Acidentes com motos custaram R$ 75 milhões à saúde de Goiás em 15 anos
Entre 2018 e 2022 foram registrados 7.159 mortes no trânsito em todo o Estado
Desde 2008, o sistema público de saúde de Goiás gastou mais de R$ 75 milhões apenas com procedimentos médicos envolvendo acidentes com motociclistas. Os dados obtidos através da Lei de Acesso à Informação (LAI) mostram ainda que, ao todo, 44,453 mil pessoas foram internadas nas 53 unidades estaduais – entre conveniadas, próprias e organizações sociais em saúde (OS). Em 15 anos, foram registradas 1.131 mortes dentro das unidades. Segundo dados da Secretaria de Segurança Pública de Goiás (SSP-GO) coletados pelo O Hoje, entre 2018 e 2022 foram registrados 7.159 mil mortes no trânsito em todo o território.
O desrespeito à legislação de trânsito, a falta de campanhas educativas e cuidados básicos com os veículos são os principais fatores que explicam o aumento de vítimas fatais no trânsito. De 2020 para 2021, os acidentes envolvendo motocicletas cresceram 5.6%. Foram 25.077 acidentes no 1º ano e 26.488 mil no segundo. Este ano, a SSP já registrou 13.293 acidentes com esse público.
Atores mais frágeis na disputa por espaço no trânsito, os motociclistas que se acidentam costumam carregar as sequelas no corpo para o resto da vida. A entregadora de comida por delivery, Rosana Ferreira, 42, vive, ainda hoje, as consequência de um acidente em abril de 2021.
Parada no sinaleiro da rua Cora Coralina, esquina com a rua 105, no setor Sul, Ferreira sentiu o impacto de uma batida. “De repente eu tive uma sensação de que eu estava no ar rodando, e quando eu me deparei eu tinha batido em um muro de uma esquina e só me lembro dos flashs de memória de quando eu vi minha mão toda torta e sem conseguir levantar e mexer as pernas”, relembra.
Após ser socorrida pelo Corpo de Bombeiros, ela foi encaminhada para o Hospital de Urgências de Goiás (Hugo), onde passou por duas cirurgias ainda no mesmo dia do acidente devido à gravidade dos traumas. Havia ainda a possibilidade de amputação da perna por causa dos machucados.
“Como os médicos observaram que havia retorno venoso na minha perna, eles fizeram uma reconstrução de uma parte da minha perna. Eu continuei internada e 12 dias depois passei por outra cirurgia para colocar uma gaiola na perna e alguns pinos na minha mão”, conta.
Falta de fiscalização e campanhas
O professor e especialista em Mobilidade Urbana, Marcos Rothen, avalia que a fiscalização de trânsito é deficiente e que as sinalizações são insuficientes. Em muitas cidades brasileiras vemos uma sinalização mais cuidada. Aqui, as faixas apagam com pouco tempo de uso e os semáforos também não são bem cuidados e os tempos de verde e vermelho são muitas vezes mal distribuídos”, reporta.
Para ele, uma das medidas que podem contribuir para reduzir o desrespeito às normas é uma fiscalização rígida e punições constantes. “A grande maioria das pessoas acreditam que vão cometer uma infração e não terão consequências. As pessoas gostam de uma aventura, e se não houver uma pressão da fiscalização essas estatísticas sobre acidentes continuarão crescendo. O trânsito mata e a única vacina é a mudança de comportamento dos condutores”, aposta.
O professor e especialista em Mobilidade Urbana, Marcos Rothen acredita que esse aumento substancial no número de acidentes é devido ao desrespeito às regras de trânsito das ruas brasileiras. “Para dirigir um veículo é necessário um treinamento, e muitas pessoas compram um veículo sem ter uma habilitação. Outro fator é que alguns motociclistas acham que são donos das ruas e realizam ultrapassagens proibidas, arriscando a própria vida e a vida de quem está trafegando próximo a ele”, explicou Rothen.
Indenizações
Vítimas de acidentes de trânsito têm direito à indenização para cobrir gastos e despesas médicas. Rosana, por exemplo, está há um ano sem poder trabalhar e depende de vários medicamentos e custos para fazer consultas e se recuperar.
No Brasil, a quantidade de indenização por morte pagas pelo Seguro Obrigatório de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Vias Terrestres (seguro DPVAT), era de 48% em vítimas por acidentes em automóveis e 38% em motocicletas, em 2011. Já em 2020, 51,9% das indenizações foram destinadas à familiares de motociclistas que se envolveram em acidentes fatais e 33,52% para famílias de condutores de automóveis
“Em alguns estados a pessoa que é responsável pelo acidente deve indenizar a vítima, mas isso dificilmente acontece. E com certeza um prejuízo enorme a essas famílias”, comentou Marcos.
Desde que se acidentou Rosana e seus familiares buscaram apoio financeiro pelo INSS, e ela está sendo beneficiada desde então. “Depois desse acidente não tem como eu contar que amanhã eu vou andar normalmente. Eu vivo um processo diário, e só penso que hoje eu vou estar melhor que amanhã e assim sucessivamente”, completou ela, que já está há 1 anos e 5 meses afastada do trabalho.
Número de infrações de trânsito dispara em Goiânia
No trânsito todo cuidado é pouco, mas tem muita gente que ignora essa máxima e desrespeita a lei. O resultado é uma chuva de multas, registradas todos os dias nas ruas e avenidas de Goiânia. As 10 infrações mais cometidas em Goiânia resultaram em quase meio milhão de multas.
Transitar em velocidade superior à máxima permitida é a infração mais comum na Capital, com 65,3% das ocorrências deste montante. Foram aplicadas 292.584 mil penalidades até agosto de 2022.
Na segunda posição aparecem as infrações de conversões em locais proibidos. Na terceira posição das infrações mais recorrentes está o avanço no sinal vermelho. Um fator que não muda são os 60% das infrações de motoristas que dirigem acima da velocidade permitida. A Secretaria de Municipal de Mobilidade (SMM) pontua ainda que os veículos que estacionam na calçada/canteiro central, ou que mexem no celular enquanto dirigem são irregularidades multadas diariamente.