 3 mil pit dogs. Em 2020, o Estado de Goiás declarou como patrimônio cultural imaterial a gastronomia dos quiosques. Já em 2021, foi a vez da prefeitura reconhecer aquilo que já estava enraizado no coração dos goianos.
De geração para geração
Uma dessas histórias começou antes mesmo da atual dona do ‘Alavanche’ ter nascido. A ideia surgiu do pai, Anivaldo Moura Santos e de um tio, que deixou o negócio pouco tempo depois.
O recurso era pouco, mas ele viu que na época tinha um comércio de trailer fazendo sucesso e o cunhado tinha um trailer com uma sanduicheria. Ao conversarem sobre a rentabilidade, ele viu que poderia ser uma boa ideia de empreendimento inicial. “Nós montamos o trailer com o mínimo possível , não tinha nem banco. A gente atendia as pessoas em pé”.
A atual proprietária do negócio, a nutricionista Ludmylla Moura, 30, conta que durante a pandemia eles tiveram que se reinventar para conseguir atrair clientes de forma online porque até então era apenas por delivery. Eles tiveram que contratar uma equipe de marketing para ajudar a alavancar as vendas e lidar com o momento difícil.
“Foi esse trabalho que formou eu e meus irmãos. Eu fiz nutrição e meus irmãos contabilidade e medicina veterinária, era um sonho do meu pai. Sem falar que temos clientes fiéis desde que inaugurou”. Ela aproveitou o fato de ser formada em nutrição para aplicar todas as técnicas que aprendeu. A nutricionista afirma que a meta é expandir ainda mais o comércio familiar e ter outras franquias ao longo de Goiânia.
Desde 1980
Uma dessas histórias é a de Renner Cândido Reis, que há 43 anos vendeu a sua moto para construir seu legado como empreendedor e dono de um dos mais tradicionais pit dogs da cidade, o Pluttus. Em uma das regiões mais nobres da capital, o local começou, em 1980, com apenas cinco variedades dos tradicionais x-saladas.
“Eu trabalhava em um banco, mas venho de uma família de comerciantes, por isso sempre quis empreender. Eu tinha uma noção também porque ajudava as minhas tias nos armazéns”, relembra. Renner garante que muita coisa mudou ao longo desses anos e para não ficar para trás ele procurou acompanhar tudo até mesmo a mudança de hábito do consumidor e ele até revela o sucesso. “O segredo é ouvir bem os clientes e ser rigoroso nas escolhas dos produtos”.
Para o empresário, a maior dificuldade durante essas quatro décadas foram as crises pela qual ele e toda a sociedade tiveram que passar, como as mudanças de moedas, crises financeiras e a pandemia de Covid-19. Inclusive com esta última ele relata que o prejuízo foi de aproximadamente R$200 mil. O que ajudou para que ele não desistisse durante esse processo foi a perseverança e a adaptação. “Tivemos que vender um imóvel residencial para lidar com a situação e também entramos no Pronamp [Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte] e conseguimos R$75 mil com juros baixos”.
Reis também teve que vender uma de suas franquias em 2020 que ficava na cidade de Anápolis. Atualmente ele possui quatro hamburguerias que ficam no Alto da Glória, Jardim da Luz, Sudoeste e setor Sul. Quando se fala de vitórias ele não pensa duas vezes para dar a resposta. “A maior conquista que eu tive é permanecer esse tempo todo no mercado e ter o reconhecimento do cliente. Eu vejo clientes levarem os filhos hoje porque eles foram levados pelos pais antes”, conta com orgulho.