Goiânia não está preparada para atender fluxo de veículos
Capital tem uma das maiores frotas e é a sexta em número de veículos automotores
Com a sexta maior frota de veículos entre as capitais brasileiras, Goiânia possui quase 1,3 veículos por habitantes, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Estatística (IBGE). Segundo dados da Secretaria Nacional de Trânsito, até março deste ano, eram mais de 1,2 milhão de unidades, das quais cerca de 806 mil são automóveis e caminhonetes, e 319 mil são motocicletas ou motonetas.
Sobre a capital estar preparada para essa quantidade de veículos, especialistas afirmam que não, devido a falta de planejamento inicial. “Goiânia foi planejada para 50 mil habitantes. As avenidas Goiás e Tocantins, por exemplo, são largas e conseguem receber uma grande quantidade de veículos, porém ela cresceu muito além do planejado. Os bairros que foram surgindo não tiveram um planejamento estratégico pensando em qual eixo de desenvolvimento da cidade iria acontecer”, declara a arquiteta e urbanista, Sarah Norden.
Quem também tem o mesmo posicionamento é o especialista em trânsito, Marcos Rothen. “Era preciso que a cidade modernizasse acima de tudo a sua Engenharia de Tráfego para permitir um maior controle da circulação desses veículos. A Engenharia de Tráfego evoluiu muito nos últimos 50 anos, o que não foi acompanhado por Goiânia”, esclarece.
Mobilidade sustentável
Para Sarah Norden a capital também não está elaborada para uma mobilidade mais humana e sustentável devido às construções inauguradas atualmente. Segundo ela, a única obra destinada a pedestres foram as ciclovias, mas as obras mais recentes foram os viadutos como o da Jamel Cecílio com a Marginal Botafogo, extensão da Marginal até o ponto do setor Pedro Ludovico e a extensão da Leste Oeste.
“Só é identificado obras para veículos automotores, não é observado obras que atendam ao pedestre, que incentivem o uso de veículos não poluentes, uso de bicicletas ou moto elétricas. Isso direciona para o individualismo e não para o coletivismo”, destaca a arquiteta e urbanista.
Ela enfatiza ainda que a cultura do uso de transportes alternativos foi evidenciada com a chegada da pandemia. Como foi incitado a evitar aglomerações, as pessoas buscaram outras formas de chegar a seus compromissos. Devido a isso tornou- se comum ver mais pessoas usando transportes como bicicletas, motos elétricas e patinetes elétricos. Apesar da retirada das restrições, os goianos continuaram com a mesma iniciativa até como forma de economizar mais dinheiro, conforme declara a especialista.
Uma pessoa que aderiu a isso foi o eletricista, Mário Sérgio Vieira,26. Ele sai de casa às 5h40 da manhã para se deslocar até o trabalho de bicicleta. Ele tem uma moto, mas optou em pedalar para economizar com a gasolina e também usa como forma de praticar exercício físico.
“Para ir trabalhar eu pedalo 18 minutos e para voltar cerca de 21 minutos. Eu uso a minha moto apenas para longas distâncias. Assim eu economizo com passagem de ônibus e combustível. E como não tenho tempo de exercitar depois que chego do serviço, uso esse tempo de deslocamento que eu tenho”, detalha Mário.
Contudo, ele conta que pretende adquirir um carro em breve visto que será mais fácil de se deslocar com a filha e a esposa grávida de sete meses. Quando precisa sair com elas, ele usa o carro por aplicativo.
Trânsito caótico
Especialista de Trânsito, Marcos Rothen destaca que outra situação que demonstra o atraso de Goiânia no controle do tráfego é a possibilidade de se estacionar no centro da cidade. Ele cita como exemplo muitos carros que ficam estacionados em diversas ruas do centro e sem pagarem por isso. Segundo ele, tal situação em outras grandes cidades é normalmente proibida, e quando o estacionamento é autorizado só é permitido ficar por um curto período, mas sob a cobrança de taxa.
Para ele, o próprio comportamento dos motoristas goianos atrapalham para que haja uma melhor fluidez no trânsito. “O trânsito em Goiânia é caótico, o que é diferente do congestionado. Por aqui muitos motoristas têm um comportamento selvagem. Esse comportamento pode ser visto, por exemplo, ao estacionar nas esquinas, o que atrapalha a visibilidade dos demais. Também é facilmente visto no comportamento dos motoristas dos aplicativos que param para esperar ou embarcar/desembarcar seus clientes em qualquer lugar, mesmo dificultando o tráfego dos demais veículos”.
Quanto ao uso dos ônibus, o especialista afirma que eles são pouco atrativos visto que a demanda de ônibus é baixa e muitos são velhos e com manutenção deficiente. Outro ponto destacado por Rothen é que muitos desistem de andar de bicicleta devido a falta de respeito por parte dos motoristas e falta de infraestrutura nas vias.
“Seria ideal o aumento da fiscalização para evitar os abusos, por exemplo, além do estacionamento em qualquer lugar temos o problema do uso do celular que distrai os motoristas e eles causam mais caos. Ao falar no celular se distraem e não se comportam de forma adequada, andam mais devagar do que o normal, fazem manobras perigosas”, soluciona.