O dia em que brasileiros vão definir o futuro do País
Depois de passarem pela peneira do primeiro turno, angariar aliados e superar obstáculos, Jair Bolsonaro e Lula da Silva se enfrentam nas urnas
Domingo, dia 30 de outubro. O Brasil de 156 milhões de eleitores vai às urnas decidir quem vai ocupar a cadeira mais importante, a presidencial, nos próximos quatro anos: Jair Messias Bolsonaro, do Partido Liberal ou Luiz Inácio Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores. Os dois candidatos duelam há meses por pelo menos cinco dezenas de milhões de votos para garantir a somatória de votos válidos que os legitimam ao uso da faixa presencial naquela que é a cerimônia pública mais importante do País desde a redemocratização, quando o eleito toma posse sob o olhar atento de eleitores, aliados e brasileiros enfezados – pessoalmente ou por transmissões ao vivo.
As pesquisas dão conta de que o ex-metalúrgico e ex-presidente por duas vezes, Lula, de 77 anos, segue à frente do atual presidente e candidato à reeleição, Bolsonaro, de 67, avançou, com aliados eleitos e reeleitos, para garantir outros quatro anos do capitão reformado e deputado por sete mandatos. O jogo do xadrez desta vez, no entanto, é dos mais complexos. O xeque-mate pode ter sido definido pelo debate entre os presidenciáveis na noite de sexta-feira (28) da Rede Globo, desdobramentos de denúncias ou da correria do sábado que antecede ao domingo de roer as unhas tanto do lago vermelho, cor-símbolo do petismo, quanto do verde-amarelo, cores da bandeira nacional do qual bolsonaristas se apropriaram.
O eleitor brasileiro vai às urnas votar mais pelo medo de não ver o “outro” eleito do que pelos projetos. A máxima é explícita quando se enxerga o índice de rejeição de ambos. Não vai pela esperança, mas como se o voto fosse um botão para fechar a ponte e evitar a passagem do trem. A isso se deu o nome de polarização, quando dois opostos, no centro do debate, são ojerizados no único momento em que de fato o brasileiro tem o poder de escolha: seja de tirar ou evitar que se estabeleça determinado candidato.
De um lado, Lula da Silva, que carrega o assombro da corrupção impregnado à própria biografia, quando foi de o “cara” para o ex-presidente americano Barack Obama a “chefe de quadrilha” pelo então Deltan Dallagnol e Sérgio Moro. Preso, Lula cumpriu uma pena cercado pela militância em Curitiba, no Paraná, numa cortina para evocar, durante mais de 500 dias, o principal líder da esquerda.
Do outro lado, Jair Messias Bolsonaro, cujo glossário assustou parte dos brasileiros mais civilizados. Do mesmo jeito que entrou no cenário político, Bolsonaro chega neste domingo de segundo turno: sem trair as origens de militar, vocabulário ocre, propostas que não deixam de transformá-lo no oposto ao que, para ele, a esquerda representa: um risco à família.
Quanto aos riscos, Lula, e não é a primeira vez, novamente é visto como o perigo da estabilidade econômica – que o governo atual reverba que anda satisfatório – e à liberdade das igrejas dos crentes. Depois de uma série de críticas, a igreja Católica pode hoje ser vista como uma força contrária a Bolsonaro.
Aliado do presidente, o senador eleito no último dia 2 de outubro, Wilder Morais, do Partido Liberal, acredita na vitória. “Hoje sabemos que o Brasil está indo para frente”, defende ele, que assumiu a linha de frente da campanha do segundo turno de Bolsonaro. “Ele merece mais quatro anos. O País caminha para ser um dos principais do mundo. Estamos acima da China. Estamos gerando emprego”, comemora.
Um dos empresários mais reconhecidos do Estado, Wilder já foi senador e volta ano que vem como um aliado de Jair Bolsonaro. “As estatais nunca ganharam tanto dinheiro. E tudo isso reflete no crescimento do presidente em alguns estados, como Goiás, em São Paulo e no Sul [do País]”, reflete Morais.
Ainda no domingo dia 30 de outubro, o brasileiro vai demonstrar o exercício da democracia – do voto – e aguardar, ansiosamente, pela contagem de votos pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), autoridade que dividiu o protagonismo das campanhas ao determinar ações que colocassem em curso a lisura do processo eleitoral, cujos questionamentos foram tratados por vezes indiferentemente pelo presidente Alexandre de Morais.
Como nada é adiável, os trinta dias a mais de campanha aos dois que passaram pela peneira do primeiro turno, a decisão está nas mãos do brasileiro que ouvi, leu e teve alguma compreensão sobre o que ele entende como essencial para a governabilidade.