Setembro Amarelo: entenda os sinais de quem precisa de ajuda
Campanha conscientiza a população sobre a prevenção do suicídio, buscando alertar a respeito da saúde mental e da prática no Brasil e no mundo
O Setembro Amarelo é a maior campanha anti-estigma do mundo. O dia 10 deste mês é, oficialmente, o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, mas a iniciativa acontece durante todo o ano. Em 2022 o lema é “A vida é a melhor escolha!”, e diversas ações já estão sendo desenvolvidas.
O suicídio é uma triste realidade que atinge o mundo todo e gera grandes prejuízos à sociedade. De acordo com a última pesquisa realizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), são registrados mais de 700 mil suicídios em todo o mundo, sem contar com os episódios subnotificados, o que pode elevar os casos para mais de 1 milhão.
No Brasil, os registros se aproximam de 14 mil casos por ano, ou seja, em média 38 pessoas cometem suicídio por dia. Se comparado com as mortes por outras doenças, mais pessoas morrem como resultado de suicídio do que HIV, malária ou câncer de mama.
Entre os jovens de 15 a 29 anos, o suicídio foi a quarta causa e morte depois de acidentes no trânsito, tuberculose e violência interpessoal. Trata-se de um fenômeno complexo, que pode afetar indivíduos de diferentes origens, sexos, culturas, classes sociais e idades. As taxas variam entre países, regiões e entre homens e mulheres.
No Brasil, 12,6% por cada 100 mil homens em comparação com 5,4% por cada 100 mil mulheres, morrem devido ao suicídio. As taxas entre os homens são geralmente mais altas em países de alta renda (16,6% por 100 mil). Para as mulheres, as taxas de suicídio mais altas são encontradas em países de baixa-média renda (7,1% por 100 mil).
570 em Goiás
Em Goiás, foram registrados um total de 570 suicídios em 2019 e 330 casos em 2020. A psicóloga Elma Batista é coordenadora da Gerência de Saúde Mental da Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO), e comentou que se informar para aprender a ajudar o próximo é a melhor saída para lutar contra esse problema tão grave.
“É muito importante que as pessoas próximas saibam identificar que alguém está pensando em se matar e a ajude, tendo uma escuta ativa e sem julgamentos, mostrar que está disponível para ajudar e demonstrar empatia, mas principalmente levando-a ao médico psiquiatra, que vai saber como manejar a situação e salvar esse paciente”, orienta a especialista.
Ela destacou que é importante estar atento a alguns sintomas como: dificuldades de concentração, sentimentos de fracasso e insegurança, negatividade constante, isolamento, irritabilidade, perda de interesse e prazer pela vida e pensamento de morte. “Diante da identificação desses sintomas é importante que a pessoa converse sobre seus sentimentos e procure ajuda de um profissional de saúde mental”, explica Elma.
Queda das taxas
Mundialmente, a taxa de suicídio está diminuindo, com a taxa global diminuindo de 36%, diminuições variando de 17% na região do Mediterrâneo Oriental a 47% na região europeia e 49% no Pacífico Ocidental. Mas na Região das Américas, as taxas aumentaram 17% no mesmo período entre 2000 e 2019, é o que aponta a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).
Para a ABP, quando uma pessoa decide terminar com a sua vida, os seus pensamentos, sentimentos e ações apresentam-se muito restritivos, ou seja, ela pensa constantemente sobre o suicídio e é incapaz de perceber outras maneiras de enfrentar ou de sair do problema. Essas pessoas pensam rigidamente pela distorção que o sofrimento emocional impõe.
“Todos nós devemos atuar ativamente na conscientização da importância que a vida tem e ajudar na prevenção do suicídio, tema que ainda é visto como tabu. É importante falar sobre o assunto para que as pessoas que estejam passando por momentos difíceis e de crise busquem ajuda e entendam que a vida sempre vai ser a melhor escolha”, ressalta.
Setembro amarelo também alerta para o burnout
Desde o dia 1º de janeiro de 2022, a síndrome de burnout passou a ser reconhecida como doença ocupacional. “A síndrome de burnout, segundo especialistas, pode evoluir para um quadro de depressão profunda e, se não tratada, levar ao suicídio”, alerta Veridiana Moreira Police, diretora jurídica da Associação Brasileira de Recursos Humanos Seccional (ABRH).
Um levantamento realizado pela International Stress Management Association (Isma-BR) destaca que o Brasil é a segunda nação com mais casos de burnout no mundo. O índice supera países como Estados Unidos e Alemanha e coloca o Brasil atrás apenas do Japão, que tem 70% da população atingida pela doença.
A síndrome de burnout, que acomete 30% entre mais de 100 milhões de trabalhadores, segundo pesquisa da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamt), passou a ser reconhecida como doença ocupacional pela Organização Mundial da Saúde (OMS) no dia 1º de janeiro de 2022, com o início da vigência da 11ª revisão da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde, ou CID-11.
“De forma resumida, a síndrome de burnout pode ser entendida como distúrbio emocional gerado por um esgotamento físico e mental intenso, provocado por situações desgastantes, altamente estressantes, geradas no ambiente laboral ou pelas más condições em que o trabalho é exercido”, afirma Veridiana.
Como causa, “ou mesmo concausa”, é impossível não associar a doença à realidade do mundo do trabalho contemporâneo. “Sem dúvida são novos tempos, com tecnologias avançando em um ritmo frenético, em que tudo é instantâneo e traz consigo um aumento exponencial de microdecisões que temos que tomar por minuto”, diz. “Tudo isso gera cansaço e desgaste, um esgotamento mental e físico que pode gerar efeitos deletérios na vida do trabalhador. Como dizem, podemos disputar uma maratona, mas não podemos viver em uma. Pausar é preciso”, concluiu.