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sábado, 23 de novembro de 2024
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Opinião

A Ciência e a Tecnologia venceram

O foco central deste artigo é contribuir para a compreensão das questões relacionadas à saúde e a tecnologia agroquímica

Postado em 16 de agosto de 2022 por Redação

Angelo Zanaga Trapé 

Este artigo é baseado em uma avaliação crítica sobre o livro da bióloga Rachel Carson publicado em 1962, ou seja, há 60 anos, cujo título é “A Primavera Silenciosa” no qual a autora chega a uma série de conclusões “científicas” para a época colocando a tecnologia química usada pela agricultura, os pesticidas, como causadores de uma série de efeitos prejudiciais em aves e animais e em seres humanos chegando até a fazer previsões alarmantes de que a utilização maciça dos agroquímicos causaria uma explosão de casos de mortes por intoxicações agudas, doenças crônicas e, principalmente, cânceres.

A autora bióloga faleceu em 1964 e, portanto, não pôde acompanhar o desenvolvimento da agricultura em nível mundial e também a importância das tecnologias, inclusive os agroquímicos, para o aumento da produção de alimentos em todo o mundo para atender a crescente demanda por parte da população, que cresceu desproporcionalmente em algumas regiões do planeta.

Também não pôde acompanhar os indicadores de saúde de vários países que melhoraram as condições de vida de sua população dando maior acesso a alimentos básicos que somente são produzidos em escala comercial com utilização de tecnologia de ponta, como são os insumos químicos como os agroquímicos.

Portanto, analisar os dados atuais de produção de alimentos e, principalmente, os indicadores de saúde mundiais é fundamental para entendermos os benefícios que essa tecnologia tem trazido para a população mundial.

O foco central deste artigo é contribuir para a compreensão das questões relacionadas à saúde e a tecnologia agroquímica.

A importância do uso dos agroquímicos para a produção de alimentos está muito bem documentada e os dados apresentados de produção agrícola convencional pelos organismos internacionais realçam a necessidade de seu uso de maneira adequada e segura como todas as substâncias químicas que a sociedade utiliza para melhorar a qualidade de vida das populações em todo o planeta.

As afirmações da bióloga Rachel Carson sobre os efeitos dos agroquímicos feitas há 60 anos atrás em relação aos efeitos na saúde humana foram  previsões ou, como consideramos hoje, “achismos”, considerações individuais e de componente não científico.

Em relação ao DDT, inseticida organoclorado bastante eficiente no combate ao transmissor da malária, considerado por ela como causador de “envenenamento crônico e reais alterações degenerativas no fígado e em outros órgãos” não possuía à época nenhum embasamento científico.

Em 1972, ou seja, uma década após o lançamento do livro, o professor doutor. Waldemar Ferreira de Almeida, médico do Instituto Biológico e organizador da Área de Saúde Ambiental da Unicamp, um dos pilares do conhecimento em Toxicologia dos agroquímicos no Brasil, apresentou sua tese de doutorado na faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo-USP intitulada “Níveis sanguíneos de DDT em indivíduos profissionalmente expostos a em pessoas sem exposição direta a este inseticida no Brasil”.

Neste trabalho ele coletou sangue e examinou trabalhadores da SUCAM, órgão público de combate a malária e de pessoas sem exposição e, apesar dos profissionais estarem expostos há muitos anos ao DDT, o autor não encontrou problemas de saúde relevantes, tampouco casos de câncer.

Aliás, o DDT é ainda hoje utilizado em alguns países africanos com alta incidência de malária, sem registro de aumento de casos de câncer nos mesmos, tendo o aval da Organização Mundial da Saúde.

Além do DDT, há ênfase a toda tecnologia agroquímica que se utilizada amplamente desencadearia uma epidemia de cânceres em nível mundial.

Riscos para a saúde humana

Os agroquímicos são substâncias perigosas como tantas outras substâncias como os fármacos, produtos industriais, domissanitários, combustíveis, etanol.

É preciso diferenciar o perigo do risco, pois o perigo é inerente à substância química ou a qualquer outra tecnologia como a mecânica automotiva, por exemplo, com veículos que podem atingir velocidades acima de 200 km /h.

O risco é determinado pela forma como se administra as substâncias ou as tecnologias. Tanto faz, no caso dos agroquímicos, se um produto é classe toxicológica I, II, III ou IV, pois a forma de administrá-las do ponto de vista das Boas Práticas Agrícolas, dosagem dos preparos das caldas, das tecnologias de aplicação e do uso dos Equipamentos de Proteção Individual pelos profissionais que as manipulam deverão ser as mesmas para qualquer classe toxicológica. Caso sejam respeitadas todas as orientações técnicas, o risco, que é a probabilidade de uma pessoa ou uma população apresentar algum efeito à saúde pela manipulação, será mínimo, sem relevância toxicológica.

