Uso excessivo de telas e mídias sociais oferece risco às crianças
Prejuízos estão relacionados a concentração e a socialização das crianças
Com uma geração que já nasceu conectada e tem uma facilidade muito maior em usar a internet, não é incomum que algumas crianças tenham algum aparelho como celular, tablet ou notebook para jogos eletrônicos, acesso a streaming ou mesmo entretenimento pelas redes sociais. As vantagens que a internet e as tecnologias trouxeram para a contemporaneidade são inegáveis, só que algo muito preocupante, é que o ambiente digital deixa os pequenos expostos a muitos perigos.
Segundo estudo conduzido pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic) do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC), 93% das crianças e adolescentes do país, entre 9 e 17 anos, são usuárias de internet. Contudo, o ambiente virtual também pode trazer riscos, caso seja utilizado sem um mínimo de conhecimento e prevenção contra os perigos que a rede traz a essa faixa etária.
Em contrapartida a isso, o advogado especialista em direito digital e proteção de dados, Rafael Maciel, explica que com a evolução do mundo, o uso pode ser feito, desde que com cautela. “Esses dois anos reforçaram a necessidade do uso da internet, observamos as escolas e os pais se adaptando ao digital. Mas é fundamental entender que o uso desenfreado e não monitorado pode oferecer riscos sérios para as crianças”, pontua.
De acordo com dados de uma pesquisa realizada pela empresa de cibersegurança NortonLifeLock, 42% dos pais deixam seus filhos, menores de 18 anos, usarem a internet sem nenhum tipo de supervisão. Ao mesmo tempo, 72% alegam que as crianças tiveram contato com algum tipo de situação perigosa na internet enquanto estavam na rede sem monitoramento.
Janela de insegurança
Em alguns casos, os tutores costumam deixar os dispositivos sempre desbloqueados e livres para que as crianças acessem. E muitos acreditam que os aparelhos celulares, tablets ou notebooks dão segurança pelo fato de a criança estar dentro de casa. Só que não é bem assim, essa liberdade abre uma janela mundial dando espaço para criminosos como pedófilos ou assediadores.
“A sociedade hoje não foi preparada com a disciplina de ensinar os cuidados e riscos de ficar expostos no ambiente digital. Poucas crianças são orientadas ou possuem o cuidado e vigilância dos pais para verificar o que está acontecendo e o que elas estão acessando nas mídias sociais” relata Rafael.
O especialista lembra que antes que algo aconteça, esses responsáveis devem explicar sobre os ricos e orientar os filhos para que conversem sobre tudo que acontecer. “Alguns criminosos inclusive ameaçam a criança dizendo fazer algum mal a seus pais. É importante estar próximo e principalmente instalar aplicativos de monitoramento para saber o que as crianças faz”, destaca.
“Não devemos proibir o uso dos dispositivos, pois vai chegar um ponto que será necessário que a criança ou adolescente tenha contato com o mundo. Querendo ou não é uma ferramenta essencial para vida e contato social”, completa.
Uso supervisionado
Aos 6 anos, Yasmin Silva dos Santos já tem uma conta no Instagram, só que tudo acessado e publicado por ela passa pela supervisão da mãe. Por compreender os riscos das redes sociais, Pedrina Farias dos Santos, dá a possibilidade da filha aprender e acompanhar a evolução tecnológica, porém com cuidado e com tempo determinado.
“Como mãe me preocupo demais com os conteúdos que minha filha possa estar acessando, por isso não compro nenhum aparelho pra ela, e quando ela quer usar eu entrego meu celular. Dessa forma a conta da rede social dela fica no aparelho, e eu acompanho tudo que ela acessa, pesquisa, posta, além de saber com quem ela conversa”, conta a manicure.
Se os pais permitem a criação de perfis de seus filhos em redes sociais, é indispensável restringir o acesso do aplicativo aos dados pessoais. “Nesse ambiente, as crianças podem se tornar vítimas de ciberbullying. Mas há ainda o risco à segurança pessoal por revelação de seus hábitos, rotinas, locais frequentados, nas postagens de fotos. Sem essas proteções, crianças e adolescentes ainda estão ao alcance de potenciais criminosos, que podem fazer contato por mensagens”, reforça Rafael.
“Além de conversar com as crianças sobre a necessidade desses cuidados, é recomendado que os pais ou responsáveis se mostrem presentes ou próximos, inclusive em algumas postagens, pois essa atitude inibe ações de assediadores”, orienta o especialista.
Atenção prejudicada
Para a Neuropsicóloga Luciana Borges Oliveira, o excesso do uso de aparelhos eletrônicos por crianças deveria ser proibido, pois na fase dos 2 aos 5 anos essas crianças estão em processo de desenvolvimento cognitivo. “Nessa faixa etária o córtex frontal é muito afetado, e isso vai refletir lá na frente, trazendo dificuldades com a atenção, concentração e memória. Além da atenção, esse uso contínuo aumenta principalmente a ansiedade”, relata Luciana.
Victor Gabriel Aparecido da Silva, 11 anos, ganhou seu primeiro celular no aniversário de 9 anos. De lá pra cá já baixei vários jogos e tem aplicativos de mensagens e rede social. “Meu irmão me ensinou a mexer em algumas coisas que eu não sabia. Eu acho legal ter meu próprio aparelho, mas minha mãe às vezes chama minha atenção pra deixar ele de lado”, contou Victor.
Ednalva Silva comenta que depois que Victor ganhou o celular, ela percebeu que o rendimento na escola caiu. Além disso, ele esquece dos seus afazeres quando está entretido no telefone. “Sei que são vários os riscos, mas minha maior preocupação é com as responsabilidades dele como criança, em querer estudar. Como o Victor é muito lerdo sempre tenho que ficar em cima pra ele fazer as atividades. Ai pra entrar em consenso eu deixo ele usar o telefone 2 vezes por dia caso ele cumpra com o dever de casa”, relata a mãe.
De acordo com a especialista, o tempo de 1 hora é o suficiente para que essa criança se divirta. Ela destaca que o uso contínuo é prejudicial, por isso ter uma rotina saudável viabiliza o convívio social com outros colegas. “Muitas escolas hoje proíbem o uso de aparelhos eletrônicos, e isso já contribui para evitar que essas crianças e adolescentes desenvolvam a Nomofobia [medo irracional de ficar sem o seu telefone celular ou ser incapaz de usar o telefone]. Além disso, ao inibir o uso do aparelho, o cérebro faz com que eles prestem atenção no que está sendo apresentado”, completa.
Além dos riscos de prejudicar o desenvolvimento cognitivo, a neuropsicóloga destaca que caso essa criança ou adolescente esteja no celular no momento que está indo dormir, é necessário que os pais proíbam. “As ondas eletromagnéticas do celular se conectam com nosso cérebro, e isso afeta o sono. Provocando insônia e diminuindo a qualidade do sono”, indica Luciana.
Outro ponto a se destacar é que o excesso de telas impede a criança de criar vínculos e contatos sociais. “O cérebro para de desenvolver sentimentos como a empatia cognitiva, emocional e compassiva, e a criança deixa de se importar com o coleguinha, fazendo ela se ligar somente com as mídias sociais”. (Especial para O Hoje)