O dia seguinte à eleição e o silêncio de Jair Bolsonaro
Até a noite de segunda, presidente derrotado não disse uma palavra aos eleitores
Jair Messias Bolsonaro (PL) preferiu o silêncio após ter perdido a eleição para o Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por uma diferença matematicamente pequena para uma campanha deste porte. Por pouco mais de 2 milhões de votos, Jair terá de deixar o Palácio da Alvorada, onde o atual mandatário passou as horas seguintes à derrota.
Ao mesmo tempo, alguns aliados, como o governador eleito Tarcísio de Freitas (Republicanos) reconheceu a vitória do petista, num aceno à paz que há meses colocou em êxtase os ânimos dos de verde-e-amarelo e os de vermelho – cores da campanha de Bolsonaro e Lula, respectivamente.
Até a noite desta segunda-feira (31), poucos nomes do núcleo duro de Jair Bolsonaro haviam se manifestado. O senador e filho do presidente, Flávio Bolsonaro (PL-RJ), usou o twitter, quando agradeceu pela ajuda, oração, reza e para quem “foi para as ruas, deu seu suor pelo país que está dando certo”. Também lembrou que o pai recebeu “a maior votação de sua vida”. Num tom que se diferencia do que é costumeiro nos bolsonaros pediu: “Vamos erguer a cabeça e não vamos desistir do nosso Brasil! Deus no comando”.
Antes, a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, usou as redes sociais. A intenção não foi para comemorar o resultado do pleito, mas especificamente para desmentir a informação de que teria se separado do marido, especulação que surgiu depois que o perfil dela deixou de seguir a do marido, Jair Bolsonaro.
Enquanto o silêncio de Bolsonaro e a indiferença às tentativas de conversa com o corpo ministerial e aliados, milhares de caminhoneiros cruzaram os braços e fecharam rodovias em diversos estados brasileiros, em protesto ao resultado que deu ao petista um terceiro mandato. Além do feito, o pioneirismo na derrota de um presidente à reeleição causou contestação assim que Lula ultrapassou o candidato do Partido Liberal pouco mais de uma horas após o início da contagem dos votos. Nas redes e em lugares em que eleitores de Bolsonaro se juntaram, o coro era o mesmo que vinha sendo ensaiado pelo grupo: de que o sistema eleitoral fora fraudado.
O Ministério Público teve de intervir para evitar que o motim de caminhoneiros contra o resultado – já aprovado por todas as autoridades que se manifestam – declarado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a partir dos dados colhidos nos 27 estados brasileiros e o Distrito Federal, que, concomitantemente, deram a vitória a Lula.
Imediatamente ao resultado, líderes mundiais cumprimentaram Lula da Silva por meio de redes sociais, o que se tornou ainda mais promissor durante a segunda-feira, com ligações e até visita do presidente argentino Alberto Fernández. A autoridade do país vizinho – que passa por uma das maiores crises da América Latina – foi a São Paulo e foi recebido por Lula com um amistoso abraço.
Por ligação, tanto Joe Biden como Emmanuel Macron desejam boa-sorte ao presidente eleito e parabenizaram-no pela vitória, já sinalizando negociações que, sob Bolsonaro, se tornaram impossíveis por conta da indigestão ideológica.
A expectativa, até o início da noite de segunda, era de que Jair Bolsonaro se pronunciará, reconhecendo a vitória do petista, mas sem cumprimentá-lo, como é de praxe unanimemente por parte dos derrotados. A imprensa nacional apurou, inclusive, que Bolsonaro deverá, quando deixar o cargo, se distanciar da política, embora, com a votação, já tenha se consolidado como um grande aglutinador de votos.