Goiás tem baixa cobertura nas principais vacinas para crianças
A queda, em comparação ao último ano, chega a 30% em algumas vacinas
O Estado registra baixa cobertura vacinal nas principais vacinas destinadas para crianças menores de 2 anos, apontam dados da Secretaria de Estado da Saúde (SES-GO). As vacinas BCG, Rotavírus, Meningo C, Penta, Pneumo 10, Poliomielite, Febre Amarela, Hepatite A e Tríplice Viral tiveram queda em comparação ao último ano.
A vacina Tríplice Viral, por exemplo, apresentou redução de cerca de 30% no período de janeiro a abril deste ano se comparado ao ano de 2021. A vacina BCG teve diminuição de 20% e a meningo C de 25%. Já com relação à Febre Amarela, a queda foi de 21%. A meta é que a cobertura chegue ao percentual de 95%, porém a maioria ainda não passou dos 50%.
Para a diretora do Hospital Estadual da Criança e do Adolescente (Hecad), médica infectologista Mônica Ribeiro Costa, a diminuição dos índices de cobertura das vacinas infantis está vinculada ao fato de doenças graves estarem sob controle.
A paralisia infantil foi erradicada, o sarampo foi eliminado, e a difteria, controlada. Ela destaca ainda que a baixa cobertura vacinal está relacionada à desconfiança infundada por parte da população em relação à eficácia e aos efeitos colaterais das vacinas. Ela ressalta que, além de proteger individualmente a pessoa, a vacina garante uma proteção coletiva. “Quando há elevados índices de vacinação, o vírus encontra dificuldade de circular e, aos poucos, vai desaparecendo”, assinala.
Também é o que aponta a pediatra especialista em desenvolvimento infantil e vice-presidente da Sociedade Goiana de Pediatria (SGP), Ana Márcia Guimarães. Segundo ela, há movimentos antivacina, com ações sem nenhum respaldo científico. No entanto, essas iniciativas ganharam força durante a pandemia de Covid-19.
”Causam medo e pânico na população. Isso é um fator que faz com que a mãe, pensando que está fazendo o melhor para o seu filho, deixe de levá-lo ao posto de saúde, de atualizar a carteirinha e participar das campanhas”, afirma a especialista. Ana Márcia pontua que a atribuição de levar os pequenos para se imunizarem é tarefa dos pais ou responsáveis.
Sem reação negativa
A mãe da pequena Valentina, de 2 anos, Ana Carolina Rodrigues, conta que a filha já tomou todas as vacinas ofertadas pela rede pública para a idade dela. “Desde criança nós sempre fomos vacinados e nunca sofremos nenhum tipo de reação negativa. Minha filha sempre está saudável, se alimentando bem, nunca teve nenhum tipo de reação que fosse fora do comum”, explica.
Diante deste cenário de baixa adesão, o secretário de Saúde do Estado, Sandro Rodrigues, ressalta que a vacina é uma das medidas mais importantes para garantir a saúde da população, em especial das crianças. “Vacina é proteção, é segurança. Vacina salva vidas”. Ele complementa que as vacinas disponíveis à população passam por longos períodos de testes. “Elas já foram estudadas, avaliadas e validadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) “, acentua.
O titular destaca, ainda, que as vacinas previnem a ocorrência de casos graves de doenças que sobrecarregam o sistema de saúde. “A ampliação da cobertura vacinal da população infantil e a consequente atualização do Cartão Nacional de Vacinação constitui uma das principais metas do governo estadual”.
Sarampo e Difteria erradicados
Em 2020 e 2021, todos os casos suspeitos de sarampo notificados em Goiás foram descartados. O Ministério da Saúde considera como ideal a cobertura vacinal de, no mínimo, 95%. Em Goiás, no entanto, os índices da vacinação da tríplice viral (que protege contra o sarampo, caxumba e rubéola) estão abaixo da meta desde 2017, quando chegaram a 80,99%. No ano passado, a cobertura vacinal foi de 76,92%. A Campanha Nacional de Vacinação contra o Sarampo, que está em curso, pretende imunizar 425 mil do total de 448 mil crianças.
A difteria, que havia sido controlada, voltou a apresentar casos isolados. O último registro era de 1998. Neste ano, foi registrado uma ocorrência, em Santa Helena de Goiás. Outros quatro casos estão em investigação. Na ocasião, foram realizadas as medidas de prevenção e controle da difteria pelos profissionais de saúde da Vigilância Epidemiológica local, com monitoramento dos contatos e rastreamento de casos suspeitos. A difteria é protegida por meio da vacina pentavalente. Em 2021, a cobertura dessa vacina em crianças foi de 71,98%.
Poliomielite
No Brasil, o último caso de poliomielite, doença conhecida como paralisia infantil, foi registrado em 1989. Em 1994, em função do êxito nas campanhas nacionais de multivacinação e das altas coberturas vacinais, a doença foi considerada erradicada no Brasil. A paralisia infantil ressurgiu em Israel e em Malalui, no sudoeste da África. Em Goiás, a cobertura vacinal da doença vem diminuindo de forma significativa há dez anos. Em 2012, o índice de cobertura vacinal foi de 101%. Em 2018, caiu para 85,54%. Já em 2021 foi de 71,60%.
Pandemia alimenta maior retrocesso nas vacinações em três décadas
A maior queda contínua nas vacinações infantis em aproximadamente 30 anos foi registrada em dados oficiais publicados hoje pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF). A porcentagem de crianças que receberam três doses da vacina contra difteria, tétano e coqueluche (DTP3) – um marcador de cobertura vacinal dentro dos países e entre eles – caiu cinco pontos percentuais entre 2019 e 2021, para 81%.
Como resultado, o UNICEF aponta que 25 milhões de crianças perderam uma ou mais doses de DTP por meio de serviços de vacinação de rotina somente em 2021. São 2 milhões a mais do que em 2020 e 6 milhões a mais do que em 2019, destacando o número crescente de crianças em risco de doenças devastadoras, mas evitáveis.
De acordo com o órgão, o declínio deveu-se a muitos fatores, incluindo um número crescente de crianças que vivem em ambientes de conflito e de vulnerabilidade – onde o acesso à imunização é muitas vezes desafiador -, aumento da desinformação e desafios relacionados à Covid-19, como interrupções de serviços e da cadeia de suprimentos, desvio de recursos para resposta à pandemia e medidas de prevenção que limitavam o acesso e a disponibilidade do serviço de imunização.
“Esse é um alerta vermelho para a saúde infantil. Estamos testemunhando a maior queda contínua na imunização infantil em uma geração. As consequências serão medidas em vidas”, disse Catherine Russell, diretora executiva do UNICEF.
Globalmente, mais de um quarto da cobertura de vacinas contra o HPV que foi alcançada em 2019 foi perdida. Isso tem graves consequências para a saúde de mulheres e meninas, pois a cobertura global da primeira dose da vacina contra o papilomavírus humano (HPV) é de apenas 15%, apesar de as primeiras vacinas terem sido licenciadas há mais de 15 anos.