Há 60 anos certamente havia uma diferença do conhecimento científico, das formas de controle e de utilização e da Toxicocinética e Toxicodinâmica dos agroquímicos, o que determinou uma visão parcial e pouco científica da bióloga Rachel Carson.

Em relação aos riscos para a saúde humana, se analisarmos os dados de intoxicações por agroquímicos no Brasil pelo Sistema Nacional de Informações Toxicofarmacológicas-SINITOX de 2017, há uma tendência de redução expressiva dos casos de intoxicação aguda de origem ocupacional e somente notificação de poucos  casos de óbito em todo País na maior parte intencionais (tentativas de suicídio).

Câncer

Este efeito é sem dúvida o que mais preocupa e mais traz incertezas em todos os campos da Ciência. Porém, os recursos diagnósticos estão mais avançados, as análises clínico epidemiológicas também e as agências internacionais têm realizado inventários frequentes sobre tendências e etiologias dos diferentes tipos de câncer distribuídos por todos os países.

O IARC, International Agency For Research on Cancer, da Organização Mundial da Saúde, tem apresentado sistematicamente dados sobre câncer e tendências nos países.

O Brasil tem o câncer como a segunda causa de morbimortalidade e estima-se um aumento de 75% nos casos nos próximos 20 anos, pois há um maior envelhecimento da população, ou seja, a população brasileira está vivendo mais tempo e também por um aumento nas regiões de Norte por uma alta incidência de doenças infecciosas e nas regiões do Sul pelo estilo de vida, hábitos (tabagismo e etilismo), poluição atmosférica de centros urbanos com aumento de casos de câncer de pulmão e mamas. Não há referência a agroquímicos.

Etiologia do câncer

Desde a ”Primavera Silenciosa”, de 60 anos atrás, tenta-se relacionar agroquímicos com câncer e, recentemente, o IARC apresentou um relatório sobre câncer no mundo, os principais tipos e etiologias.

Em relação a etiologias, são apresentados como agentes carcinogênicos: benzeno, cloreto de vinila, aflatoxinas, asbesto, arsênico e compostos, DES, radônio, radiação solar, tabaco, radiações ionizantes entre outros.

Agentes provavelmente carcinogênicos

Tricloroetileno, estireno, compostos de chumbo inorgânico, exaustão de diesel, cloranfenicol, anabolizantes, entre outros, inclusive embutidos e carnes curadas como presunto, linguiça e bacon .

Em exposições ocupacionais não há menção pelos pesquisadores do IARC de exposição a agroquímicos e sequer menção de nenhum agroquímico carcinogênico ou provavelmente carcinogênico.

Portanto, não há indicadores de saúde e de pesquisa das agências da OMS que estabeleçam relação entre câncer e agroquímicos, de acordo com o Método Científico em Toxicologia.

Deve-se atentar que o conhecimento científico evolui e novos achados clínicos possam ser identificados, sem que isso determine nenhum questionamento das tecnologias.

A talidomida fármaco, utilizada inicialmente para gestantes e que causou efeitos teratogênicos em centenas de crianças cujas mães ingeriram a medicação contra náuseas e enjôos, foi identificado como excelente medicação para alguns tipos de neoplasia como mieloma múltiplo, doenças como lúpus e está em uso terapêutico atualmente com excelentes resultados e não é permitido para gestantes.

A questão da talidomida é um indicador essencial de como se pode administrar o risco de uma substância química extremamente prejudicial a um grupo populacional e altamente benéfica para outro.

Dados do IBGE atuais indicam que nos últimos 30 anos a expectativa de vida da população brasileira aumentou em mais de  10 anos, ou seja, estamos vivendo mais e esse indicador é dependente da melhora das condições de vida, em que o fator alimentação saudável, nutritiva e segura do ponto de vista de contaminantes é essencial.

Considerações finais

A análise feita no livro da bióloga Rachel Carson sobre o futuro da Humanidade e o uso dos pesticidas não é compatível com o panorama mundial do uso da tecnologia agroquímica que se mostra fundamental para a produção de alimentos em alta escala e capaz de alimentar inclusive populações de países de baixa produção agrícola por questões ambientais entre outras.

Os indicadores ambientais também mostram que o uso da tecnologia agroquímica reduz perdas ambientais e aumenta a produtividade em áreas menores.

Os indicadores de saúde das organizações internacionais de saúde não indicam “epidemias” de doenças causadas pelos agroquímicos e tampouco câncer.

Outros efeitos crônicos que poderiam estar associados à exposição contínua e de longo prazo aos agroquímicos não são detectados em centros de investigação clínica em nível mundial.

Assim, a conclusão científica da análise do livro da bióloga Rachel Carson é que ela estava equivocada e que deve se ter ações proativas dos diversos setores da agricultura, meio ambiente, saúde principalmente mostrando a real situação do uso dessa tecnologia, sua relevância na produção de alimentos em nível mundial e a qualidade de vida das populações que a utilizam e da população consumidora em geral.
Angelo Zanaga Trapé é membro do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS)

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