Policiais civis citados por delator do PCC executado seguem na ativa
Policiais civis investigados após delação premiada de empresário assassinado seguem em funções regulares
A morte de Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, 38, empresário executado com tiros de fuzil no Aeroporto Internacional de Guarulhos, levanta questionamentos sobre suposta corrupção na polícia. O crime ocorreu em 8 de novembro e expôs a situação dos policiais civis citados na delação premiada de Gritzbach. Os nomes mencionados pelo empresário ainda permanecem ativos na Polícia Civil, enquanto a Corregedoria da instituição e o Ministério Público de São Paulo (MPSP) conduzem as investigações.
A delação de Gritzbach apontou policiais de quatro delegacias da Polícia Civil paulista. Ele mencionou atividades ilícitas e detalhou um esquema de lavagem de dinheiro vinculado ao Primeiro Comando da Capital (PCC). Segundo o secretário-adjunto da Segurança Pública, Osvaldo Nico Gonçalves, o Ministério Público ainda não apresentou evidências suficientes que justifiquem o afastamento dos envolvidos.
Osvaldo Nico, coordenador da força-tarefa que investiga o assassinato, afirma aguardar um posicionamento formal da Corregedoria da Polícia Civil. “O afastamento só ocorrerá com base em provas concretas”, declara. O secretário-adjunto também mencionou que a Polícia Militar afastou oito agentes que supostamente prestavam serviços de segurança ao empresário assassinado, em função de descumprimento de regulamentações internas da corporação.
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Ao destacar a diferença nas normas entre as polícias Civil e Militar, Osvaldo Nico explica que o afastamento dos PMs foi facilitado pelo regulamento específico da instituição. “Na PM, é mais simples afastar um policial. No caso da Polícia Civil, é preciso um processo administrativo, que está em andamento”, esclarece.
No acordo de delação, assinado em março de 2023, o empresário aceitou cooperar com o MPSP para reduzir sua pena em processos por organização criminosa e lavagem de dinheiro. O juiz Leonardo Valente Barreiros, da 1ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Dinheiro da capital, homologou o acordo em abril. Em troca, Gritzbach se comprometeu a pagar uma multa de R$ 15 milhões e forneceu informações sobre o esquema de lavagem de dinheiro do PCC.
O termo de cooperação incluiu dados sobre transações ilícitas envolvendo Anselmo Santa Fausta, conhecido como “Cara Preta”, e Cláudio Marcos de Almeida, o “Django”, ambos já falecidos. Silvio Luiz Ferreira, o “Cebola”, outro membro do PCC, também foi mencionado. Além dos criminosos, o empresário entregou supostos atos de corrupção envolvendo delegados do Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) e do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), além de policiais de delegacias na zona leste da cidade.
Entre os citados na delação, Gritzbach afirmou ter gravações de áudio que comprovam ilícitos atribuídos a delegados e seus subordinados. Um dos delegados mencionados é Fabio Baena, que atuou na investigação dos assassinatos de Anselmo Santa Fausta e Antônio Corona Neto, o “Sem Sangue”, em 2021. O empresário havia sido denunciado por participação nesses crimes, mas negava as acusações.
A execução de Gritzbach ocorreu enquanto ele desembarcava de um voo vindo de Maceió, acompanhado de sua namorada. Ele foi alvejado por 29 tiros disparados por homens encapuzados que desceram de um veículo na área de embarque e desembarque do aeroporto. O motorista de aplicativo Celso Araújo Sampaio de Novais também morreu no ataque.
Na ocasião, quatro policiais militares estavam encarregados de escoltar o empresário. Eles alegaram que, momentos antes do ataque, pararam em um posto de gasolina para lanchar. Ao retornarem para o aeroporto, encontraram dificuldades mecânicas em um dos veículos. Apenas um dos PMs chegou ao local do crime, acompanhado do filho de Gritzbach.
O defensor de um dos policiais afastados afirmou que seu cliente não percebeu movimentações suspeitas ao desembarcar do voo. “Queremos apenas esclarecer os fatos e identificar os verdadeiros culpados”, disse o advogado Guilherme Flauzino.
O secretário-adjunto Nico Gonçalves explicou que o afastamento dos policiais civis dependerá das provas reunidas pela Corregedoria. “A Corregedoria não nos enviou o pedido de afastamento até o momento. Precisamos aguardar evidências concretas que fundamentem tal ação”, afirmou. Ele também destacou que, na PM, o afastamento ocorre mais rapidamente, enquanto na Polícia Civil é necessário um processo administrativo.
De acordo com a SSP, os policiais militares afastados foram convocados pela corregedoria da corporação para prestar esclarecimentos sobre o envolvimento na escolta de Gritzbach no dia de sua execução. Os celulares dos policiais foram apreendidos e estão sob análise pericial.
A morte de Cara Preta, figura de destaque no PCC e suspeito de movimentar valores superiores a R$ 200 milhões, é atribuída por investigadores a Gritzbach. A disputa teria surgido após uma cobrança relacionada a investimentos em bitcoins, que levou ao desentendimento entre os dois. Gritzbach relatou que conheceu Cara Preta e Django como bicheiros e agentes de atletas de futebol, antes de formalizar o acordo de delação premiada em 2022.
O MPSP e a Polícia Federal (PF) investigam possíveis mandantes e executores do assassinato de Gritzbach. Os depoimentos fornecidos pelo empresário permanecem sob sigilo judicial.
No entanto, a SSP informa que as apurações seguem e ainda não há previsão para o término da investigação.