Ansiedade é a terceira maior causa de afastamento de trabalho no Brasil
Especialista alerta que ansiedade e estresse estão interligados, criando um ciclo prejudicial que afeta tanto o bem-estar dos trabalhadores quanto o ambiente profissional
A ansiedade já ocupa o terceiro lugar entre as causas de afastamento do trabalho no Brasil. Dados do Ministério da Previdência Social revelam que, entre outubro de 2023 e setembro de 2024, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) concedeu 128.905 auxílios por incapacidade, antigo auxílio-doença, para casos de “outros transtornos ansiosos”, que incluem ansiedade generalizada e transtorno de pânico. Esses números refletem a crescente preocupação com a saúde mental no ambiente profissional e apontam para o impacto das condições emocionais na rotina de trabalho.
De acordo com a psicóloga Denise Milk, ansiedade e estresse estão fortemente conectados e podem se retroalimentar. “Quando estamos ansiosos, o corpo entra em alerta, liberando hormônios do estresse, como o cortisol. Se não houver um controle dessa ansiedade, ela pode desencadear uma resposta ao estresse, criando um ciclo vicioso onde ambos os estados se retroalimentam”, explica. Essa interação constante entre ansiedade e estresse pode dificultar o bem-estar e a produtividade dos profissionais.
O impacto do “estresse contagioso” no ambiente corporativo
Denise destaca que o estresse pode ser “contagioso” e se espalhar no ambiente de trabalho. “O estresse é ‘contagioso’ porque envolve reações individuais, ambientais e sociais. Quando estamos perto de alguém estressado, o cérebro humano, por meio dos neurônios-espelho, pode ‘absorver’ essa tensão”, comenta. Essa dinâmica contribui para um ambiente de trabalho mais tenso, onde um problema pessoal pode afetar colegas e gerar um ciclo de desgaste coletivo.
Embora o brasileiro seja conhecido por sua alegria e descontração, Denise observa que o contexto social e econômico do país cria obstáculos diários que elevam o estresse. “A alegria muitas vezes pode ser uma válvula de escape, mas não elimina os fatores estressores, como violência urbana, pressão no trabalho e instabilidade econômica”, reflete. Esses fatores complexos agravam a experiência de ansiedade e dificultam a construção de ambientes de trabalho saudáveis.
Para enfrentar esses desafios, a psicóloga recomenda a adoção de estratégias práticas e o autoconhecimento. “O controle do estresse passa por técnicas de respiração, mindfulness, atividade física, sono de qualidade e uma boa gestão do tempo. A psicoterapia também pode ajudar a identificar as causas do estresse e desenvolver estratégias personalizadas para lidar com ele”, sugere Denise. Essas ações não apenas auxiliam no enfrentamento do estresse e da ansiedade, mas também contribuem para o equilíbrio emocional e o desempenho no trabalho.
O que é a Ansiedade e como controlar?
A ansiedade é um sentimento natural e está relacionada, por exemplo, com um prazo apertado ou uma tarefa urgente no trabalho. Já os transtornos de ansiedade acometem pessoas que, geralmente, se preocupam intensamente e não conseguem lidar com essa autocobrança, a ponto de comprometer sua qualidade de vida e seu bem-estar.
Os transtornos ansiosos são uma reação emocional de uma ameaça do futuro. Incerteza e imprevisibilidade são seus principais gatilhos. O primeiro sinal é o sentimento de ansiedade em relação ao que irá ou poderá acontecer, acompanhado de pessimismo. Isso provoca no corpo e no cérebro humano uma sensação de perigo, urgência, medo e insegurança. Consequentemente, o organismo reage com uma “luta” ou “fuga”.
Antes de tudo, para tentar controlar a ansiedade é preciso dar atenção à saúde geral: com boa alimentação, exercícios físicos, hábitos de higiene, consultas e exames regulares, boas noites de sono, vida social ativa e práticas de autocuidado e bem-estar. Esses são básicos para cuidado com o corpo e a mente, e colaboram para prevenir ou amenizar os transtornos de ansiedade.
De maneira geral, o tratamento dos transtornos ansiosos leves (baixo impacto na vida da pessoa) engloba:
- terapias cognitivo-comportamentais, como: técnicas de resolução de conflitos, mindfulness, meditação, psicologia positiva e terapia psicodinâmica;
- psicoterapia e psicanálise;
- prática de atividades físicas, pois liberam substâncias positivas (como a serotonina) que ajudam na regulação do organismo e causam prazer e relaxamento;
- alimentação balanceada, pois ajuda a suportar o estresse e a se recuperar mais facilmente de algumas doenças.
Quando a situação é um pouco mais grave e a pessoa já desenvolveu pânico, por exemplo, utilizam-se medicamentos antidepressivos. Geralmente, eles têm impacto positivo no tratamento da ansiedade. Ainda, são mantidos os atendimentos com psicoterapia e psicanálise.
Independentemente de possuir ou não ansiedade, ou do nível da doença, a psicoterapia é indicada, pois serve para as pessoas se conhecerem mais e aprenderem a lidar melhor com suas emoções.
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