Bolsonaro é derrotado, mas bolsonarismo seguirá
“As pessoas que se viram representadas na fala dele, vão continuar existindo”, explica cientista político em entrevista ao O HOJE
O presidente Jair Bolsonaro (PL) foi derrotado nas urnas no domingo (30). Engana-se, contudo, quem acredita que o movimento chamado de bolsonarismo ou bolsonarista termina com o mandato do atual chefe do Poder Executivo federal.
“Bolsonarismo é maior que Bolsonaro. Eu já digo isso desde 2018 e, para mim, está evidenciado”, afirma o professor e cientista político Marcos Marinho. “O Bolsonaro foi o vocalizador do bolsonarismo que já existia. Sempre existiu esse lado mais radical, mais refratário, conservador.”
Segundo ele, Bolsonaro dá espaço de fala a essas pessoas, “mesmo as mais violentas”. “As pessoas que se viram representadas na fala dele, vão continuar existindo.” Inclusive, ele pensa que, mesmo derrotado, estas pessoas podem se ver motivadas a continuar o ativismo. “Expandir a beligerância no sentido de ‘vamos retomar o poder’.”
Marinho ainda vê a possibilidade de união para levar a adiante os projetos de poder. “A depender de como o governo Lula e as instituições forem lidar com isso, teremos células crescendo em perspectiva reacionária e agressiva.”
Contudo, argumenta que haverá uma redução do quantitativo de votantes de Bolsonaro, aqueles que são anti-PT e anti-Lula, “mas o núcleo duro dele, os cerca de 30%, vão se manter e trabalharão para uma retomada de poder nas eleições de 2026”.
Governabilidade
Em relação a governabilidade, Marinho vê poucos problemas. “O grosso do Congresso é centrão, e com o centrão se negocia, se adapta. Pode haver dificuldade de governabilidade, pode haver, porque a bancada bolsonarista é grande, mas não a maioria.” Segundo ele, existe uma “pseudo-maioria” que suporta Bolsonaro, mas esta é fisiológica, e Lula saberá como lidar.
Em números secos, sem contar articulações e negociações futuras, a Câmara Federal recebeu 99 deputados da bancada do PL, partido do centrão que abrigou Bolsonaro. Já a federação PT, PCdoB e PV ficou em segundo lugar, com 80 parlamentares. De fato, o centrão – que também União Brasil, PP e Republicanos – deve ocupar 48% da Casa.
Já o Senado teve 14 das 27 vagas deste ocupados por bolsonaristas ou mesmo aliados do presidente oriundos do centrão. Lula, oito.
Em relação a Goiás na Câmara, o Estado elegeu 17 deputados federais. Três deles são de partidos da base de Lula: Rubens Otoni e Adriana Accorsi, do PT; e Flávia Morais, do PDT – este último declarou apoio no segundo turno.
PSDB, de Lêda Borges; MDB de Célio Silveira e Marussa Boldrin; o União Brasil, de Silvye Alves e Zacharias Calil; e o PSD de Ismael Alexandrino liberaram os filiados para apoiarem quem quiser. Já o PL de Gustavo Gayer, professor Alcides, Magda Mofatto e Daniel Agrobom; o PSC de Glaustin da Fokus; o Republicanos de Jeferson Rodrigues; e o Progressista de José Nelto e Adriano do Baldy, estavam com Bolsonaro.
No Senado, Goiás elegeu um Bolsonarista raiz: o ex-senador e empresário Wilder Morais (PL). Ele superou, entre outros, o ex-governador Marconi Perillo (PSDB) e o deputado federal Delegado Waldir (União Brasil).