Produção de remédios cai e cidades enfrentam desabastecimento
Espera pode demorar até 6 meses para alguns medicamentos
Enfermeira, Kárita Bento de Azevedo está peregrinando de farmácia em farmácia em busca da amoxicilina com clavulanato desde o início da semana. Sua filha, Geovanna de 17 anos, recebeu o diagnóstico de sinusite. Ela está tomando outros medicamentos receitados pelo médico, mas como está faltando o principal ela não apresentou melhora significativa ainda e essa situação tem deixado a mãe aflita.
“Não sei mais o que fazer. Eu ligo, vou pessoalmente, mas não consigo encontrar o medicamento em lugar nenhum”. Os sintomas de Geovanna como febre, dor de cabeça forte, congestionamento nasal e secreção ainda são persistentes.
Essa realidade é da maioria dos goianos nas últimas semanas. Especialista em farmacologia, Álvaro Souza destaca que os medicamentos que estão mais em falta são corticoides pediátricos, antibióticos infantis, principalmente os que são à base de amoxicilina com clavulanato. Ele explica que desde o início do ano estão bem irregulares as distribuições.
“O motivo é a falta de matéria prima. Mais de 95% da medicação do Brasil vêm de países como China e Índia. A onda de Covid-19 na China atrapalhou muito na produção dos insumos e rumores de guerra também atrapalham o fluxo de produção”, destaca.
Souza atua na área de farmácia há 17 anos e diz nunca ter observado a falta de tantos medicamentos como agora. No dia a dia, ela costuma indicar outras farmácias para os clientes, mas a peregrinação nem sempre gera bons resultados.
“Essa semana atendi uma senhora que estava procurando um medicamento para o neto, o antibiótico infantil que é a amoxicilina com clavulanato. A receita era de três dias atrás. Ela me disse que já tinha andado em mais de 20 farmácias. Eu mostrei a ela o tipo de amoxicilina disponível e sugeri pedir para o médico passar outra receita”.
Escassez
Outros remédios difíceis de encontrar são os antialérgicos, antigripais, pastilhas para garganta e alguns xaropes. Nesses casos, os farmacêuticos podem indicar outras opções para auxiliar com os sintomas de tosse, por exemplo.
Segundo o especialista, desde a última semana começou a escassez de remédio para pressão. Essa medicação é exclusiva, não tem genérico , nem similiar dele que se chama atensina para tentar substituir. Várias pessoas que fazem o uso crônico deste medicamento não conseguem, conforme destaca Souza.
“Desde a semana passada também falta um remédio usado para tratar a diabetes, ele está em falta em praticamente todas as distribuidoras que fazemos compras. Essa semana já consegui a metformina que tem contornado parte da situação”.
Desde novembro do ano passado
A diminuição no número de medicações deu início em novembro de 2021, de acordo com Souza. Às vezes a distribuidora avisa a chegada de alguns remédios específicos, mas para que haja maior distribuição a quantidade de caixas por farmácias são limitadas, cerca de quatro a seis dependendo do produto.
“A Novalgina infantil a gente não encontra desde novembro, mas a dipirona xarope genérica chegou no mercado e dá para atender a demanda”. A melhor alternativa usada pelos farmacêuticos é fazer essa “troca” por outro medicamento que o laboratório já consegue fabricar.
Mas existem medicamentos que são isentos de prescrição como antialérgicos, antigripais e analgésicos. No país, a estimativa entre os medicamentos, há falta de antibióticos do componente básico em 89,4% dos municípios e medicamentos para transtornos respiratórios do componente básico em 55,2%. Nesses casos, é indicado algum outro remédio com o mesmo princípio ativo. Contudo, em casos de remédios que não tem como fazer a substituição, é orientado que o paciente vá ao médico para pedir outra receita.
Falta de incentivos e demanda em queda
Diretora de Comunicação do Sindicato dos Farmacêuticos do Estado De Goiás (SINFARGO) e farmacêutica industrial, Elister de Oliveira Rodrigues leva em conta o inverno pelo aumento dos casos de crises respiratórias; Problemas de logística e distribuição e a falta de embalagens.
O ritmo da indústria farmacêutica no país passou a operar em cima da demanda que reduziu com a diminuição dos casos de doenças respiratórias. Para Rodrigues, faltam incentivos às indústrias farmacêuticas nacionais na produção interna destes insumos e também na produção dos demais itens importantes para toda a cadeia produtiva”.
Com relação ao preço dos medicamentos, Rodrigues destaca que o valor é regulado por lei e existe um preço máximo tabelado ao consumidor. A farmacêutica ressalta ainda que o aumento é anual e como existe grande parte de insumos importados, o aumento no dólar, a instabilidade gerada pela incerteza mundial, fez com que ocorra a redução da margem, com isso houve a redução do desconto. (Especial para O Hoje)